“ISSO NÃO É OK”

A crítica de Ian Anderson (Jethro Tull) aos “rudes” fãs brasileiros

Lenda do rock progressivo não gosta de reações efusivas durante os shows, como “assobiar” e “gritar os nomes das músicas que querem ouvir”

Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 10/02/2025, às 10h26
Ian Anderson, líder do Jethro Tull, em 2017 - Foto: Frank Hoensch / Redferns
Ian Anderson, líder do Jethro Tull, em 2017 - Foto: Frank Hoensch / Redferns

Muitos artistas de outros países costumam tecer elogios ao público brasileiro, inclusive em entrevistas para o exterior. Não é o caso de Ian Anderson, líder do Jethro Tull e ícone do rock progressivo.

O vocalista e multi-instrumentista, notório pelo uso da flauta, disse em entrevista ao Classic Album Review (via Blabbermouth / site Igor Miranda) que não gosta de como a plateia do Brasil reage diante dos músicos em show. O britânico de 77 anos revelou incômodo com fãs que assobiam e gritam durante as performances, embora reconheça que este ponto represente a cultura de cada local.

O assunto surgiu após o entrevistador perguntar a inspiração da letra de “Puppet and the Puppet Master” (“a marionete e o mestre”), música do próximo álbum do Jethro Tull, Curious Ruminant, que sai no próximo dia 7 de março. Ian afirmou, inicialmente:

“Quero me livrar da sensação de que estou de alguma forma tendo que cumprir os desejos e as demandas de outras pessoas. E quanto mais exigente o público é, menos eu gosto disso, porque há ocasiões em que às vezes você obtém um público volátil devido às tendências culturais em lugares específicos.”

Em seguida, é feita a menção direta ao Brasil. Ele disse:

“Eu poderia citar o Brasil, por exemplo, onde o público acha que é ok assobiar, gritar, vaiar e gritar os nomes das músicas que eles querem ouvir. Eu acho isso incrivelmente rude, realmente não gosto disso. Não acontece isso em todo show que eu toco no Brasil, mas me deparei com isso algumas vezes no ano passado quando eu estava em turnê no Brasil. E é assim que eles são.”

Porém, na visão de Anderson, não se trata de um comportamento isolado do público brasileiro. Segundo ele, outros países — como os Estados Unidos — contam com fãs do tipo.

“Você encontrará isso às vezes nos Estados Unidos, onde as pessoas acham que é ok gritar e assobiar. Isso não é ok. Estou tentando me concentrar em tocar, às vezes, músicas bem difíceis, e não gosto de ter essa interferência. Gosto de ter flexibilidade para poder fazer isso. Se o público tentar de alguma forma te manipular ou influenciar sua maneira de tocar, isso não é bom. Para mim, é suficiente, no final de uma música, ver sorrisos nos rostos e alguém aplaudindo na hora certa. Isso significa tudo para mim. Não quero ser interrompido enquanto estou tocando.”

Ainda durante a entrevista, Ian Anderson deixou claro que não estava se queixando disso. Apenas fez uma constatação e refletiu sobre o tema em uma de suas composições.

“Isso pode se aplicar a um bailarino, a um cantor de ópera ou a um ator no meio de uma peça dramática de Shakespeare. Acontece com todos nós. Estamos controlando, e ainda assim de uma forma engraçada também estamos sendo controlados. E de uma forma meio sadomasoquista, alguns de nós podemos gostar disso. Artistas podem gostar dessa sensação de ter que trabalhar dentro das expectativas de um público e querem satisfazê-lo. Ficam um pouco irritados se o público não estiver pulando, acenando com as mãos no ar, tirando selfies e fazendo o que for. Provavelmente sentem que estão sendo ignorados.”

Ian Anderson reconhece que opinião é impopular

Por fim, Ian Anderson declarou que aprecia “um silêncio respeitoso e relativo até chegar ao final de uma música – só aí é hora de aplaudir”. E reconheceu: sua opinião é um tanto impopular.

“Algumas pessoas podem achar isso difícil de entender, talvez não gostem disso, mas é assim que sempre fui. E do jeito que eu sou, nas raras ocasiões em que vou a um show, não vou começar a assobiar, gritar e pedir músicas que eu quero ouvir. Ou vaiar. Qual é o sentido de fazer isso? Você pode muito bem sair do local e ir para o pub mais cedo.”

O Jethro Tull esteve no Brasil pela última vez em abril de 2024. A banda se apresentou em Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e São Paulo. Durante os shows, o uso de celulares não foi permitido, somente no bis.

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