“REFERÊNCIA”

A curiosa forma como o Metallica levantou o debate da saúde mental

Lars Ulrich compartilhou reflexões a respeito de uma ousada decisão envolvendo um dos períodos mais turbulentos da carreira da banda

Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 14/03/2025, às 11h08
Lars Ulrich, James Hetfield e Kirk Hammett, do Metallica, em 2003 - Foto: Mick Hutson / Redferns
Lars Ulrich, James Hetfield e Kirk Hammett, do Metallica, em 2003 - Foto: Mick Hutson / Redferns

A trajetória do Metallica ficou marcada por uma série de obstáculos superados. Da morte de um integrante — o baixista Cliff Burton, em 1986 — aos demônios internos que alguns de seus músicos precisaram enfrentar, o grupo precisou superar os desafios impostos pelo destino.

Numa dessas situações, a banda levou a sério o ditado “se a vida te der limões, faça uma limonada”. Aconteceu no início do século, quando sua gravadora, Elektra, decidiu produzir um documentário a respeito do que se tornaria um novo álbum.

Era um dos períodos mais turbulentos da trajetória do grupo de thrash metal. Eles enfrentavam críticas por terem se posicionado contra o programa de compartilhamento de arquivos Napster, perderam o baixista Jason Newsted e viram seu frontman, James Hetfield, entrar em uma clínica de reabilitação para tratar vício em álcool e drogas. Nasceu, daí, o disco que se tornaria o mais criticado da carreira: St. Anger (2003).

Tudo isso foi filmado e lançado no documentário Some Kind of Monster (2004), que também retrata a opção do grupo em trazer um terapeuta, Phil Towle, para mediar e solucionar os conflitos — uma das situações que levou à saída de Newsted. Assim como o álbum, o longa-metragem também foi questionado, neste caso por mostrar em excesso uma série de problemas internos.

Mais de 20 anos depois, Lars Ulrich não demonstra arrependimento. Pelo contrário: o baterista e um dos líderes da banda tem orgulho do legado estabelecido pela obra.

Em entrevista durante o evento americano SXSW (via Blabbermouth), Ulrich conta que “tudo desabou” quando os cineastas Joe Berlinger e Bruce Sinofsky chegaram para gravar o documentário. A intenção original não era registrar aquela quantidade de conflitos — simplesmente aconteceu daquele jeito.

“Eles filmaram toda a m#rda maluca que aconteceu. A gravadora, que na época pagava pelas filmagens, disse: ‘Epsere aí, o que é isso’. Falamos para os cineastas: ‘Confiamos em vocês. Se ainda temos aqui o filme aqui que vocês ainda imaginam, por que não compramos os direitos do filme da gravadora?’. Então, sem desrespeito à gravadora, mas nós os tiramos e assumimos o controle para dar aos cineastas, que transformaram isso em Some Kind of Monster.”
Metallica em 2003 (E-D): Robert Trujillo, Lars Ulrich, Kirk Hammett e James Hetfield
Metallica em 2003 (E-D): Robert Trujillo, Lars Ulrich, Kirk Hammett e James Hetfield - Foto: Kevin Winter / Getty Images

A confiança do Metallica — e o legado do filme

Pode não parecer, mas o Metallica estava muito confiante em relação a Some Kind of Monster. Os músicos sabiam o que estavam lançando para o público. Lars Ulrich pontua:

“Estávamos prontos para isso. Sabíamos exatamente como isso iria acontecer. Era tudo sobre confiança, confiar nos cineastas. Meio que tivemos que sentar lá e dizer: ‘P#ta m#rda, isso é muito acesso e muita transparência’. Mas fomos atrás do desafio.”

Ainda segundo o baterista, a reação inicial a Some Kind of Monster foi dividida. Muitos fãs de música e jornalistas especializados sentiram que eles estavam se expondo demais. Porém, o universo do cinema gostou do que viu. E a obra construiu um curioso legado.

“Na comunidade cinematográfica, foi recebido muito positivamente e recebeu críticas brilhantes. Enquanto filme, havia um arco dramático. Documentários nem sempre têm arcos dramáticos, mas esse filme tinha essa coisa orgânica que se desenrolou. E meio que se tornou uma referência na comunidade de saúde mental, para muitos psicólogos, abordagens psiquiátricas, no espírito de construção de equipe, para ver como as equipes meio que trabalham sob pressões, sob pressões criativas e assim por diante.”

Por fim, de acordo com Ulrich, o público da música passou a apreciar Some Kind of Monster com o passar dos anos. Em suas palavras, foi convincente oferecer “esse tipo de acesso sem precedentes na época ao funcionamento interno de uma banda e aos processos criativos”.

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