Lendária banda punk de Nova York não conquistou sucesso comercial, mas construiu legado imensurável no rock
Publicado em 09/09/2023, às 11h00
Os Ramones são um exemplo perfeito de que nem sempre uma banda importante acaba vendendo milhões de discos. Ainda que tenha sido extremamente influente e relevante no desenvolvimento do punk rock, o grupo formado inicialmente por Joey, Johnny, Dee Dee e Tommy Ramone conquistou apenas um disco de ouro nos Estados Unidos (pelo álbum de estreia de 1976) e outros dois no Brasil e na Argentina (ambos por Mondo Bizarro, de 1992) - e era praticamente só por aqui, na América do Sul, que seus shows eram realizados em grandes arenas.
Contudo, a importância deles foi tão grande que sua obra seguirá sendo debatida pelas próximas décadas. Especialmente quando artistas e bandas de sucesso relembrarem como este modesto grupo de Nova York os inspirou.
É o caso do Metallica, que nunca deixou de fazer reverência aos Ramones. A ocasião mais recente se deu durante uma entrevista do guitarrista Kirk Hammett ao canal de Rick Beato no YouTube (transcrição via Ultimate Guitar). Na ocasião, ele refletiu sobre como especificamente Johnny Ramone, seu colega de instrumento na banda punk, serviu de inspiração para ele e seus colegas de thrash metal.
Inicialmente, Hammett comentou que a grande influência dos Ramones na sonoridade do Metallica veio a partir do uso do chamado “downpicking”, técnica na guitarra que pode ser traduzida grosseiramente como “palhetada para baixo”. O próprio nome diz: é o ato de tocar as cordas usando apenas movimentos para baixo, em vez de alternar com movimentos para cima. Isso ajuda a criar uma atmosfera pesada, já que o foco estará nas cordas mais graves, além de permitir uma agilidade maior.
“Faço isso [downpicking] desde criança e é tudo por causa dos Ramones e dos Sex Pistols…”
Em seguida, Kirk revelou que mantinha uma amizade com o saudoso Johnny, falecido em 2004. O integrante do Metallica descrevia o colega de Ramones como alguém “muito engraçado” e “um personagem muito maluco e divisivo, que ia contra os outros só por diversão”.
“Ele costumava me dizer: ‘Kirk, a única boa banda de heavy metal que existe é o Black Sabbath’. Como você quiser, Johnny. Ele dizia: ‘todos esses outros guitarristas são uma porcaria, o melhor guitarrista que existe é Jimmy Page’.”
Ainda durante a entrevista, Kirk Hammett contou que sempre deixava Johnny Ramone falar os maiores absurdos. Justamente porque, logo depois, ele costumava lembrar o ídolo de como ele era influente.
“Eu deixava ele ter suas opiniões e dizia: ‘John, você tem sido uma grande influência para mim’. Eu falava isso o tempo todo. E ele: ‘como posso ser uma influência para você?’. Como posso ser uma influência para você? Eu disse: ‘seu estilo de palhetada [downpicking], influenciou tanta gente…’ Perguntei como ele desenvolveu isso e ele disse que aquela era a única forma como ele conseguia marcar o tempo. E ele criou todo um estilo musical dessa forma.”
Parceiro de Kirk Hammett no Metallica, o vocalista e também guitarrista James Hetfield é outro a destacar constantemente a influência dos Ramones. Em entrevista de 2017 ao Newsweek (via site Igor Miranda), o frontman foi convidado a apontar quais as suas maiores referências nas seis cordas. Descrevendo-se como um sujeito “percussivo”, ele afirmou:
“Gosto de tocar bateria na guitarra. Sou rítmico e, obviamente, sou um guitarrista base, então há grandes músicos que fazem base por aí: Malcolm Young (AC/DC), Rudolf Schenker (Scorpions) e eu diria Johnny Ramone (Ramones).”
Especificamente sobre Johnny, James declarou:
“Ele tem uma ótima mão direita: muita palhetada para baixo, como uma máquina. Tento soar daquela forma.”
Já em 2022, durante um vídeo promocional para a fabricante Ernie Ball, Hetfield refletiu sobre Ramone e outra grande influência: Tony Iommi, do Black Sabbath.
"Sou meio grosseiro pra tocar e sempre me interesso mais pelo riff, pela base da música. Tony Iommi é um mestre nisso: ele toca e todo mundo vai atrás dele. Havia também Johnny Ramone com seu downpicking rápido e intenso. Isso moldou meu estilo, que é uma espécie de combinação do punk rock com o heavy metal, tipo juntar a velocidade com a parte melódica.”
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.