A curiosa razão econômica que fez o emo crescer no Brasil, segundo Lucas Silveira

Vocalista e guitarrista da Fresno acredita que momento foi favorável por questões que chegavam até a política do país nos anos 2000

Igor Miranda

Publicado em 18/02/2023, às 16h41
Lucas Silveira (Foto: Stephan Solon / Divulgação)
Lucas Silveira (Foto: Stephan Solon / Divulgação)

O movimento emo viveu o seu auge no Brasil nos anos 2000. Parecia haver uma combinação perfeita de fatores para que o subgênero estourasse por aqui: bandas dispostas a abraçar tal sonoridade, gravadoras empolgadas o suficiente para investir, veículos de mídia interessados em dar espaço… mas ainda há algo alheio ao cenário musical que pode ter oferecido um “empurrão”.

Em entrevista ao Uol Splash, no ano de 2021, o vocalista e guitarrista da Fresno, Lucas Silveira, apontou que o crescimento do movimento emo no Brasil se deu em função do bom momento econômico vivenciado pelo país no período. O músico chegou a essa conclusão após refletir em torno de um comentário feito por um internauta.

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O fã declarou: “o emo havia sido o último grande movimento em que os jovens estavam preocupados com o que se passava dentro do coração e não em ter comida no prato”. Dessa forma, Lucas chegou à seguinte conclusão.

“Estávamos vivendo um momento macroeconômico aqui no Brasil [...] e o jovem começou a se preocupar com questões de relacionamentos. Com essa derrocada, hoje vemos os jovens desesperados com as contas que não conseguem pagar.”

Para corroborar com o ponto destacado por Silveira, a reportagem do Uol destacou que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil na década de 2000 crescia a um ritmo de 3,39% por ano. Nos anos seguintes, a tendência foi de desaceleração.

O emo e a revolução no rock

Também na visão de Lucas Silveira, o movimento emo proporcionou uma “revolução dentro do rock” no que diz respeito a comportamento. O frontman da Fresno apontou que o jovem passou a optar naturalmente por artistas menos conhecidos, pois as músicas que tocavam nas rádios e TVs tradicionais naquele período não geravam conexão com essa fatia do público.

“A molecada não se identificava mais com o que ouvia no rádio e via na televisão, por isso foi buscar na internet bandas pequenas, de garagem, que faziam letras com as quais se identificavam. A coisa ficou grande e o movimento recebeu atenção não porque os diretores queriam, mas sim porque eles precisaram ceder.”

MTV Brasil e o “fator Restart”

Um ponto de vista complementar à observação feita por Lucas Silveira a respeito da mídia foi oferecido por Zico Goes, ex-vice-presidente de programação e conteúdo da MTV Brasil, em uma palestra de 2014. O executivo apontou que a emissora, uma das grandes divulgadoras do emo, deu espaço demais para o Restart, banda associada ao movimento - ainda que na vertente apelidada de “happy rock” -, o que descaracterizou o veículo de comunicação.

“Era uma boy band, nada de mal nisso, mas não tem a ver com música e sim com comportamento. A audiência do ‘Disk MTV’, nosso programa mais pop, era 80% feminina. Já dos outros eram masculina. Havia então a piada interna: ‘os meninos gostam de música, as meninas gostam de músico’.”

Em seguida, ele completou:

“Essa banda teve tanto marketing que tomou conta da MTV no todo, por toda a programação, não só nos programas como também nos comerciais. O Restart aparecia toda hora, então a MTV passou a ser percebida como um canal muito adolescente. Não é bom ser canal adolescente para o mercado publicitário, pois adolescente não consome tanto quanto alguém um pouco mais velho.”