Houve controvérsia interna quanto à origem real da música, com integrantes que teriam demorado anos para acreditar na autoria
Publicado em 27/10/2024, às 08h00
Um dos nomes que mais venderam discos na história do Reino Unido, o Oasis deu início a uma nova era no rock inglês durante a década de 1990. A indústria musical se rendeu ao movimento Cool Britannia, que marcou o período.
Tudo isso começou a partir do momento em que Noel Gallagher compôs “Live Forever”. A música é o grande hit de Definitely Maybe (1994), primeiro álbum da banda, e seu single atingiu certificação de platina tripla na terra natal dos músicos.
A gênese da canção foi um tópico do documentário sobre a banda chamado Supersonic, que saiu em 2016. Em uma cena, Noel conta sobre a composição da faixa (via Louder):
O Oasis estava na ativa havia uns seis meses ou um ano naquele ponto, e eu estava criando músicas mais para me divertir. Uma noite, eu bolei uma canção e tudo mudou.”
Ao documentário Live Forever (2003), Noel Gallagher foi mais a fundo no processo. A ideia para a faixa nasceu enquanto praticava uma sequência de acordes ao som de “Shine a Light”, dos Rolling Stones. Ao chegar no refrão, o músico percebeu como a melodia do verso “May the good Lord shine a light on you” encaixava bem no que estava tocando.
A partir dessa frase melódica, o guitarrista pensou no começo da letra de “Live Forever” [“Maybe I don’t really wanna know”], com o resto vindo pouco tempo depois. Noel apresentou a canção completa aos outros integrantes durante um ensaio em 1993. A reação da banda foi incrédula.
O líder do Oasis contou em Supersonic:
Bonehead [Paul Arthurs, guitarrista do Oasis] disse: ‘você não compôs isso, p#rra, não tem jeito dessa música ser sua’.”
No mesmo documentário, Arthurs ofereceu seu lado da história. Além de explicar o contexto, o músico sua desconfiança inicial quanto à autoria:
Eu não acreditava que alguém fosse capaz de entrar numa sala dizendo: ‘deixa eu te tocar uma das minhas canções’ e ser ‘Live Forever’. É tipo: ‘vai se ferrar, você não compôs isso’. Ele falou: ‘por que não?’ E eu respondi: ‘porque escuta a música!’. Eu pensei na hora: ‘uau, que música’.”
Noel brinca que Bonehead ficou à procura de canções obscuras das décadas de 1960 e 1970 para encontrar a origem real de “Live Forever”. No fim das contas, precisou dar o braço a torcer: a criação era mesmo dele.
Muitas viam a letra de “Live Forever” como uma homenagem de NoelGallagher à sua mãe, Peggy, e à resiliência de sua família mesmo perante dificuldades. Todavia, a inspiração foi uma tentativa de responder ao pessimismo do grunge, em especial ao Nirvana e à visão de mundo de Kurt Cobain.
Em entrevista de 2013 (via Far Out Magazine), Noel explicou seu raciocínio. O compositor destacou principalmente uma música do Nirvana chamada “I Hate Myself and Want to Die” como algo que não entendia.
Naquela época era o meio do grunge e coisa assim. Eu lembro que o Nirvana tinha essa canção chamada ‘I Hate Myself and Want to Die’, e eu reagi com: ‘bem, eu me recuso a pensar assim’. Por mais que goste dele [Kurt Cobain] e tudo, me recuso a pensar assim.”
Apesar dessa reação, Noel ao longo dos anos sempre lamentou que não teve a oportunidade de conhecer Cobain antes de sua morte. Os dois tinham amigos em comum no Reino Unido e segundo Gallagher, esses sempre lhe disseram como ambos teriam se dado bem.
Colaborou: Pedro Hollanda.
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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.