PAPO DE BAQUETA

A diferença entre Beatles e Rolling Stones na bateria, segundo Steve Jordan

Músico que ocupa vaga deixada pelo saudoso Charlie Watts nos Stones destacou gostos distintos de ambos os ícones — e como isso influenciou o som deles

Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 06/01/2025, às 09h00
Ringo Starr e Charlie Watts (Fotos: Estate of Keith Morris / Redferns e David Warner Ellis / Redferns)
Ringo Starr e Charlie Watts (Fotos: Estate of Keith Morris / Redferns e David Warner Ellis / Redferns)

Beatles ou Rolling Stones? A clássica pergunta entre fãs de rock leva a comparações de origens distintas. Todavia, em meio a tantos pontos discutidos, pouco se discute os talentos dos bateristas: Ringo Starr e Charlie Watts, respectivamente.

Steve Jordan, que ocupa a vaga deixada pelo falecido Watts nos Stones, surpreendeu ao trazer esse debate à mesa em entrevista à Rolling Stone EUA (via site Igor Miranda). O baterista destacou as diferenças entre ambos os músicos, enfatizando, por exemplo, a paixão de Charlie por tipos de música que Ringo parecia não ter.

De início, ao ser perguntado sobre o que tornava Charlie tão único enquanto baterista, Steve respondeu:

“Charlie amava jazz e blues. Se seu baterista favorito é Chico Hamilton e você ama Fred Below, Max Roach, Earl Palmer, Shelley Manne, Mel Lewis, Elvin Jones, Papa Jo Jones, Philly Joe Jones, Chick Webb, Al Jackson e Roger Hawkins, você tem uma educação e um amor pela boa bateria de jazz, de R&B, de Chicago blues, especialmente por Fred Below, Earl Phillips. Charlie era fã dessa forma de tocar e trouxe esse estilo para essa banda.”
Charlie Watts (Foto: David Warner Ellis / Redferns)
Charlie Watts (Foto: David Warner Ellis / Redferns)

Na visão de Jordan, apresentar uma pegada jazz/blues no que diz respeito ao groove foi algo que “nenhuma outra banda da invasão britânica fez”, fora os Rolling Stones. Em sua visão, os Beatles apostaram em influências diferentes.

“Claro, Ringo trouxe muito swing e é por isso que adoro a maneira como ele toca. Todas essas músicas têm swing. Mas os Beatles não tocavam muito blues, era mais R&B. Quando faziam covers, não eram covers de blues hardcore como os Stones, eram mais hits de R&B e pop. É por isso que eles tocavam [artistas da gravadora] Motown, Little Richard, Chuck Berry. Quando eles tocaram ‘Roll Over Beethoven’, foi uma versão bem pop, ao contrário de quando os Stones fizeram cover de ‘Around and Around’, que soava um pouco mais hardcore.”
Ringo Starr (Foto: Estate of Keith Morris / Redferns)
Ringo Starr (Foto: Estate of Keith Morris / Redferns)

Ringo Starr opina sobre Charlie Watts

Foram raras as ocasiões em que Ringo Starr falou sobre Charlie Watts — e vice-versa. Ainda na década de 1970, o baterista dos Beatles compartilhou (via Far Out) uma reflexão a respeito do colega de instrumento dos Rolling Stones quando, inicialmente, comentava sobre ele próprio buscar enorme discrição, ainda mais em uma função que já era marcada por receber pouca atenção.

“No começo, por causa dos compositores que são uma força muito poderosa nos Beatles — e John [Lennon] e Paul [McCartney] também como grandes cantores —, eu só tocava bateria e balançava a cabeça para não ser notado. Enquanto isso, você olha para Charlie Watts nos Stones e não há nada realmente dito. Ele é um baterista incrível, mas os bateristas tendem a não compreender a questão das composições. O baterista é a força motriz, mas quando você tem cantores e compositores desse calibre, prefere-se falar sobre as músicas e seus criadores.”

Por fim, Starr estabeleceu seu raciocínio final a respeito de Watts. Ele exaltou a capacidade do colega em oferecer exatamente aquilo que a música precisa, sem firulas.

“Ele é o único baterista que deixa [elementos desnecessários] de fora [da música] mais do que eu.”
Charlie Watts (Foto: Kevin Winter / Getty Images)
Charlie Watts (Foto: Kevin Winter / Getty Images)

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