CRÍTICA

A dura resposta de Lobão ao grito “toca Raul” em show: “morreu de fome”

Músico se incomodou com o que definiu como “interrupção abrupta” de sua apresentação e destacou que Raul Seixas não recebeu reconhecimento em vida

Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 07/04/2025, às 10h46
Lobão em 2025 - Foto: reprodução / YouTube
Lobão em 2025 - Foto: reprodução / YouTube

Fãs de música sabem que gritos de “toca Raul”, em referência a Raul Seixas, costumam incomodar os músicos. Mesmo assim, alguns insistem. E um deles recebeu resposta de Lobão.

O cantor apresentava seu espetáculo “Luau Indoor” no Teatro Lauro Gomes, em São Bernardo do Campo (SP), no último dia 27 de março, quando ouviu o famigerado “toca Raul” entre duas canções. Irritado, o artista declarou (via Estadão):

“Aí não, cara. Eu detesto gente... eu acho assim até uma coisa anti-rock’n’roll... vocês sabem qual é o subtexto para quem está no palco? ‘Olha, teu show tá uma merda, toca alguma coisa que seja mais interessante do que você está tocando’.”

Na opinião do artista de nome João Luiz Woerdenbag Filho, este tipo de manifestação é “um erro dentro da plateia do rock’n’roll brasileiro”. Ele explica o motivo:

“Primeiro porque o Raul morreu de fome, um mendigo, que na época que deveria receber o ‘Toca Raul’, ele não estava recebendo o ‘Toca Raul’. Agora é tarde.”

Embora não tenha “morrido de fome”, Seixas enfrentou problemas em sua carreira antes de falecer em 1989, aos 44 anos. O músico sofreu com o alcoolismo e mesmo quando emplacava algum hit, como “Cowboy Fora da Lei”, não conseguia sair em turnê. Em seus últimos tempos de vida, havia voltado a excursionar e a estar em evidência em uma parceria com Marcelo Nova.

Lobão explica raciocínio

Em vídeo publicado — e removido — nas redes sociais, Lobão explicou seu ponto de vista a respeito da situação. Reconhecendo estar “mais tranquilo” e “imune ao calor do palco”, o músico afirmou que o incômodo não se deu especificamente com o grito “toca Raul”, mas com a “interrupção abrupta e violenta” da apresentação, algo que afeta “qualquer artista, seja de boate, de churrascaria, de show”.

“Pensa assim: uma doceira, um cozinheiro, que prepara meticulosamente um cardápio, o bolinho, a entrada, a saída (...) e vem um cara e grita: ‘Toca isso, toca aquilo’. Se você chegar no meu show e disser: ‘Toca Vida Bandida’, eu vou dizer: ‘Calma aí, eu vou tocar. Sem ejaculação precoce’.”

Sobre o que disse de Raul, Lobão garantiu estar defendendo o ícone do rock nacional. Ele afirmou:

“Raul não tem nenhum problema. Se é o Raul, o Vinicius de Moraes, o Jimi Hendrix, o Lobão...Não me interessa. O problema é a intervenção, a interrupção. Pensa nisso! [...] Tem a falta de envolvimento com o show. Quem gosta de ouvir, quem gosta de show, não digo nem de rock, mas quem gosta de cultura em geral, tem que entender que interromper dessa forma é uma forma de dizer que você não está entendendo nada.”

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