“FEITO PARA PAGAR MICO”

A forte opinião de Lobão sobre o Rock in Rio: “cag*ndo baldes”

Músico foi vaiado durante show em 1991 e não retornou para outras edições; ele diz que organizadores não tratam artistas brasileiros com respeito

Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 20/03/2025, às 12h52
Lobão em 2025 - Foto: reprodução / YouTube
Lobão em 2025 - Foto: reprodução / YouTube

Lobão protagonizou um momento emblemático na segunda edição do Rock in Rio, em 1991. O músico estava escalado para se apresentar no chamado “dia do metal”, com Guns N’ Roses, Judas Priest, Queensrÿche, Megadeth e Sepultura. Especificamente, ele estava entre as duas últimas bandas citadas, talvez as mais pesadas da ocasião.

O artista de nome real João Luís Woerdenbag Filho foi recebido com vaias e até mesmo latinhas, jogadas no palco para demonstrar a rejeição do público headbanger. Irritado, ele xingou a plateia e abandonou a apresentação logo na segunda música.

De forma curiosa, logo em seguida os fãs de heavy metal viram a Mangueira entrar. Integrantes da bateria da escola de samba participariam ao fim do espetáculo e, mesmo com a saída do artista principal, surgiram e tocaram. Ou seja: quem reclamou de “Big Lobo” teve algo ainda mais distante do heavy metal.

Desde o episódio citado, Lobão não retornou ao Rock in Rio e raramente participou de festivais. Em entrevista a Felipe Branco Cruz para a Veja, o músico explicou o seu ponto de vista com sua típica sinceridade — para dizer o mínimo.

“Estou me cag*ndo para isso. Acho até um insulto ser cogitado para participar desse festival. Quando um fã desavisado diz que sente falta de um show meu no Rock in Rio, eu acho um insulto. Enquanto eles tiverem uma filosofia de não apoiar as bandas brasileiras, eu me recuso.”

Em seu relato, Lobão aponta um “desrespeito” por parte da organização. Segundo ele, seu palco foi mudado faltando 24 horas para a apresentação, o que contradizia até mesmo um contrato onde prometia-se 40 metros de boca de cena e 20 metros de profundidade.

“Eu sabia que teria animosidade e restringiram meu espaço no palco. Começaram a tacar coisas no palco e eu saí. Me disseram que se eu não quisesse fazer o show seria até melhor, porque o Guns N’ Roses queria entrar e eu estava atrasando. Ninguém iria acreditar em mim, porque eu era um drogado. Quando entrei no palco, me deram um capacete com uma cruz vermelha. O engraçado foi que eu havia feito aquele mesmo show um ano antes no [festival] Hollywood Rock e foi eleito pela crítica o melhor do festival. E eu concorri com Bob Dylan, Pretenders, Tears for Fears, Bon Jovi.”

O entrevistador, então, lembra que Ludmilla passou por discordância similar com os organizadores do Rock in Rio em 2024. A cantora ameaçou cancelar seu show, às vésperas, pois não permitiram que ela utilizasse sua estrutura completa. Após acordo, acabou se apresentando. Lobão reflete:

“Perceba que isso não acontece na Argentina com o Charly Garcia ou Fito Páez porque eles são patrimônios deles. Por que coisas assim acontecem por aqui? Porque o empresariado tem essa mentalidade. Até 1985, o Brasil vivia um fenômeno em que as pessoas gostavam mais do Legião Urbana do que do Joy Division. Gostavam mais do Paralamas do Sucesso do que do The Police. O Rock in Rio foi um cadafalso que a gente subiu. Aquilo acabou com a dignidade do rock brasileiro.”

Lobão “cag*ndo baldes” para o Rock in Rio

Ainda durante o bate-papo, Lobão disse que o único artista além dele “que teve coragem de peitar o Rock in Rio” foi Anitta. De acordo com ele, “ninguém fala mais nada”. E cravou:

“Não sei qual artista foi catapultado para o sucesso depois de tocar num festival como esse. É feito para você pagar mico e te tratorizarem.”

Por fim, perguntado se havia se tornado “persona non grata” no festival carioca, o músico respondeu:

“Sempre fui persona non grata e não estou nem aí. Estou cag*ndo baldes.”

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