A forte resposta de Mark Tremonti aos críticos do Creed
Banda estourou na segunda metade dos anos 1990 e vendeu número impressionante de discos, mas conviveu com diversos comentários negativos
Igor Miranda (@igormirandasite)
Publicado em 24/12/2024, às 11h20O estouro do chamado post-grunge, no fim da década de 1990, fez com que algumas bandas do segmento recebessem críticas por seus trabalhos. Alguns dos nomes mais repudiados foram justamente os de maior sucesso: Creed, Nickelback, Puddle of Mudd, Bush e afins.
A adequação comercial de uma sonoridade inicialmente alternativa foi o principal comentário negativo feito por uma parcela dos fãs de rock e críticos especializados. Uma suposta falta de originalidade também passou a ser citada por quem desgostava de tais grupos.
Nada como tempo — e números — para “inocentar” a maioria desses casos. Mesmo com uma carreira relativamente curta, o Creed conseguiu vender mais de 50 milhões de discos em todo o planeta e, em tempos recentes, reviver o interesse em torno da banda a ponto de reuni-la para shows concorridos em 2023.
O que seus integrantes, hoje mais experientes, pensam do “hate” sofrido lá no auge, na virada do século? O guitarrista Mark Tremonti refletiu sobre esse ponto em entrevista ao Ultimate Guitar (via Blabbermouth).
Inicialmente, o músico revelou tratar as reações negativas com naturalidade. Afinal de contas, nenhum artista realmente popular tem aprovação unânime.
“Depois de um tempo, você meio que percebe que se quiser estar em uma banda que se tornou tão grande quanto o Creed, haverá pessoas que irão te amar e haverá pessoas que irão te odiar. Olhe para todas as maiores bandas do mundo, especialmente os artistas pop: quem se tornar um nome conhecido terá pessoas odiando.”
Em seguida, Tremonti deu uma resposta forte — e, para quem busca popularidade, incontestável — a esse tipo de situação. Ele disse:
“Você tem que aceitar a parte boa e a ruim. Você prefere vender milhões de discos e ter pessoas te criticando, ou não vender nenhum disco e ter todo mundo te amando?”
Curiosamente, Mark acredita ter vivenciado as duas faces da moeda. Após o fim do Creed em 2004, ele montou outra banda, o Alter Bridge, com os mesmos instrumentistas além do vocalista Myles Kennedy na vaga que era de Scott Stapp. O novo projeto era aclamado pela crítica, raramente recebia comentários negativos, mas não repetia o sucesso do grupo anterior. O músico diz:
“Pude ver os dois lados disso quando começamos o Alter Bridge. Quando começamos e lançamos alguns discos, recebemos muitos elogios da crítica, mas não estávamos vendendo os milhões que o Creed estava. Mas fico feliz por ter experimentado tudo isso. Eu não estaria aqui se não fosse por aqueles primeiros dias do Creed.”
Scott Stapp, Creed e os haters da mídia
A reação negativa ao Creed já foi abordada por Scott Stapp em outra entrevista, ao Consequence. Na ocasião, o vocalista apresentou uma reflexão distinta: segundo ele, a percepção de “banda odiada” não se comprova pois é algo muito reforçado pela mídia, sem validação perante os milhões de fãs.
Inicialmente, ele demonstrou compreender as críticas de primeiro momento ao sucesso repentino do grupo. Ele disse:
“Acho que uma parte da reação inicial ao Creed foi apenas consequência de ser algo tão grande e rápido. Emplacamos oito singles consecutivos em primeiro lugar nas paradas americanas. Estávamos em todas as rádios. Não dava para fugir da gente. Mas [o ódio] foi criado por uma espécie de mídia crítica e de elite, uma espécie de ‘clube dos caras maneiros’, que gostava de bandas que não vendiam muitos discos. Então foi uma narrativa gerada por esse nicho da mídia e depois propagandeada para fazer as pessoas pensarem que aquela era a voz do povo.”
Tal narrativa, de acordo com Scott, não se comprovou. Afinal de contas, o sucesso continuou.
“Enquanto essa narrativa era divulgada, estávamos lotando vários shows de arenas, ganhando discos de diamante e chegando ao patamar de estádio. Uma vez que esse tipo de coisa chega a esse ponto, sempre terá algo desse tipo, mas que não representa o povo. E o Creed sempre foi uma banda popular. Foi isso que significou tanto para nós: os prêmios e o reconhecimento que obtivemos, que as pessoas escolheram, e que os números diziam, e que os ingressos para shows diziam. Sendo alguém que está vendo de longe, essa é minha perspectiva.”
Ainda assim, ninguém é de ferro. Os integrantes do Creed ficaram chateados com as manifestações negativas contra a banda — especialmente por eles serem apenas uma banda.
“Na época, isso nos pegou de surpresa. Não entendemos por que passamos de capas de revistas que diziam ‘Creed é o salvador do rock ‘n’ roll’ para, de repente, virar a banda mais odiada pela mídia. Não pelo público, pela mídia. Sendo tão jovem, é claro que houve alguma frustração, raiva, mágoa. Mas onde estamos agora, entendemos que isso faz parte. Isso também acontece no esporte profissional. Mark [Tremonti, guitarrista] e eu estávamos dando uma entrevista outro dia, e ele estava falando sobre como isso aconteceu com [o jogador de basquete] LeBron James. Ele era o Rei James, agora ele é odiado. É um dos jogadores mais odiados da liga, e tudo por causa de quão dominante e bem-sucedido ele é.”
No fim das contas, tantos anos depois, a aprovação do público é o que importa para o Creed. Stapp conclui:
“Tudo o que importa para nós são os fãs. Tudo o que importa é aproveitar a positividade e tentar entregar o melhor aos fãs todas as noites, focar no que é bom e simplesmente deixar todo o restante passar.”
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