MEMÓRIA

A história secreta do R.E.M.

Relembramos a história singular de uma grande banda americana, com a ajuda de Peter Ames Carlin, autor de uma nova biografia do R.E.M.

Por Brian Hiatt, da Rolling Stone

Publicado em 01/02/2025, às 12h25
R.E.M, (Foto: Paul Natkin/Getty Images)
R.E.M, (Foto: Paul Natkin/Getty Images)

Artigo publicado em 31 de janeiro de 2025 na Rolling Stone, para ler o original em inglês clique aqui.

No começo, o R.E.M. tocava em qualquer lugar que os aceitasse, de pizzarias a bares gays e festas de fraternidades. Apesar de toda a elusividade artística de sua música inicial, a banda que acabaria definindo o modelo para o boom do rock alternativo dos anos 90 era mais faminta e mais estratégica do que parecia — o que é apenas uma das muitas revelações no novo livro esclarecedor de Peter AmesCarlin, The Name of This Band Is R.E.M.: A Biography.

No novo episódio do Rolling Stone Music Now, Carlin se senta com o apresentador Brian Hiatt para analisar os muitos mitos desmantelados e fatos desenterrados do livro. Alguns destaques a seguir:

Michael Stipe e seu melhor amigo do ensino médio presumiram que se tornariam estrelas do rock. “Eles ficavam sentados no quarto dela e olhavam cópias da Rolling Stone, Creem e Circus e apostavam um com o outro quem seria entrevistado primeiro”, diz Carlin.

O pai de Stipe era um coronel da Força Aérea de aparência conservadora, mas ele aceitava completamente seu filho. Quando um Stipe adolescente saiu uma noite vestido como Rocky Horror Picture Show (1975), seu pai simplesmente disse para ele se divertir.

Stipe inicialmente odiava a cidade universitária da Geórgia que se tornaria sinônimo de R.E.M. “Ele chamou Athens de cidade hippie de vacas — ele diz, 'Eu odeio isso, eu odeio isso, eu odeio isso'”, diz Carlin.

As primeiras apresentações de Stipe foram tão magnéticas que seu primeiro show com a banda terminou em violência. “Os namorados das garotas decidiram tipo, 'bem, é melhor a gente chutar a bunda daquele cara…' e virou uma briga de rua inteira e alguém se cortou com uma garrafa”, diz Carlin.

Peter Buck gostava de dizer que não sabia tocar guitarra quando o R.E.M. foi formado, mas isso era pura criação de mitos. “Em Athens, havia algo muito legal e casual em dizer 'Nós nem sabíamos tocar nossos instrumentos até formarmos nossa banda.'” diz Carlin. “Isso significava que você estava realmente nisso pela arte e expressão. Simplesmente não era verdade.”

Buck e Stipe se uniram pela primeira vez lendo a cobertura musical do jonral Village Voice, sonhando com a cena punk de Nova Iorque enquanto ainda estavam na Geórgia. “O Village Voice era uma tábua de salvação, um passaporte para um mundo inteiro que era tipo, puta merda, isso existe”, diz Carlin.

A seção rítmica de Bill Berry e Mike Mills trouxe séria experiência musical para a banda. “Eles tocaram juntos em uma banda cover adolescente de muito sucesso na cidade de Macon quando estavam crescendo, tocando todos os sucessos de rock FM da época”, diz Carlin.

Berry pressionou a banda a deixar a faculdade e se comprometer totalmente com a música. “Ele deixou bem claro que se eles não abandonassem, ele deixaria a banda”, diz Carlin.

Seus primeiros shows revelaram um contraste gritante com outras bandas de Athens. “Os caras do Pylon ou os caras do Love Tractor estavam me dizendo que quando viram o R.E.M. pela primeira vez, a primeira sensação que tiveram foi, 'Oh, uau — esses caras podem tocar covers e você pode realmente ouvir que música é'”, diz Carlin.

Berry teve um papel único na edição das músicas da banda. “Quando começava a ficar muito longo ou Bill ficava entediado, ele apenas jogava suas baquetas para o alto e dizia, 'Não, não, não, não, não. Temos que cortar isso'”, diz Carlin.

Buck foi fundamental na prevenção dos conflitos que normalmente destroem bandas, convencendo todos a dividir o crédito pela composição em cada música. “Peter percebeu que sua leitura da literatura do rock & roll provou a ele, repetidamente, que sempre há duas coisas que separam as bandas: uma é o crédito e a outra são os royalties”, diz Carlin.

O pai de Buck — que estava chateado por ele nunca ter terminado a faculdade — permaneceu pouco impressionado com o sucesso do filho até o fim. “Mesmo quando seu pai estava morrendo, acho que uma das coisas que Peter disse foi descrever como seu pai olhou para ele e disse: 'Escute, é melhor você ganhar um milhão de dólares tocando rock & roll, porque você não consegue fazer mais nada'”, diz Carlin.

A recusa deles em se reunir desde o fim da banda em 2011 sem dúvida se encaixa no padrão de desafiar expectativas de toda a carreira. “Já que basicamente todas as outras bandas cujos membros estão vivos eventualmente se reúnem”, diz Carlin, “talvez eles continuem sem se reunir nunca — só para fazer o que todas as outras bandas não fazem.”

Ouça o episódio completo aqui:

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