A inspiradora reflexão de Ian Paice (Deep Purple) sobre envelhecer tocando bateria
Músico de 76 anos admite adaptações para continuar se apresentando e ressalta: “não há muitos da minha geração tocando ‘bateria poderosa’”
Igor Miranda (@igormirandasite)
Publicado em 09/01/2025, às 19h27Poucos músicos na história, independentemente de gênero musical, têm uma trajetória tão longa quanto Ian Paice. O baterista de 76 anos passou praticamente a vida toda batucando seu instrumento: antes de ter sido um dos fundadores do Deep Purple em 1968 — 57 anos atrás (!) —, ele já se apresentava com outros projetos, em especial The Maze, em meados da década de 1960. Além do grupo que o consagrou, trabalhou com Whitesnake, Paice Ashton Lord, Paul McCartney, George Harrison, Gary Moore e Velvet Underground.
Mesmo em anos recentes, com a idade avançada e os efeitos de um mini-AVC sofrido em 2016, Paice nunca parou. O Deep Purple tem uma agenda tão turbinada que, de acordo com o vocalista Ian Gillan, há shows marcados até o ano que vem.
Somente em 2024, o grupo realizou 64 apresentações em vários continentes — incluindo a América do Sul, com visita ao Brasil para tocar em São Paulo e no Rock in Rio. Em média, um show a cada cinco ou seis dias, desconsiderando viagens e outras rotinas cansativas às quais músicos em turnê precisam se submeter.
Tudo isso cobra seu preço. Paice, em entrevista ao The Guardian, admite que sente dificuldades para executar linhas de bateria que antes considerava simples. Porém, não está disposto a parar — então, promove adaptações à sua performance.
“Muitas das coisas que eu achava fáceis quando era muito mais jovem agora são difíceis. Mas eu sei muito mais agora do que quando era mais jovem. Então você substitui as coisas. ‘Essa coisa vai ser difícil, mas eu posso fazer aquela coisa’.”
Trata-se de um processo natural, na visão de Ian. O baterista pontuou:
“Qualquer um que pense que pode fazer exatamente a mesma coisa que fazia há 50 anos é louco. Não há muitos caras da minha geração tocando o que eu chamo de ‘bateria poderosa’.”
Outros dois bateristas veteranos — embora mais jovens que Paice — participaram da entrevista e confirmaram: também fizeram adaptações às suas performances. Rat Scabies, de 69 anos, membro do The Damned, comentou:
“Algumas das músicas até se beneficiam ao serem tocadas um pouco mais lentas. Antigamente, era tudo tocado na maior velocidade — quem chegasse ao final da música primeiro era o vencedor.”
Paul Cook, integrante do Sex Pistols, 68 anos, revelou se submeter a uma preparação com nutricionista e exercícios físicos, tanto cardiovasculares quanto para os braços. Tudo para ajudar em sua rotina de turnê. Porém, ele destaca:
“Não sou um fanático por saúde. Não me transformei em um hippie comedor de lentilhas.”
Ian Paice ainda detona
Há certa modéstia quando Ian Paice diz que não há muitos bateristas de sua geração tocando de forma poderosa. Quem pôde assisti-lo ao vivo na última visita ao Brasil certamente saiu satisfeito com a performance do ícone das baquetas. Texto para o site Igor Miranda sobre a apresentação no Espaço Unimed, em São Paulo, destaca:
“Paice, coração da banda, é raríssimo caso de baterista que chega a uma idade tão avançada sem perder praticamente nada de sua técnica. O único indício de seus 76 anos é a decisão de transformar um dos surdos de seu kit de bateria em porta-toalha. [...] Ter consciência das limitações físicas que o Deep Purple atual pode sofrer chega até a reduzir as expectativas dos fãs para seu show. Os eventuais obstáculos são driblados com tamanha maestria que é comum fãs se surpreenderem ao assisti-los ao vivo pela primeira vez.”
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