Cantor não mencionava nenhuma de suas canções mais conhecidas, mas sim uma uma faixa estranhamente “feliz” em sua discografia
Publicado em 01/12/2024, às 08h00
Não é fácil selecionar destaques no extenso repertório deixado por Johnny Cash, ícone do outlaw country que nos deixou em 2003. Geralmente, as canções mais lembradas do Homem de Preto não são exatamente “felizes” — mas soa dessa forma aquela que era mencionada pelo próprio como sua predileta.
Em 1982, Cash participou no programa de TV 60 Minutes, apresentado por Harry Reasoner, que lhe perguntou qual a sua música favorita de seu catálogo. De início, o artista fez uma referência à sua canção mais famosa, mas tratou de dizer que esta não era a sua preferida.
Nas palavras de Johnny:
Bem, eu acho que deveria provavelmente dizer ‘I Walk the Line’, porque é a que mais vendeu. Mas a que realmente significa mais para mim, que diz mais para mim em minha vida é ‘Pickin’ Time’. A mensagem da música é a de um tempo bom vindo para todos nós. Tempo de colheita.”
“Pickin’ Time” é uma das faixas de The Fabulous Johnny Cash (1958), segundo álbum lançado pelo cantor. Composta apenas por Cash, a música tem menos de dois minutos de duração. Sua letra aborda a vida no campo e a época da colheita (“picking time”), em que a fartura chega para as pessoas que vivem da agricultura.
Trata-se de uma canção um pouco diferente dos grandes clássicos do artista. Todavia, encaixa-se perfeitamente às suas raízes. Cash foi criado em uma pequena cidade do interior do estado americano do Arkansas e, assim como todas as pessoas de origem rural, viveu muitos “pickin’ times”.
Na mesma entrevista de 1982, Harry Reasoner perguntou sobre o lado mais sério e obscuro de Johnny Cash. Seus maiores sucessos abordam situações duras da vida, o que unido ao visual sempre com roupas escuras e a voz grave, ajudou a criar o mito do Homem de Preto.
Sobre isso, o cantor respondeu:
Roy Orbison tinha um verso em uma canção chamada ‘My Best Friend’ que dizia: ‘um diamante é um diamante e uma pedra é uma pedra, mas o homem é uma parte bom e uma parte mau’ (‘a diamond is a diamond and a stone is a stone, but man is part good and part bad’). Eu reconheço o fato de que sou parte bom e parte mau.”
Johnny Cash foi um dos artistas que deu origem ao gênero conhecido com outlaw country, segmento do gênero americano que interpretava o “papel” do bandido. Letras sobre crimes, sentenças e a vida de um “fora da lei” eram frequentes.
A postura sisuda do cantor, aliado ao fato de sempre usar roupas pretas – apenas porque, segundo ele, eram mais fáceis de manter limpas em turnê – criaram a imagem do estilo. Nomes como Willie Nelson, Waylon Jennings, Merle Haggard, Kris Kristofferson, Johnny Paycheck e David Allan Coe também se notabilizaram no segmento.
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Colaborou: André Luiz Fernandes.
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.