Produtor descrito como um ótimo “diretor de elenco” precisou intervir após notar peso excessivo em canção do artista pop
Publicado em 13/11/2024, às 19h46
Foram incontáveis os flertes de Michael Jackson com o rock ao longo de sua trajetória. Em dada ocasião, ao menos segundo relatos, essa aproximação chegou a ganhar um peso similar ao do heavy metal — algo impedido pelo produtor Quincy Jones.
Em entrevista ao The Guardian, o guitarrista Steve Lukather, membro fundador do Toto e envolvido com as gravações do álbum Thriller (1982), de Jackson, revelou que uma das faixas caminhava para se tornar “metal”. Trata-se de “Beat It”, terceiro single do trabalho e um dos maiores hits do artista.
Lukather relembra, inicialmente, que “Beat It” foi gravada de forma diferente em relação ao processo convencional.
O vocal principal de Michael e o solo de guitarra de Eddie Van Halen foram feitos com alguns pequenos overdubs [gravações adicionais que entram junto da original], mas sem metrônomo. Jeff [Porcaro, baterista] fez a parte dele e eu toquei um monte de partes de guitarra realmente selvagens, porque eu sabia que o solo de Eddie estava nela. Era para ser um hard rock.”
Tudo isso sem o acompanhamento de Quincy Jones. No período, o produtor — descrito por Lukather como um ótimo “diretor de elenco” — estava fazendo ajustes em outro hit: “Billie Jean”. Quando a gravação inicial lhe foi apresentada por telefone, a reação foi imediata:
Ele dizia: ‘É muito metal, você tem que se acalmar. Tenho que colocar essa música na rádio pop! Use o amplificador pequeno, não coloque tanta distorção’.”
Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Steve “segurou a mão” ao trabalhar novamente em suas partes de guitarra e chegou ao resultado que todos conhecemos.
Em seu livro de memórias Moonwalk (via site Igor Miranda), Michael Jackson relembrou ter composto “Beat It” para fugir do tipo de rock que se ouvia na rádio. A letra, em sua visão, oferece uma mensagem para não se agir de forma violenta.
A letra de ‘Beat It’ exprime algo que eu faria se estivesse encrencado. Sua mensagem de que deveríamos abominar a violência é algo em que acredito profundamente. Fala à garotada para usar a cabeça e evitar confusão. Não aconselho que você deva dar a outra face quando leva um soco nos dentes, mas, a não ser que esteja contra a parede e não tenha nenhuma escolha, simplesmente fuja antes que a violência irrompa. [...] Para mim a verdadeira bravura está em resolver as diferenças sem briga.”
A grande história em torno da canção está na participação de Eddie Van Halen para gravar o solo. O guitarrista, um dos maiores de todos os tempos no instrumento, fez o trabalho sem cobrar um centavo sequer — e não avisou os colegas de sua banda, gerando uma situação interna conflituosa que, dois anos depois, levaria à saída do vocalista David Lee Roth.
+++LEIA MAIS: Cinebiografia de Michael Jackson é adiada para final de 2025; entenda
+++LEIA MAIS: Alex Van Halen compartilha 'última música' que ele escreveu com Eddie; Ouça
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.