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Música / Amizade

A opinião de Paulo Miklos sobre o hip-hop e as memórias que ele guarda de Sabotage

Ambos trabalharam juntos no filme 'O Invasor', onde o rapper atuou como uma espécie de consultor de linguagem para o personagem do eterno Titã

Igor Miranda (@igormirandasite)
por Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 29/08/2024, às 16h16

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Paulo Miklos e Sabotage (Imagem: Mauricio Santana/Getty Images e Marcio Simnch)
Paulo Miklos e Sabotage (Imagem: Mauricio Santana/Getty Images e Marcio Simnch)

Inicialmente consagrado como membro dos Titãs, Paulo Miklos também desenvolveu uma carreira como ator. Tal trajetória contou no início do século com um trabalho junto do saudoso rapper Sabotage. Os dois participaram do filme O Invasor (2002).

Durante participação de Miklos no programa Roda Viva, da TV Cultura, o cantor revelou como conheceu Sabotage no set do filme dirigido por Beto Brant. O ícone do hip-hop, assassinado em janeiro de 2003, foi responsável por ajudar o rockeiro a adequar a linguagem de seu personagem para um tom mais próximo do desejado.

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Conforme transcrição da Rolling Stone Brasil, Paulo disse:

O encontro com Sabotage foi de uma potência incrível. A gente viveu um momento muito intenso de criativo, de descoberta, porque foi a minha primeira experiência fazer o filme O Invasor. O Beto Brant chamou e me apresentou ao Sabotage justamente para a gente poder reescrever minhas falas todas e fazê-las ficarem mais com a cara da rua, mais crível para o personagem. Isso me deu também uma possibilidade de marinheiro de primeira viagem, de já embarcar e entrar no personagem com uma língua própria.”

O Invasor foi a primeira experiência de Miklos no cinema, assim como a primeira vez também de Sabotage trabalhando em um projeto desse tipo. Paulo comentou também a ligação que se formou entre ele e o rapper, além de sua perda.

E a gente teve uma ligação instantânea, porque eram os dois da música e ele conhecia o meu trabalho e aí a gente estava junto, vamos entender o que está acontecendo aqui e tal. E foram momentos muito especiais, né? Então, quando a gente perdeu o Sabotage, quando ele foi assassinado, foi uma tristeza muito profunda, um talento incrível e é um cara que ele é referência para toda a nova geração.”

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O legado de Sabotage

Mauro Mateus dos Santos, o Sabotage – ou Sabota – teve uma vida no crime antes de estourar no rap. Seu álbum mais famoso é o segundo, Rap é Compromisso!, lançado em 2000. Em recente colaboração com o também rapper Emicida, Paulo Miklos teve contato com parte do legado do ex-colega de set de filmagens.

O músico relembrou:

Eu compus com o Emicida no disco A Gente Mora no Agora (2017). E fui mostrar a música pronta lá no QG do Emicida e tal. E aí mostrei, ele se emocionou e tudo. Estou abrindo esse parêntese só para contar aqui. Ele falou assim para mim: ‘você vem comigo aqui atrás, que eu tenho um mural, que eu tenho um Sabotage pintado gigante, que eu quero fazer uma foto, eu, você, na frente do mural’. Eu falei: ‘uau!’ Ele tem um mural com o Sabotage, é uma referência muito importante para toda essa geração.”

Perguntado sobre a importância do hip-hop para a cultura, Miklos deu sua visão e aproveitou para falar mais a respeito do que Sabotage representa dentro desse movimento. Ele ainda citou o sucesso de Anísio, seu personagem em O Invasor, que não teria saído do jeito que foi sem a consultoria do rapper.

Se a cultura precisa (do hip-hop)? O hip-hop é a própria cultura, né? É fortíssimo, maravilhoso e com poetas incríveis. O que eu aprendi com o Sabotage é isso, ele é um poeta maior assim, sabe? Uma capacidade incrível, um sujeito criativo, dinâmico, e ele rapidamente entendeu o que estava acontecendo e colocou a caixinha de ferramentas dele, de poeta, a serviço do meu texto ali. Então, ele colocava cinco opções para cada possibilidade e todas geniais, de quem ouve na rua as pessoas conversando e guarda aquelas coisas específicas, que depois vão servir na poesia. Ele trouxe isso para o filme. Então ficou riquíssimo, as pessoas sabem de cor as minhas falas no filme.”

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Sabotage teve sua vida encerrada de forma prematura, mas sua obra continua viva através dos discos – o mais recente, póstumo, intitulado Sabotage, saiu em 2016 – e dos filmes que participou. Além de O Invasor, o rapper atuou em Carandiru (2003), onde interpreta o personagem Fuinha. Sua história foi contada nos documentários Sabotage – Nós (2013) e Sabotage: O Maestro do Canão (2015).

Já Paulo Miklos participou recentemente da reunião dos Titãs, mas segue em carreira solo, além de continuar atuando. Ele já participou de séries e novelas, além de ter uma filmografia extensa. O longa mais recente, Saudosa Maloca (2024), traz o músico no papel do sambista paulista Adoniran Barbosa.

Colaborou: André Luiz Fernandes.