Cantora destacou que composições machistas “não são normais” e apontou que elas não vêm de agora: “fui adolescente na época do É o Tchan”
Publicado em 18/10/2023, às 11h18
Desde o início de sua carreira, Pitty se apresentou como uma letrista de mão cheia. Não à toa, muitas de suas composições, como “Máscara” e “Admirável Chip Novo”, seguem fazendo sentido tanto tempo depois.
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Naturalmente, como muitos fãs, ela também enxerga alguns problemas nas letras de algumas canções de sucesso da atualidade. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, a artista comentou que certas composições, especialmente aquelas com abordagem machista, não são normais. Deixou claro, ainda, que isso não é algo exclusivo da contemporaneidade.
“Isso não é normal. E não é de agora. Sempre existiram letras sexistas e machistas. Não posso esquecer que fui adolescente na época da Tiazinha, da ‘Banheira do Gugu’ e do É o Tchan. Até por isso, eu quis trazer outra visão de mulher. Quis oferecer para outras adolescentes como eu outras possibilidades de mulheridade.”
Ainda em sua declaração, Pitty apontou que não corrobora com letras machistas. No entanto, deixou claro que gêneros mais populares na atualidade, como funk e rap, também discutem outras temáticas em suas músicas.
“Não corroborarei e não corroboro com letras machistas. Elas não cabiam antes e cabem menos agora. Fora isso, dentro do funk, do rap e do trap, tem coisas muito interessantes.”
Na sequência, o repórter do Estadão, Danilo Casaletti, apontou uma cantora do funk que traz letras de afirmação: MC Carol. Curiosamente, ela participa de Admirável Chip Novo (Re)Ativado, álbum em que outros artistas regravam canções de Admirável Chip Novo, primeiro disco de Pitty, buscando diferentes abordagens. A própria Pitty refletiu sobre a colega:
“Mesmo dentro de estilos diferentes, a gente identifica a mensagem. Cada um se expressa de uma maneira. Essa é a dela. Nem todo mundo cresceu com acesso à mesma linguagem. Novamente, o que importa é o conteúdo, não a forma. A MC Carol tem putaria na obra dela. Mas também, fora de uma mulher padrão, ela fala sobre empoderamento. E, se afirmar fora de um corpo de uma mulher padrão, é muito mais complicado. E isso me interessa muito.”
Outro gênero citado por Pitty, o rap tem, em sua opinião, “muito a ver” com o rock. E está mais popular hoje em comparação ao gênero que a consagrou por uma série de fatores.
“O rap e o rock têm muito a ver. Falo isso desde os anos 1990. É uma música de rua, de transgressão, de recolocação no mundo. Eles dialogam. Essa geração mais nova, por questão estética, se identifica muito mais com o rap, o trap e o funk. E há a questão da acessibilidade. Basta ter um software para fazer sua música. Para ter banda de rock, é preciso ensaiar, ter os instrumentos, alugar estúdio. Quando a tecnologia permitiu fazer música de dentro de um quarto, a possibilidade de se expressar se popularizou.”
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.