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Música / ADEUS

A razão pessoal que levou ao fim do Sepultura, segundo Andreas Kisser

Banda roda pelo mundo com a turnê de despedida Celebrating Life Through Death, a ser encerrada em 2026

Igor Miranda (@igormirandasite)
por Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 13/11/2024, às 17h29

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Andreas Kisser (Foto: Naki/Redferns)
Andreas Kisser (Foto: Naki/Redferns)

O Sepultura irá encerrar atividades após sua turnê de despedida, Celebrating Life Through Death. A previsão do fim é para 2026, com um show em São Paulo — ainda sem data ou local confirmados — que pode reunir todos os ex-integrantes, até mesmo os irmãos Max e Iggor Cavalera.

Quando anunciada em dezembro de 2023, a decisão surpreendeu os fãs, visto que o Sepultura vive um grande momento nos palcos e lançou em 2020 um de seus álbuns mais elogiados, Quadra. Além disso, seu integrante mais velho, o guitarrista Andreas Kisser, tem apenas 56 anos de idade.

Porém, motivações que vão além dos acontecimentos da banda estão vinculadas ao fim. Em entrevista à Loud TV (via Blabbermouth), Kisser disse que a morte de sua esposa, Patricia, influenciou a opção pelo encerramento. Ela tinha 52 anos e faleceu em decorrência de um câncer de cólon.

O músico diz:

Sim, com certeza, definitivamente [o fim do Sepultura está associado à morte de Patricia]. [...] O processo foi muito doloroso e difícil, mas tem sido uma experiência aberta: conhecer a mim mesmo, minha família, novas oportunidades de falar sobre a vida por causa da morte.”

Na visão de Andreas, “o Brasil é um dos piores lugares para se morrer”, já que “muitas pessoas são esquecidas pela sociedade”. Por isso, ele tomou a decisão de criar o movimento Mãetricia, que, em suas palavras, “inspira e estimula as pessoas a falar sobre a morte em muitos aspectos” — incluindo temáticas como eutanásia, suicídio assistido e cuidados paliativos.

Tivemos o privilégio de dar à minha esposa cuidados paliativos, por causa do plano de saúde, mas a maioria das pessoas no Brasil não tem isso. Começamos esse movimento e um festival de música [Patfest] que teve há pouco sua terceira edição, arrecadando fundos para as pessoas que tomam e dão cuidados paliativos nas favelas do Rio de Janeiro.”

Andreas Kisser e o respeito à finitude

Com a perda de Patricia, Andreas Kisser passou a enxergar o fim de outra forma. O guitarrista do Sepultura enfatiza que a morte é sua maior professora.

Estou aprendendo muito sobre a vida porque respeito a finitude. Não podemos controlar isso. Todos nós vamos morrer. Você vai morrer. A câmera vai morrer. [Risos] Qualquer dispositivo eletrônico vai parar de funcionar. Não podemos escolher. O que podemos escolher é viver o momento. A intensidade do presente é muito mais intensa se você respeitar a finitude.”

Até mesmo em outros campos, a finitude é importante. O guitarrista comenta:

Se você vai ao cinema e ele não tem fim, não há significado, não há mensagem. Um livro, um trabalho, esta entrevista… qualquer coisa que você faça na sua vida tem que terminar. Pensamos em fases: começo, causa e efeito; início, meio e conclusão. É a vida. Vamos respeitar isso. Não vamos tentar viver para sempre, com IA, robôs e todas essas coisas. Vamos ser humanos e respeitar a finitude, respeitar a morte.”

A própria Patricia discutia a morte de forma aberta, segundo Andreas. Ela chegou a fazer pedidos que antes soavam como brincadeira, mas foram respeitados.

As pessoas têm essa ideia de que se você falar sobre morrer, coisas ruins vão acontecer e coisas assim. É totalmente o oposto. A Patricia costumava falar sobre morrer: ‘Quando eu morrer, por favor, não esqueça meu travesseiro. Não esqueça meu cobertor. E coloque meu pijama e meias nos meus pés porque eu não quero ficar com frio’. Todos rimos na época, mas quando ela morreu, nós fizemos isso. Não consigo explicar em palavras a sensação de realizar um desejo de sua pessoa amada. São coisas simples. E isso te traz paz, compreensão e um sentimento de gratidão por ela ter feito parte da nossa vida por tantos anos. Tenho três filhos [com ela] e muitos dos Andreas que eu costumava ser morreram com ela. Mas estou descobrindo outro que está surgindo disso.”

Sepultura e a turnê Celebrating Life Through Death

Até o momento, o Sepultura realizou mais de 60 shows com a turnê Celebrating Life Through Death, passando pelas Américas do Sul, Central e Norte, além de Europa e Ásia. O último show anunciado até o momento acontece em 14 de dezembro, no Recife, mas a expectativa é que novas datas sejam anunciadas em breve.

Além disso, a banda completa por Derrick Green (voz), Paulo Jr (baixo) e Greyson Nekrutman (bateria) pretende lançar um EP com faixas inéditas e um álbum ao vivo gravado ao longo da tour. Ainda não há detalhes a respeito desses materiais.

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