Tecladista do Yes, que também trabalhou com vários outros ícones da música, acredita que o cenário perdeu seu “senso de comunidade”
Publicado em 28/11/2024, às 12h42
A indústria musical vive um momento curioso. Nunca se ganhou tanto com shows — e tão pouco com música gravada. Porém, Rick Wakeman acredita ter uma solução relativamente simples para salvar esta parte do cenário que rende tantas reclamações de artistas.
O tecladista e pianista, notório por seu envolvimento de anos com o Yes, explicou em entrevista a Rick Beato (via Loudwire) que o mundo da música deixou de ter algo que considera fundamental para a venda de produtos: o senso de uma experiência comunitária. Para ele, o foco atual está em concretizar a venda de material físico (CDs, LPs etc) e digital (download pago ou streaming) por meio da internet.
Wakeman reconhece que, no curto prazo, a ideia parecia boa. Afinal de contas, empresários poderiam maximizar os lucros ao dispensar parte da mão de obra relacionada. Todavia, gerou um efeito negativo ao provocar desinteresse do público. E tudo ocorreu porque, em sua visão, os executivos atuais se diferem dos antigos por simplesmente não estarem interessados em música.
“Isso [a falta de senso de comunidade no consumo de música] tirou as grandes lojas de discos. Até 20 ou 30 anos atrás, você entrava em uma loja de discos [para ver] milhares de discos. Você ficava passando por eles, tentando encontrar algo, e alguém ao seu lado dizia: ‘Ah, você ficou sabendo do novo álbum do Jethro Tull?’. As pessoas conversavam. Você voltava para seus amigos e falava sobre a ótima música que havia encontrado. Era passado de pessoa para pessoa. Mas eles tiraram isso.”
Rick foi categórico ao afirmar que “não há mais interação entre as pessoas que compram discos”. O artista de 75 anos complementa:
“O que você faz quando entra na internet? Você compra o que estava procurando. Mas se você entra em uma loja de discos, garanto que sairá com o que está procurando e algo mais também — mas eles tiraram isso.”
Entusiasmado, Rick Wakeman relembrou várias situações do passado e propôs a retomada delas, em versão atualizada, para o momento presente. Em sua visão, tudo isso ajudaria a fomentar o consumo de música gravada, “salvando” em especial a indústria fonográfica.
“Em uma loja, você tem vinis e CDs, tanto novos quanto antigos. Você poderia fazer trocas. E se você quiser fazer um download, então poderia ter áreas com computadores. E também — por favor, Deus — traga de volta aquelas cabines onde você poderia ouvir as músicas antes de comprar. Coloque uma área inteira de cafeteria, onde as pessoas se sentam com outras pessoas que não conhecem.”
A ideia, claro, é retomar o processo de interação. O tecladista arremata:
“É disso que se trata a música. Não acho que seria tão difícil fazer isso. Você só precisa de algumas gravadoras que diriam: ‘eu posso ver isso’. Isso ajudaria a trazer de volta as diferentes maneiras de ter música, porque, no momento, a indústria fonográfica pensa apenas no streaming. Acho que a indústria, neste momento, não é uma indústria musical — mas não é tarde demais para trazê-la de volta.”
Rick Wakeman veio ao Brasil pela última vez, em abril deste ano, para uma série de quatro shows em São Paulo, Brasília, Curitiba e Porto Alegre. As apresentações fizeram parte de sua turnê de despedida dos palcos. O ícone do rock progressivo, que também trabalhou com David Bowie, Black Sabbath, Lou Reed, Elton John, T. Rex e Cat Stevens, entre outros, admite (via site Igor Miranda) que pretendia se aposentar das longas turnês aos 77 anos, mas precisou antecipar os planos.
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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.