Vários artistas estão expressando preocupações com relação ao uso da tecnologia, mas baixista do Guns N’ Roses diz não estar nem aí
Publicado em 20/10/2023, às 08h00
O debate sobre o uso de inteligência artificial na música segue a todo vapor. As ferramentas podem ser empregadas para emular com perfeição vozes de grandes artistas em canções que eles nunca gravaram, compor discos inteiros a partir de uma simples execução de algoritmo ou outras formas mais técnicas de exploração, como “limpar” registros com ruídos ou algo do tipo.
Muitos artistas estão expressando preocupação com relação ao avanço desse tipo de tecnologia. Porém, Duff McKagan parece não estar tão preocupado — ao menos no que diz respeito a seu próprio trabalho.
Em entrevista ao NME, o baixista do Guns N’ Roses disse que não pretende deixar que ferramentas como a inteligência artificial afetem sua criatividade. Ele sequer pretende experimentar qualquer tipo de programa que ofereça esse tipo de possibilidade.
“Sempre haverá caras como eu que simplesmente vão levantar o dedo do meio. Eles vão continuar criando suas próprias coisas e nem prestar atenção nisso, na verdade. Eu não presto atenção nisso. Não estou preocupado com isso. Isso não vai afetar minha criatividade.”
McKagan deixou claro que vive um momento tão bom em sua vida e carreira que nem precisa pensar em alternativas para facilitar seu trabalho. O simples fato de ter uma boa rede de apoio em sua casa permitiu que ele desenvolvesse seu álbum solo mais recente, Lighthouse, onde curiosamente aborda bastante a temática da saúde mental.
“Estou com uma situação muito boa em casa… ter essa facilidade em casa e esse apoio realmente fez maravilhas por mim. Essa ternura, essa paixão e esse senso de redondeza, amor e harmonia, aliados a esse tipo profundo de sensibilidade punk rock criaram esse som incrível e único em Lighthouse.”
Um dos grandes nomes da música a não poupar críticas ao uso de inteligência artificial nessa área é Ed Sheeran. Em entrevista ao Audacy (via American Songwriter), o dono de hits como “Thinking Out Loud” e “Shape of You” recorreu à ficção para dizer que as pessoas deveriam estar cientes dos possíveis problemas causados pelo uso indiscriminado de tecnologia.
“O que não entendo sobre a inteligência artificial é que, nos últimos 60 anos, os filmes de Hollywood vêm dizendo: ‘não faça isso’. E agora todo mundo está fazendo isso. E eu fico tipo: ‘você não viu os filmes em que eles matam a todos nós?’. Além disso, simplesmente não sei por que você precisa disso – se você está tirando o emprego de um ser humano, acho que provavelmente é uma coisa ruim. O ponto principal da sociedade é que todos nós desenvolvemos trabalhos. Se tudo for feito por robôs, todo mundo vai ficar sem trabalho.”
Em entrevista à Kerrang! Radio (via Blabbermouth), o vocalista do Slipknot, Corey Taylor, seguiu raciocínio parecido. Para ele, a IA é apenas uma evolução acomodada de outras ferramentas que corrigem vozes desafinadas ou performances ruins.
“Para ser honesto, eu não estou nem aí para nada disso. Não sei o que as pessoas estão tentando provar. Elas estão tentando provar que os computadores podem fazer as coisas tão bem quanto as pessoas? Porque, se sim, então qual é o ponto? um exemplo ainda pior da tecnologia substituindo o talento do que venho reclamando há anos com o Pro Tools, afinando e usando os mesmos sons. E as pessoas continuam a dizer: ‘oh, não é legal?’. Não, não é legal. Você está maluco?”
Outro grande vocalista do heavy metal contemporâneo a demonstrar sua opinião sobre inteligência artificial é M. Shadows. O frontman do Avenged Sevenfold, porém, discorda completamente de Taylor e diz que ficaria feliz até mesmo em ceder sua voz para que a tecnologia crie músicas e performances a partir dela.
Fora do som pesado, o ídolo alternativo Nick Cave demonstrou ter um posicionamento parecido com o de Taylor. Para ele, IA não tem nada a ver com arte, pois compor uma música é um ato profundamente humano.
Guitarrista do Queen e entusiasta da ciência — não à toa, PhD em astrofísica —, Brian May disse à Guitar Playerque tem uma série de preocupações em torno do tema.
“Não saberemos qual é o caminho para frente. Não saberemos o que foi criado pela IA e o que foi criado pelos humanos. Tudo vai ficar muito confuso. Acho que podemos olhar para 2023 como o último ano em que os humanos realmente dominaram a cena musical. [...] O potencial da inteligência artificial para causar o mal é, obviamente, enorme. Não apenas na música, porque ninguém morre na música, mas pessoas podem morrer se a IA se envolver na política e na dominação mundial de nações.”
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.