A triste reflexão de Steven Adler sobre drogas e demissão do Guns N’ Roses

Steven Adler era o baterista do Guns N’ Roses quando a banda estourou com o álbum de estreia Appetite for Destruction (1987). Mas seu tempo na vaga foi relativamente curto: em 1990, o músico foi demitido por conta do abuso de substâncias, principalmente heroína, que passou dos limites até mesmo para os padrões do grupo na época.

No documentário Nöthin’ But a Good Time: The Uncensored Story of ’80s Hair Metal, disponível no Paramount+ (via Rock Celebrities), Adler compartilhou reflexões a respeito de sua saída do grupo e o uso de heroína. Segundo o baterista, ironicamente, seu primeiro contato com a droga teve relação direta com os colegas do Guns.

Steven disse:

Com quem você acha que eu estava (usando heroína)? Quando comecei a usar heroína, eu queria ser parte do que Slash (guitarrista) e Izzy (Stradlin, guitarrista) estavam fazendo. Foram duas vezes, eu nunca fiquei tão doido em toda a minha vida. E sabendo o c*zão que eu sou, tive que experimentar mais uma vez. E a terceira vez foi a boa. Eu me apaixonei por aquilo.”

Antes de sua demissão, o baterista já havia perdido alguns shows, em tentativas de reabilitação. Por isso, assinou um contrato onde prometia procurar tratamento, com direito a multa caso não o fizesse. O vocalista Axl Rose, em pleno palco, chegou a ameaçar romper com a banda se “alguns membros” não deixassem de “dançar com o Mr. Brownstone” — referência ao uso de heroína que também originou uma música do grupo (via site Igor Miranda). Era, também, um recado a Slash e Stradlin.

A dispensa ocorreu em 1990, enquanto o grupo estava no estúdio para gravar o single “Civil War”. Adler simplesmente não conseguia tocar. O músico realizou entre 20 e 30 tentativas, que precisaram de muita edição para que fosse possível extrair uma performance de bateria.

Steven foi perguntado se Axl fez um favor ao demiti-lo, o que levou a uma reflexão amarga da parte dele. Nas palavras do próprio:

Partiu meu coração, cara. Não, ele não me fez um favor. Não fez nada além de partir meu coração e partir o coração de milhões de nossos fãs. Foi tudo o que ele fez. Então eles tiraram Izzy (o guitarrista saiu em 1991)... é assim que eu vejo o Guns N’ Roses, com nós cinco. Nós preparamos a torta por cinco anos. Todo ano entrávamos em um concurso de tortas diferente, e todo ano, nós vencíamos. Então, no sexto ano, eles decidiram colocar um ingrediente diferente e eles não ganharam o primeiro lugar. Fomos nós cinco que fizemos os ingredientes que nos fizeram vencedores. Você tira um desses e não é a mesma coisa.”

O “ingrediente diferente” em questão é Matt Sorum, baterista recrutado do The Cult, que ficou até 1997. Izzy Stradlin, por sua vez, foi substituído por Gilby Clarke, que durou menos ainda no grupo: foi dispensado em 1994.

Steven Adler pós-Guns N’ Roses

Um ano após sua demissão, um Steven Adler ainda em pleno uso de heroína entrou na Justiça contra o Guns N’ Roses. O baterista alegou que estava sob efeito de remédios usados durante as tentativas de reabilitação, que prejudicavam sua concentração para tocar. Também citou o contrato que tinha com a banda, onde teria sido prejudicado financeiramente, ao ter perdido os direitos sobre royalties e outros lucros.

O caso foi encerrado em 1993. Steven recebeu do grupo uma indenização de mais de US$ 2 milhões, além de 15% dos rendimentos sobre o material gravado com ele.

Todavia, ele afirma que nenhum dinheiro compensa o impacto emocional desses primeiros anos fora da banda. Sobre isso, diz:

Eu sempre amei a coisa toda de time. É por isso que juntar uma banda era tão importante para mim, onde trabalhamos juntos e criamos algo. Quando eles me jogaram para fora, eu não sabia o que fazer. Eu poderia ter melhorado, mas continuei fazendo o que estava fazendo. Eu estava ferido a esse ponto.”

Após idas e vindas em relação ao vício e algumas tentativas de recomeço na música — primeiro com o Road Crew, depois com o Adler’s Appetite —, parece que a maior parte dos sentimentos ruins não existe mais. Em 2012, Steven foi introduzido ao Rock and Roll Hall of Fame como membro da formação clássica da banda e apareceu ao lado de Slash, Duff McKagan, Gilby Clarke e Matt Sorum — Axl Rose não compareceu e foi substituído na tradicional apresentação musical por Myles Kennedy.

Já em 2016, Adler participou de alguns shows da turnê de reunião “Not in This Lifetime Tour”. Sua aparição estava programada para a primeira apresentação da banda, de surpresa, no famoso clube The Troubadour, mas uma cirurgia na coluna o impediu.

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Colaborou: André Luiz Fernandes.