Rolling Stone Brasil
Busca
Facebook Rolling Stone BrasilTwitter Rolling Stone BrasilInstagram Rolling Stone BrasilSpotify Rolling Stone BrasilYoutube Rolling Stone BrasilTiktok Rolling Stone Brasil
Música / Entrevista

Adriana Calcanhotto fala sobre o retorno de Partimpim com o álbum 'O Quarto' e a celebração de 20 anos da personagem [ENTREVISTA]

'Se a gente não encara as crianças como pessoas que sentem todos os tipos de sentimentos, a gente corre o risco de continuar subestimando elas. E isso não é justo.'

Partimpim (Foto: LeoAversa)
Partimpim (Foto: LeoAversa)

Após 12 anos desde o lançamento de Tlês, Adriana Calcanhotto retorna com seu heterônimo infantil, Partimpim, no álbum O Quarto. O trabalho marca a celebração de 20 anos do primeiro lançamento da personagem e inclui canções inéditas e releituras de artistas.

Adriana conversou com a Rolling Stone sobre o processo de reconexão com a personagem, suas inspirações e o universo lúdico que envolve o projeto.

A artista explicou que a ideia do novo álbum veio da vontade de celebrar os 20 anos de Partimpim não apenas com uma comemoração retrospectiva, mas com algo novo para os fãs. O Quarto foi lançado nesta quinta-feira (10), e já está disponível em todas as plataformas.

Confira a entrevista completa abaixo.


Foto: LeoAversa


Rolling Stone: Este é o primeiro álbum da Partimpim em 12 anos. Como foi o processo de reconexão com a personagem e o que te inspirou a voltar para esse universo lúdico agora?

Adriana: Foi a conversa da celebração dos 20 anos da Partimpim, do primeiro, que é quando ela nasce, quando ela aparece... E eu achei que seria interessante celebrar com um disco novo, e não ficar só celebrando... celebrar, sim, também, mas com um disco novo, com algo novo.


Rolling Stone: O nome O Quarto é um jogo de palavras muito interessante, tanto por ser o quarto projeto da Partimpim quanto por se referir ao espaço da criança. Como surgiu essa ideia?

Adriana: Isso surgiu já há bastante tempo, porque assim que eu fiz o Tlês, o próximo seria o quarto. E ele sendo o quarto, ele já tem isso em si, ele é o quarto, que é para onde as crianças vão quando alguém diz, 'tirem as crianças da sala'.

Portanto, em tese, o quarto é mais divertido que a sala, ao contrário do que eu pensava quando eu era criança, que eu achava que no mundo adulto era mais interessante...

Então ele já nasceu com essa coisa, ele é o quarto. Então eu sabia que teria ele, eu fiz a canção para ele, fui juntando canções. A Marisa [Monte] me deu uma canção inédita, ela me mostrou e eu falei: ‘Essa canção é Partimpim, eu quero, só que eu não tenho ideia de quando o quarto disco vai sair, mas eu quero’. Ela disse: ‘Não tem problema, fica com ela’. Atlântida [canção de Rita Lee e Roberto de Carvalho]  estava na lista do primeiro disco, desde o primeiro, há 21 anos. E teve a ver também com a perda da Rita Lee, que foi interessante, porque a base da canção foi gravada exatamente no dia que fez um ano que a Rita virou estrelinha. Foi bem comovente no estúdio gravar a canção.

["Boitatá" — a canção inédita mencionada, é uma parceria de Marisa Monte, seu filho Mano Wladimir e Arnaldo Antunes.]


Rolling Stone: Existe alguma música que tem um significado especial ou que você está particularmente ansiosa para lançar?

Adriana: Cada música tem a sua própria história. Tô Bem apareceu já quando a gente estava gravando o disco, ouvi na rede social e falei: 'Eu quero essa canção'. Quando digo 'eu', é uma escuta, é um ouvido, essa escuta é da Partimpim, é esse ouvido que ouve uma coisa e entende que aquilo fala com, se não fala com as crianças, fala com essa criança, que é a Partimpim.

Eu tirei uma música para botar Tô Bem... Estrela, Estrela entrou por conta das chuvas que atravessaram o Rio Grande do Sul durante a gravação.
Eu fui para São Paulo gravar o Altas Horas do Serginho Groisman, e a produção pediu para nós, artistas gaúchos, cantarmos artistas gaúchos. Estrela, Estrela veio para mim como uma iluminação, e depois que cantei no programa, muitos gaúchos me pediram para gravar essa música. Isso tinha a ver com o momento que o disco estava vivendo.

Foi difícil fazer o disco quando você sai de casa e vê aquele horror na televisão. Uma imagem que me deu muita esperança foi a daquele cavalo caramelo sobre um telhado, o jeito como ele foi resgatado. Isso me comoveu muito, então Estrela, Estrela está no disco por causa disso.
Cada música tem sua história, e o repertório é dinâmico. Se tivéssemos mais duas semanas, o repertório talvez fosse outro.


Rolling Stone: O lançamento do álbum acontece próximo ao Dia das Crianças. Isso foi intencional?

Adriana: Sim, tem a ver porque em outubro o escritório fica lotado de pedidos para a Partimpim. Todo mundo pergunta por ela, se vai ter disco, se vai ter show, onde é que ela anda. Então, achei que seria interessante lançar em outubro para celebrar os 20 anos com um álbum novo.
Eu sou de outubro, então entendo que a Partimpim também é de outubro. É um mês que traz essa alegria.


Rolling Stone: Você consegue trazer temas sérios, como a crise climática e figuras como Malala, mas mantendo o tom infantil. Como foi trabalhar essas questões no álbum?

Adriana: As crianças estão no mundo. Eu me lembro quando as pessoas diziam: 'Que horror, as crianças estão dançando Boquinha da Garrafa'. Mas é óbvio, elas estão vendo a televisão, que na época era mais TV, agora estão nas redes sociais... Elas estão no mundo. Claro que agora as coisas estão mais nichadas, você consegue controlar mais o que as crianças veem.

Mas as crianças não vivem só a alegria. Chega dessa ideia de que elas não têm tristeza, que não sofrem, que não têm angústias quanto ao futuro ou ao planeta. Elas vão ter que lidar com coisas que a minha geração não conseguiu entregar para elas.

Se a gente não encara as crianças como pessoas que sentem todos os tipos de sentimentos, que têm esperanças e desesperanças, a gente corre o risco de continuar subestimando elas. E isso não é justo.


Rolling Stone: Como você vê a relação da Partimpim com o tempo? A personagem evolui com ele ou se mantém atemporal?

Adriana: Partimpim vive no presente. Ela protege a espontaneidade e a capacidade de transitar entre estilos e fazer o que quer. Isso a mantém conectada ao público.

Ela não faz as coisas pensando se vai funcionar, ela simplesmente faz, e seus fãs são cúmplices disso, do que ela está inventando. Acho que é por isso que ela tem tantos fãs.


Rolling Stone: Como a persona Partimpim influencia ou se relaciona com o seu trabalho como Adriana Calcanhotto?

Adriana: Partimpim fica num canto porque ela demanda muito de mim. Ela me exaure, então quando eu permito que ela apareça, minha parte adulta precisa baixar a bola. Ela guarda as coisas, como desenhos, chupetas e brinquedos, tudo tem muito valor para ela. Eu sou o oposto disso.

Então, chega uma hora que preciso deixar uma das duas tomar conta, porque é demais para mim lidar com ambas ao mesmo tempo.


Rolling Stone: Qual mensagem você gostaria que o público, tanto as crianças quanto os pais, levassem deste novo álbum?

Adriana: A mensagem está no convite que ela faz na primeira faixa: 'Vamos inventar o mundo'. Porque é possível, está ao alcance da mão. Como Rita Lee diz em Atlântida: 'O mundo é dos que sonham, que toda lenda é pura verdade'.

Quando dizemos isso para uma criança, a potência é enorme, muito maior do que quando dizemos para um adulto. Essa é a mensagem que a Partimpim quer passar.


Rolling Stone: Você gostaria de acrescentar algo? 

Adriana: Eu estou muito animada com o show e que eu estou pensando nisso agora. O show vai ser feito com o repertório dos quatro álbuns e já é música pra caramba, eu digo isso porque provavelmente eu não consigo incluir as canções que são exclusivas dos shows, que tem nos dois DVDs e que vai ser um trabalho delicioso, que é muito árduo, na verdade, deixar canções do lado de fora, essa é a parte difícil.

Mas que, enfim, eu acho que tudo isso que a gente está falando, como é que isso bate, as diferentes gerações, esse espectro de bebês de dois meses, trisavós que vão ao show, tudo isso vai ser a hora de juntar os quatro álbuns, que agora já é, a gente já pode dizer que é uma discografia. Até o Tlês, eu acho que era considerado, eu considerava uma trilogia, agora dá pra chamar de discografia, então acho que esse show, ele vai ter uma cara dele, ele serve pra divulgar o quarto, mas ele serve também pra celebrar os outros.


(Esta entrevista foi editada para maior clareza).