"NÃO ESTOU BRINCANDO"

O conselho preciso que Alice Cooper dá a jovens músicos de rock

Vincent Furnier, o homem por trás do personagem, é direto e objetivo ao recomendar que novos músicos busquem inspiração em uma banda referência

Guilherme Gonçalves

Alice Cooper no Best of Blues and Rock 2025
Alice Cooper no Best of Blues and Rock 2025 - Foto: Leca Suzuki @lecasuzukiphoto

Apesar de ser considerado o principal ícone do chamado shock rock, Alice Cooper sempre prezou por boas melodias em sua música. Enquanto a estética visual — dele e dos elementos que utilizava no palco — era feita para “assustar”, as canções sempre tiveram um apelo melódico capaz de atrair e cativar o público.

E isso ele conta que aprendeu com os melhores: os Beatles. Tanto é que deu um conselho curioso (e precioso) recentemente ao participar de um encontro de perguntas e respostas no Arizona, Estados Unidos, no início de novembro.

Questionado sobre o que recomendaria a músicos que estão em início de carreira, Vincent Furnier, o homem por trás do personagem Alice Cooper, foi direto e objetivo.

Ele afirmou (transcriação via Blabbermouth):

Ouçam os Beatles. É sério. Não estou brincando. Quando se trata de compor músicas, ouçam a simplicidade dos Beatles. Não importa se você está compondo uma música de death metal. Uma música, antes de tudo, não é apenas um riff e uma batida de bateria. Você deve ser capaz — não importa quem seja — de tocar aquela melodia e cantar aquela música. Você pode ser a pessoa mais raivosa do mundo, mas…”

Ele acrescentou:

“Já tive bandas jovens que vieram até mim e perguntaram: ‘Bem, o que você acha?’. E eu digo: ‘Entendo. Você está com raiva.’ Porque você está gritando comigo. E eu digo: ‘Bem, onde está a música? Não tem música nenhuma aí. Tem uma batida ótima e um riff ótimo, mas não tem música nenhuma’. Então eu falo: ‘O que eu quero que você faça é, por uma semana, ouvir apenas os Beach Boys, os Beatles e os Four Seasons — qualquer (banda) que tenha composto músicas, ou Burt Bacharach, que compõe músicas. E aí, eu não quero que você soe como eles, mas quero que você entenda a ideia de um verso, uma seção B, uma ponte que leva ao refrão, que volta para a ponte. Mas isso significa que tem que ter uma melodia. Você não pode simplesmente gritar comigo. E tudo bem se você gritar comigo, mas você não vai ficar por aqui por muito tempo’.”

Cooper arremata:

“Por que essas músicas (dos Beatles) ainda tocam no rádio? Por causa da melodia, a melodia — todos nós queremos ouvir as melodias.”

Alice Cooper - Foto: Leca Suzuki @lecasuzukiphoto
Alice Cooper durante show no Brasil em 2025 (Foto: Leca Suzuki @lecasuzukiphoto)

Alice Cooper e os Beatles

Alice Cooper sempre deixou clara sua admiração por Beatles. Em entrevista à BBC Radio 2 (via Whiplash), o artista relembrou como foi o impacto sofrido por ele ao ter o primeiro contato com a obra do quarteto de Liverpool.

Ele disse:

“Quando os Beatles surgiram, quando você descobria eles, era uma baita mudança. Era, tipo: ‘De onde saíram esses caras?’ Era uma revolução! Eu pintava casas no verão, e eu estava pintando e ouvindo rádio, as 40 mais tocadas, sabe, o que tinha de mais pop na época. Aí do nada eu ouço ‘She Loves You’, meia hora depois eu ouço ‘Please Please Me’, e de uma hora para outra de repente música era algo diferente. Era divertido! Tinha aquelas guitarras, e eu nunca tinha ouvido nada parecido antes. Eu fiquei, tipo: ‘Cara, é isso o que eu quero fazer!'”

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Guilherme Gonçalves é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e atua no jornalismo esportivo desde 2008. Colecionador de discos e melômano, também escreve sobre música e já colaborou para veículos como Collectors Room, Rock Brigade e Guitarload. Atualmente, é redator em IgorMiranda.com.br, revisa livros das editoras Belas Letras e Estética Torta e edita o Morbus Zine, dedicado a resenhas de death metal e grindcore.
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