Evento reuniu DJ e representantes de povos originários dentro da agenda do G20 no Rio, em experiência imersiva por resgate cultural indígena nesta segunda-feira (18)
Alok apresentou uma performance do projeto O Futuro é Ancestral. "O grande objetivo dele é amplificar as vozes indígenas", falou o artista à Rolling Stone Brasil no evento, que aconteceu essa segunda-feira (18) no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.
Descrita como uma experiência imersiva, a apresentação reuniu, além de Alok, representantes de povos como os Yawanawá, que se juntaram ao DJ no palco para apresentar as canções presentes no álbum de mesmo nome, criado em parceria com populações originárias e lançado no primeiro semestre de 2024. O evento ocorreu dentro da agenda cultural do encontro do G20, que reuniu líderes das 20 economias mais importantes do planeta no Rio.
Ver essa foto no Instagram
O Futuro Ancestral é um projeto que envolveu Alok por uma década, quando encontrou propósito junto ao povo Yawanawá. Suas origens, no entanto, vão muito além - datam de séculos da cultura do povo indígena, transmitidos por gerações. Quando o encontro com o artista goiano acontece, ele entende a necessidade de registrar as canções e ritmos, para preservar para o futuro.
"A gente sabe que o que está hypando, o que está em trend, vai durar só seis meses", disse Alok no discurso que fez aos participantes do evento. "Mas nesse projeto, eu não queria jogar o jogo da indústria da música."
Mais que um álbum, O Futuro Ancestral é um projeto de Alok que resgata as músicas originárias de povos como os Yawanawá, os Huni Kuin e os Guarani Nhandeva. Além das canções que foram reimaginadas pelo DJ, o projeto ainda resgata as canções em suas versões originais, gravadas pelos próprios povos originários, com mais de 130 canções tradicionais registradas até o momento.
Ver essa foto no Instagram
"A minha história começou com eles em 2014. Eu estava vivendo um momento de depressão na minha vida, buscando inspiração . E aí eu vi uma música em um vídeo e resolvi ir lá conhecer", conta o DJ. "Quando eu cheguei lá, eu ressignifiquei muito da forma como eu lido com a minha arte, porque eu tava fazendo músicas para funcionar no top, nos e-sports, e eles tavam fazendo música para curar."
"Quando eu tava no estúdio com eles em 2021, lembro que eles tocaram uma música linda para mim, e eu falei, 'nossa, que música linda, quando vocês fizeram ela?' [E eles responderam], 'Alok, essa aqui, pelo que a gente se lembra, tem 500 anos'."
Ver essa foto no Instagram
O reconhecimento pelo trabalho foi reforçado na última semana, na passagem de Alok pelo Grammy Latino, em Miami, na Flórida, no último dia 14. Além de uma nomeação dupla à premiação, por "Pedju Kunumigwe" (com os Guarani Nhandeva) e "Drum Machine" (com DJ Pickle), o artista apareceu acompanhado de representantes dos povos com quem vêm trabalhando, como Igor Nhandewa, Célia Xakriabá e Mapu Huni Kuin, marcando a primeira aparição da música indígena no evento.
“O Grammy é uma plataforma importante para amplificar as vozes e causas dos povos indígenas, maiores guardiões das nossas florestas. Esse é o intuito do projeto”, falou Alok na ocasião.
À Rolling Stone Brasil, ele reforçou a importância de iniciativas como O Futuro é Ancestral, não apenas para o resgate da memória dos povos originários, como também para a preservação da biodiversidade do planeta:
"Tem um dado que mostra que 5% da população global protege cerca de 82% da biodiversidade - e, adivinha só? São os indígenas. Então, para muitas pessoas, a floresta em pé não é produtiva, mas para eles não é só questão de produtividade, é questão de sua cultura, espiritualidade e modo de viver. Então acho que toda vez que nós estamos falando de conscientização, de proteger nossas florestas, a gente também tem de ouvir o que a floresta tem a nos dizer, e a melhor forma de fazer isso é através dos cantos indígenas, que é uma tradução."