Supergrupo formado por Andreas Kisser, Harold Hopkins, Andrés Gimenez e Alex González, De La Tierra lançou terceiro disco, intitulado De La Tierra III
Com projetos muito interessantes além do Sepultura, icônica banda brasileira de heavy metal criada em 1984, o guitarrista Andreas Kisser fez parte de diversos outros grupos musicais ótimos, mas um dos mais interessantes é De La Tierra, formado com Harold Hopkins (baixista porto-riquenho), Andrés Gimenez (vocalista e guitarrista argentino) e Alex González (baterista mexicano).
Na última sexta, 31, o supergrupo latino-americano de metal lançou o terceiro disco de estúdio, intitulado De La Tierra III. Assim como Kisser, os outros integrantes também fazem partes de outras bandas de destaque: Hopkins participa do Puya, Giménez é do A.N.I.M.A.L. e González integra o Maná.
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Durante entrevista à Rolling Stone Brasil, Andreas Kisser comentou como foi a produção do terceiro disco da banda, assim como celebrou a “liberdade” desse projeto, que o torna único em diversos âmbitos. Nas músicas, De La Tierra canta e traz letras em português e espanhol, com diversas influências das músicas latinas.
Mesmo lançado em 2023, De La Tierra III estava praticamente pronto em 2020, mas a pandemia de coronavírus atrasou a ida dos integrantes ao estúdio. “Obviamente, Sepultura e Maná estão na estrada, A.N.I.M.A.L. lançou disco novo, então, quando estamos prontos para fazer um disco novo, a gente começa a trabalhar sozinho: cada um na sua casa, no seu estúdio, fazendo as demos, uma coisa bem raiz,” explicou o músico brasileiro de 54 anos.
A partir daí a gente coleta umas 25, 30 ideias de acordo com o que a gente vai fazendo, escolhe ali depois as ideias melhores, umas 10 ou 12 músicas, e depois vai para uma sala de ensaio que geralmente é em Buenos Aires. Essa última vez foi em Miami.
O disco era para ter sido gravado em maio de 2020, mas todo esse processo de produção e pós-produção ficou para 2022. Na verdade, um dos principais desafios do De La Tierra é juntaros quatro integrantes em um mesmo lugar: “Quando temos esse espaço, a gente resolve e ficamos ali quase que um mês, fazendo a gravação.”
Com um disco novo, os fãs do De La Tierra podem esperar uma nova turnê da banda, mas nenhuma data foi definida pelos integrantes ainda. “Na minha opinião, fazer um disco e não sair em turnê é jogar energia fora,” disse Andreas Kisser. “A música está no palco. Não vejo a hora de realmente tocar com eles.”
Obviamente, essa é a parte mais difícil, sempre foi. Sepultura está ocupado, Maná e A.N.I.M.A.L. também. Tem que achar os buracos e as possibilidades de festival e shows.
É um trabalho um pouco mais árduo, mas que a gente já trabalha em cima, só que não tem nada ainda para divulgar. Sigam a gente aí na @delatierramusic e @delatierra.oficial para ter as informações de quando a gente tiver algo para anunciar.
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Abaixo, leia a entrevista completa com Andreas Kisser sobre De La Tierra III, novo disco de estúdio do De La Tierra:
Como foi o processo criativo do De La Tierra 3?
Desde o primeiro disco a gente tem esse método de trabalho, que é o que a gente conseguiu fazer segundo as nossas limitações, de espaço de calendário, de tempo… são muitas coisas. Obviamente, Sepultura e Maná estão na estrada, A.N.I.M.A.L. lançou disco novo, então, quando estamos prontos para fazer um disco novo, a gente começa a trabalhar sozinho: cada um na sua casa, no seu estúdio, fazendo as demos, uma coisa bem raiz.
A partir daí a gente coleta umas 25, 30 ideias de acordo com o que a gente vai fazendo, escolhe ali depois as ideias melhores, umas 10 ou 12 músicas, e depois vai para uma sala de ensaio que geralmente é em Buenos Aires. Essa última vez foi em Miami. Era para ter gravado em maio de 2020, mas a pandemia não deixou.
Ficamos 10 dias em Miami, escolhemos nove músicas, fizemos os arranjos, últimos detalhes e tudo e fomos para o estúdio.
O grande desafio é colocar a gente junto, os quatro no mesmo lugar. Quando temos esse espaço, a gente resolve e ficamos ali quase que um mês, fazendo a gravação. Depois, Stanley mesmo que coproduziu o disco e mixou, fez um trabalho fantástico. A gente tem essa proposta de fazer heavy metal, música pesada em espanhol em português, trazendo essas ideias ou influências da música brasileira, mexicana, porto-riquenha, da música folclórica argentina que a gente tem várias ideias, principalmente o Andrés Giménez traz muito disso.
Acho que o De La Tierra tem essa liberdade, de trazer uma música acústica como a “Distintos,” que a gente lançou na pandemia. Muito livre, muito aberto. A gente vai fazendo as demos e depois resolve tudo junto, o que fica e o que não fica.
São quase 7 anos desde o último disco da banda. O que você fez nesse tempo e como você e os integrantes do De La Tierra mantiveram contato?
A ideia do De La Tierra III surgiu, mais ou menos, em 2018. Em 2019, a gente começou a trabalhar as ideias das demos, as possibilidades de calendário. Tanto é que a gente foi para Miami em janeiro de 2020, quando fizemos a pré-produção e ajeitamos os últimos detalhes, e em maio era para ter ido ao estúdio. Demorou um ano pra gente escrever nossas demos e selecionar, até ter esse espaço de todo mundo se encontrar e fazer a pré-produção.
A gente tocou bastante com o De La Tierra II, inclusive fizemos o Rock in Rio, outros grandes festivais, alguns shows pelos Estados Unidos. Foi um período interessante do disco, mas realmente a pandemia quebrou um pouco do ritmo - não só para o De La Tierra, mas para todo mundo.
Porém, a gente soube ter paciência porque estava tudo pronto. Então a gente mexeu em nada até ir para o estúdio praticamente. Fizemos já o trampo em janeiro de 2020 e era só ir para o estúdio gravar.
Isso foi interessante, também, e importante, na verdade, para não ficar enchendo de linguiça e mudar onde não precisa. Tanto é que a gente esqueceu um pouco esse trabalho e pegou a “Distintos,” que é uma música acústica que eu tinha feito num backstage do De La Tierra em Santiago, Chile. Andrés escutou ali essa ideia, curtiu, gravamos ali e depois desenvolvemos esse tema. Essa música era para ter entrado no disco três, mas como saiu como um single, foi indicada ao Grammy Latino, foi algo importante para manter o De La Tierra se comunicando, trabalhando juntos durante a pandemia.
Manteve um pouco da ansiedade do disco de lado. Até que a gente começou a voltar, teve a possibilidade de ir para Miami gravar o disco lá no Criteria Recording Studios.
Deve ter sido muito angustiante para vocês, segurar um disco por quase três anos, com tudo na cabeça. Vocês estavam muito eufóricos?
É aquele finalmente, mesmo! De poder mostrar o disco, agora com Harold Hopkins no baixo, que traz uma característica diferente, ele é mais heavy metal, mais pesado. Tem também essas coisas dos ritmos porto-riquenhos. É um disco um pouco diferente porque é uma formação diferente. A gente sempre deu essa liberdade: quem entra realmente traz as suas características.
Isso que é o De La Tierra, essa liberdade. Quando junta os quatro a gente vai lá e faz um som. Obviamente querendo fazer um som pesado, metal.
Como você equilibra tantos trabalhos em diversos projetos, como Sepultura, Kisser Clan, de La Tierra, entre outros?
É questão de organizar calendário, ter uma ideia de antecedência… é realmente organização. Acho que dá para fazer tudo aquilo proposto. Se eu aceito um projeto, sei que terei capacidade e condições de fazer e achar um tempo para me dedicar e fazer da maneira que precisa ser feita. Não quero fazer nada também pela metade, aceitar uma coisa e depois não conseguir fazer.
Então, eu vou analisando propostas e as possibilidades, e vendo aonde eu posso fazer, onde eu posso chegar. Tem sido bom, acho que me estimula muito trabalhar com gente diferente, que tem conceitos diferentes da música, de várias coisas. Sempre é uma inspiração a mais, uma técnica diferente que se aprende vem de outro cara.
Acho que isso ajuda também a escapar daquele padrão e repetição que a rotina pode trazer, traz uma sensação de frescor, vamos assim dizer.
Sem dúvida! É essa coisa de trabalhar com gente diferente, ver possibilidades diferentes, entrar em conflito… tudo ajuda você a ter novas experiências e vivê-las. A arte proporciona isso, a música me levou para o mundo, Sepultura visitou 80 países em quase 40anos de história. A música tem essa possibilidade. Tenho amigos do mundo inteiro.
Além do que a música traz por si própria, tem como aproveitar todas essas consequências, de você usar a música como uma profissão e agregar para a pessoa, não só para o músico.
Você trabalha em músicas em inglês, português e espanhol. Como você lida com isso? Isso chega a ser um grande desafiou ou já se acostumou?
Eu adoro idiomas, gosto de estudar línguas, de falar, tô estudando um pouco de italiano, minha mãe e minha família falam alemão, eu posso entender um pouco, falo espanhol e inglês, gosto de ler russo quando posso - eu entendo po*** nenhuma, mas eu gosto de saber os sons, relacionado as letras e tudo, é muito interessante.
Tudo vira música no final, uma possibilidade musical. Eu componho minhas ideias. No De La Tierra a gente sempre deixa bem definido quem traz a ideia numa demo, e a ideia é dessa pessoa, independente de como vamos desenvolver aquilo depois. Então é bem livre, usamos o que gostamos e tiramos o que o grupo não gosta, não tem essa obrigatoriedade de ter que usar uma ideia minha ou do Andrés, seja lá qual for. Isso tem ajudado muito o projeto em não ter nenhuma coisa de ego nesse aspecto. No final, todo mundo sabe que tem dedo ali de todo mundo né, um tempero de todo mundo.
Vocês têm planos para fazer uma turnê no Brasil com De La Tierra 3?
Sem dúvida! Na minha opinião, fazer um disco e não sair em turnê é jogar energia fora. A música está no palco. Não vejo a hora de realmente tocar com eles. Obviamente, essa é a parte mais difícil, sempre foi. Sepultura está ocupado, Maná o A.N.I.M.A.L. Tem que achar os buracos e as possibilidades de festival, de shows.
É um trabalho um pouco mais árduo, mas que a gente já trabalha em cima, só que não tem nada ainda para divulgar. Sigam a gente aí na @delatierramusic e @delatierra.oficial para ter as informações de quando a gente tiver algo para anunciar.
O que os fãs podem esperar do futuro do De La Tierra?
O espaçamento entre discos foi muito culpa da pandemia, era para o disco ter saído em 2020, mas isso também não é importante, isso não se combina. De La Tierra tem um ritmo muito diferente de Sepultura, Maná, A.N.I.M.A.L.. É uma banda paralela realmente, mas que a gente curte e respeita muito. Então a gente vai trabalhando conforme as possibilidades. Esse é o outro desafio que faz o De La Tierra uma banda especial.
Os shows são únicos, especiais… são momentos raros quando a gente se junta. O que a gente espera dos fãs é que não percam essas oportunidades, que a gente possa celebrar isso juntos. Afinal de contas, é por isso que a gente faz o que faz, para ter essa celebração ao vivo no palco.
Estou fazendo isso aqui porque desde moleque eu estava lá na garagem querendo tocar guitarra o mais alto possível. É um privilégio estar aqui ainda fazendo isso. De La Tierra tem muito desse espírito: não é uma banda formada por um patrocínio, por uma gravadora ou por algum empresário. “Ah, vamos botar o Sepultura, Maná e A.N.I.M.A.L., juntos,” não é isso. São amigos que curtem a música. De um certo modo, a gente ainda tem 16 anos imaginando coisas incríveis para o De La Tierra dentro de uma garagem. Esse é o espírito.
E isso é muito bom ter em comparação com o que a gente tem com Sepultura ou com Maná, que é outro mundo, outro universo. Acho que é muito saudável, pelo menos para mim.