Ao longo de sua carreira, vocalista passou seis vezes pelo país com shows que tiveram galinha atirada no palco, guitarra arremessada e muito mais
Publicado em 01/02/2023, às 18h00
Ozzy Osbourneanunciou sua aposentadoria das turnês. Acometido por problemas de saúde, o vocalista disse pelas redes sociais que iria cancelar todos os shows de seu giro pela Europa e Reino Unido, que teria o Judas Priest na abertura, e ainda emendou: “nunca imaginei que meus dias de turnê acabariam dessa forma”.
É o fim de um ciclo que durou mais de 50 anos, desde os tempos de Black Sabbath. E trata-se de uma história que envolveu o Brasil por seis vezes, com passagens memoráveis pelo país nos anos de 1985, 1995, 2008, 2011, 2015 e 2018.
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Nos tempos de Black Sabbath, Ozzy Osbourne não chegou a vir ao Brasil para se apresentar. Era um período bem mais complicado para se viajar, tanto que na década de 1970 a lendária banda de heavy metal só percorria mesmo a América do Norte e a Europa, com tours bem esporádicas pela Oceania. Além disso, nosso país também não era destino de quase nenhuma atração internacional.
A estreia em solo nacional só se deu durante a carreira solo, mas foi em grande estilo. Ozzy foi o primeiro artista a assinar contrato para a primeira edição do festival Rock in Rio, realizada em janeiro de 1985 no Rio de Janeiro. Acompanhado de Jake E. Lee (guitarra), Bob Daisley (baixo), Tommy Aldridge (bateria) e Don Airey (teclados), ele tocou nos dias 16 e 19, dividindo palco com Rod Stewart, AC/DC, Scorpions, Whitesnake, Rita Lee, entre outros.
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À época, já corria muito fortemente a informação de que Osbourne tinha o curioso hábito de morder cabeças de morcego em shows — algo que na verdade só aconteceu uma vez, em 1982, e apenas porque ele achou que o animal se tratava de um brinquedo atirado por um fã. Por isso, o chamado “Príncipe das Trevas” teria sido obrigado a garantir em contrato que não machucaria nenhum animal durante a apresentação.
Curiosamente, algum fã brasileiro conseguiu atirar uma galinha no palco durante o primeiro show no Rock in Rio. O final, ainda bem, foi mais feliz: a ave foi retirada após circular desnorteada por um tempo. Animais à parte, as apresentações fizeram parte da turnê que promovia o álbum Bark at the Moon (1983) e trouxeram o seguinte repertório (via Setlist.fm):
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Levou uma década até que Ozzy Osbourne, já em 1995, retornasse ao Brasil. E a volta quase não aconteceu, porque ele havia anunciado aposentadoria dos palcos anos antes.
Em 1992, o cantor declarou que iria parar de fazer shows porque estava cansado da vida na estrada e, veja só, de sua imagem de “trevoso”. Não demorou muito tempo até que ele revelasse a verdade: o artista havia sido diagnosticado com esclerose múltipla, doença que iria comprometer bastante a sua movimentação.
Concluída a turnê que batizou de No More Tours (com direito a shows finais com a participação dos ex-colegas de Black Sabbath que renderam a saída do vocalista Ronnie James Dio), nosso querido e geralmente confuso cantor voltou ao hospital e descobriu que seu diagnóstico estava equivocado. Na verdade, ele tinha uma doença raríssima chamada síndrome de Parkin, similar ao Parkinson. O próprio diagnóstico de Parkinson veio décadas depois, conforme anúncio feito em 2020.
Fato é que ao saber que não tinha esclerose múltipla, o Madman decidiu retomar a carreira. Em setembro de 1995, um mês antes de lançar o álbum de seu retorno, Ozzmosis, retornou ao Brasil para duas apresentações no festival Monsters of Rock, promovido nos dias 2 e 6 do mês citado em São Paulo (estádio do Pacaembu) e Rio de Janeiro (Metropolitan — hoje Qualistage), respectivamente. Dividiu o palco com atrações como Alice Cooper, Faith No More, Megadeth e Therapy?, entre outros, como parte de sua própria tour batizada Retirement Sucks (“Aposentadoria é uma m*rda”, em tradução livre).
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Os músicos que o acompanharam na ocasião eram outros em comparação à primeira passagem e até mesmo à “falsa” turnê de despedida: Joe Holmes na guitarra, Deen Castronovo na bateria, John Sinclair nos teclados e o velho colega de Black Sabbath, Geezer Butler, no baixo.
O repertório em São Paulo (via Setlist.fm) está listado abaixo. No Rio de Janeiro, foram tocadas as mesmas músicas, mas com algumas inversões de ordem.
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As duas voltas seguintes ao Brasil ocorreram em 2008 e 2011. Foram marcadas por mudanças de formação, mas mantendo o nível da performance.
Em 2008, rolaram dois shows como parte da turnê que promovia o álbum Black Rain, lançado no ano anterior. As apresentações ocorreram nos dias 3 e 5 de abril, no Rio de Janeiro (HSBC Arena, hoje Jeunesse Arena) e em São Paulo (estádio Palestra Itália, hoje Allianz Parque), respectivamente. Seus músicos eram Zakk Wylde (guitarra), Blasko (baixo), Mike Bordin (bateria) e Adam Wakeman (teclados). As performances de abertura foram realizadas por Korn e Black Label Society — este último liderado pelo próprio Wylde, que fazia “jornada dupla”.
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Zakk, aliás, foi um dos grandes protagonistas por aqui. No show em São Paulo, fez solos até seus dedos (que estavam com pontos devido a ferimentos prévios) sangrarem, o que gerou fotos que circularam exaustivamente nas redes à época. Já no Rio, decidiu arremessar sua famosa guitarra modelo Rebel para a plateia. O problema é que os fãs não queriam devolver (ou entenderam que era um presente), então o próprio músico precisou descer para buscá-la. Um tumulto foi gerado e o headstock (a popular “mão”) do instrumento foi danificado. Detalhe: tudo isso rolou enquanto a clássica “Paranoid” era tocada.
O repertório tocado em ambas as ocasiões foi o seguinte:
1. I Don't Wanna Stop
2. Bark at the Moon
3. Suicide Solution
4. Mr. Crowley
5. Not Going Away
6. War Pigs (Black Sabbath)
7. Road to Nowhere
8. Crazy Train
9. Solo de guitarra de Zakk Wylde - cortado no Rio de Janeiro
10. Iron Man (Black Sabbath)
11. I Don't Know
12. No More Tears
13. Here for You
14. I Don't Want to Change the World
Bis:
15. Mama, I'm Coming Home
16. Paranoid (Black Sabbath)
Já em 2011, Zakk Wylde não veio ao Brasil. Ele estava fora da banda de Ozzy Osbourne e sua vaga era ocupada por Gus G. Mike Bordin também não estava a cargo da bateria; o posto passou a ser de Tommy Clufetos. O cantor divulgava o álbum Scream, lançado um ano antes, e realizou aquela que seria a sua turnê mais extensa pelo país, com cinco apresentações nos seguintes locais e datas:
Os presentes testemunharam o seguinte repertório, sem qualquer alteração entre as cidades:
Bis:
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Menos de meia década depois, em 2015, Ozzy Osbourne retornou à nossa terra. Agora, para fazer jus às suas primeiras passagens, seria como parte de um festival: novamente o Monsters of Rock. Além do evento principal em São Paulo (que tinha Kiss, Judas Priest, Motörhead, Manowar, Rival Sons e várias outras bandas distribuídas em dois dias), realizado em 25 de abril na Arena Anhembi, o vocalista se apresentou no itinerante Monsters Tour, junto de Judas Priest e Motörhead, em Curitiba (Pedreira Paulo Leminski) e Porto Alegre (Gigantinho), respectivamente nos dias 28 e 30 do mesmo mês.
A formação trazida foi a mesma da última ocasião e o repertório não mudou tanto: trouxe apenas algumas músicas a menos. Veja as músicas tocadas em todas as cidades:
Bis:
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Por fim, 2018 deve marcar a última passagem de Ozzy pelo país. O vocalista já estava consciente de que não lhe restava tanto tempo de estrada, então, confirmou no ano anterior uma (segunda) turnê de despedida, a No More Tours 2. Para a ocasião, trouxe de volta seu fiel escudeiro Zakk Wylde, marcando o fim da parceria com Gus G. Os demais músicos — Blasko, Tommy Clufetos e Adam Wakeman — foram mantidos.
O itinerário foi um pouco mais longo que o de 2015, com quatro shows:
O repertório tocado também era um pouco mais extenso que o da tour passada. A saber:
Bis:
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E, assim, muito possivelmente, Ozzy Osbourne encerrou sua história como artista de turnês no Brasil. Em 2019, enquanto se recuperava de uma infecção respiratória que quase evoluiu para uma pneumonia, o vocalista sofreu um forte tombo em casa que agravou problemas de coluna já causados por uma queda de quadriciclo, ocorrida no início do século. Passou por diversas cirurgias, mas não conseguiu recuperar a mobilidade. Um ano depois do episódio, anunciou ao mundo que estava com Parkinson.
Nada disso foi capaz de parar Ozzy em definitivo. Ele gravou e lançou dois álbuns desde então: Ordinary Man (2020) e Patient Number 9 (2022), ambos com produção de Andrew Watt (Post Malone, Justin Bieber, Miley Cyrus). Em entrevistas, tem deixado claro que não quer parar de forma definitiva, mesmo que permaneça apenas registrando canções novas. Afinal, tudo o que Ozzy soube fazer em sua vida foi música.
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.