Anúncios do ICE estão por toda parte nos seus serviços de streaming favoritos

Se uma voz distópica pedindo para você “cumprir sua missão” de capturar imigrantes indocumentados surgiu nas suas transmissões de streaming, você está longe de ser o único.

Nos últimos dois meses, usuários online relataram estar vendo e ouvindo uma quantidade maior de anúncios de recrutamento do Departamento de Segurança Interna em serviços de streaming como Pandora, Spotify e Max — e até durante o MTV VMAs de setembro.

A nova onda publicitária, que tem enfrentado reação negativa online, seguiu o investimento de US$ 30 bilhões (R$ 56 bilhões na cotação atual) da administração Trump para contratar pelo menos 10 mil agentes de deportação adicionais até o final do ano, segundo a Associated Press. “Você fez um juramento de proteger e servir, de manter sua família, sua cidade, seguras”, diz o narrador em alguns anúncios direcionados a policiais locais. “Mas nas cidades santuário, você recebe ordens de recuar enquanto ilegais perigosos andam livres”.

Em meados de outubro, especificamente, ouvintes de música no plano gratuito com anúncios do Spotify relataram ouvir publicidade similar na plataforma, com alguns optando por encerrar suas assinaturas devido aos anúncios. Quando contatado para comentar, um representante do Spotify disse à Rolling Stone que os comerciais do DHS faziam parte de uma “campanha ampla” da agência governamental e que não violavam nenhuma política de publicidade na plataforma.

Mas os anúncios de recrutamento têm sido veiculados em várias plataformas de streaming, com fãs sinalizando preocupações com os anúncios no Hulu, Max, YouTube e Pandora, desde abril.

De acordo com novos dados da Equis obtidos pela Rolling Stone, o DHS gastou um total de US$ 2,8 milhões em anúncios em inglês e espanhol no Facebook e Instagram da Meta desde primeiro de março, e mais meio milhão em anúncios de recrutamento do ICE na plataforma desde agosto.

No Google e YouTube, o DHS gastou quase US$ três milhões em publicidade especificamente em espanhol visando promover a autodeportação. Embora a Equis não consiga rastrear dados de gastos com anúncios no Spotify, Pandora e outras plataformas, uma fonte do setor disse à Rolling Stone que o Spotify havia recebido apenas US$ 74 mil do DHS para veicular seus anúncios. Esse valor representa menos de três por cento do que o governo gastou no Google e Meta.

Os novos dados compartilhados em 11 de novembro seguem informações de rastreamento de anúncios da Equis e Priorities USA que confirmaram que a administração Trump havia gasto mais de US$ 10 milhões em publicidade para o DHS e ICE.

“Estamos vendo que algumas dessas campanhas começaram ativamente durante outubro, claramente depois que a paralisação começou, o que é fundamental para esta história”, disse Natalia Campos Vargas, diretora adjunta de pesquisa para mensagens na Equis, à Rolling Stone na semana passada. “Durante a paralisação do governo, onde funcionários estão sendo licenciados, essas entidades governamentais ainda estão gastando milhões de dólares em publicidade em TV e plataformas digitais”.

De acordo com o memorando, o governo até aumentou os gastos com anúncios durante a paralisação. Especificamente, o DHS aumentou os gastos com anúncios no YouTube, subindo de US$ 292 mil (R$ 1.5 milhão) apenas em setembro para US$ 332 mil (R$ 1.7 milhão) nas primeiras três semanas de outubro.

Em uma declaração à Rolling Stone em dois de novembro, a Secretária Adjunta do DHS, Tricia McLaughlin, confirmou que o financiamento veio deste projeto de lei, e que “contratar agentes da lei é crítico para a missão a fim de consertar a crise que a administração Biden fabricou ao deixar milhões de estrangeiros ilegais criminosos entrarem no país… Nada vai nos impedir de recrutar mais agentes”.

Em uma discussão pública da comunidade Pandora iniciada em maio de 2025, um usuário que disse ser usuário do Pandora há mais de 15 anos compartilhou que estava cancelando sua assinatura devido a um “número esmagador” de anúncios do DHS. A discussão recebeu comentários repetidos de mais usuários compartilhando sua frustração ao receber anúncios similares.

“Isso não é uma falha aleatória. É o resultado de segmentação de anúncios que equipara preferência musical com status de imigração”, dizia a nota do usuário. “Sua plataforma parece estar permitindo (ou facilitando) anúncios que fazem perfil racial e cultural de usuários com base no idioma da música que eles apreciam”.

Em agosto, o DHS confirmou ao The Independent que estaria veiculando anúncios no YouTube, Max, Amazon Prime Video, X, LinkedIn e outras plataformas de internet. Várias discussões no Reddit falaram sobre pessoas optando por VPNs para fazer streaming sem receber os anúncios, enquanto outras optaram por cancelar suas assinaturas completamente. “Não é apenas o fato de que eles estão anunciando, é o quão TERRÍVEIS os anúncios realmente são”, escreveu um usuário. “Esqueça a besteira cheia de ódio, apenas a pura estupidez de veicular aquele anúncio em Denver é absolutamente ABSURDA”, acrescentou outro.

Da mesma forma, canais em espanhol como Univision e Telemundo também veicularam anúncios com Kristi Noem instando “estrangeiros ilegais” a não entrarem no país. “Junte-se à missão de proteger a América com bônus de até US$ 50 mil (R$ 263 mil) e benefícios generosos. Inscreva-se agora em join.ice.gov e cumpra sua missão”, diz um anúncio.

Quando contatada para comentar, a Secretária Adjunta do DHS, Tricia McLaughlin, disse à Rolling Stone que não havia “nada ofensivo ou partidário” em remover o que chamou de criminosos dos Estados Unidos. “A campanha de recrutamento do ICE é um sucesso retumbante com mais de 150 mil inscrições chegando de americanos patriotas atendendo ao chamado de defender a Pátria ajudando a prender e remover os piores dos piores do nosso país”, disse McLaughlin.

No início deste mês, a AP relatou que os gastos com anúncios do DHS haviam ultrapassado US$ 6,5 milhões, e que anúncios foram veiculados em várias grandes cidades, incluindo Seattle, Chicago, Washington, D.C. e Miami, visando recrutar agentes locais frustrados com as políticas de fiscalização de imigração de suas cidades.

HBO, Pandora e Hulu não responderam imediatamente ao pedido de comentário da Rolling Stone. O YouTube não fez comentários.

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