ENTREVISTA

‘Arte precisa de alma’: Alok destaca o poder dos humanos sobre IA no Coachella

O DJ brasileiro tocou na Tenda Sahara com 50 dançarinos da Urban Theory e recebeu Ava Max para uma duas músicas

Tomás Mier, Rolling Stone EUA

Publicado em 14/04/2025, às 13h14
Alok no Coachella 2025 - Foto: Matt Winkelmeyer/Getty Images for Coachella
Alok no Coachella 2025 - Foto: Matt Winkelmeyer/Getty Images for Coachella

Alok não é estranho ao uso de tecnologia em seus shows futuristas ao redor do mundo, mas no Coachella, ele colocou os holofotes sobre o poder do coletivo humano. Na noite de sábado, o astro brasileiro fez um set hipnotizante no palco Sahara, acompanhado por 50 dançarinos do grupo Urban Theory.

"Estamos discutindo no mundo como a inteligência artificial está dominando tudo, até mesmo as artes", disse Alok à Rolling Stone sobre sua performance. "Como podemos manter a arte humana? Porque a arte precisa de alma. Eu sei que robôs e IA podem fazer coisas com base no que aprenderam, mas eles têm alma para criar arte de verdade? Eu acho que a arte precisa de alma."

Alok foi acompanhado por um grupo de 50 dançarinos do coletivo Urban Theory, vestidos como robôs, com roupas prateadas e luvas metálicas, fazendo coreografias manuais tão suaves que pareciam quase automatizadas. As telas exibiam a mensagem: “Isto não é IA.”

Um dos momentos mais impactantes do show foi inspirado pelo meio ambiente — uma causa que Alok defende junto a ativistas indígenas brasileiros na Amazônia, arrecadando milhares de dólares para combater as mudanças climáticas. Os movimentos dos dançarinos transformaram-se em uma enorme árvore e ondas psicodélicas se quebrando. Essa parte também faz referência à sua ONG The Future Is Ancestral, uma iniciativa celebrada pela UNESCO, dedicada a amplificar as vozes dos povos indígenas no mundo.

A cabine de DJ de Alok foi sustentada por duas mãos prateadas gigantes, que o acompanham ao longo de sua carreira. Mas, no sábado à noite, representavam “um símbolo poderoso sobre a energia e o poder que os humanos têm de criar.” A apresentação no Coachella será uma plataforma ainda maior para o artista, que já é global e fez história como indicado duas vezes na primeira edição da categoria de Melhor Performance de Música Eletrônica Latina no Grammy Latino.

"Precisamos estar conectados neste momento de transformação", diz Alok. “Acho que essa é a mensagem do show: inspirar as pessoas por meio da arte a se conectarem, a estarem em sintonia, a enfrentarem esse momento como um coletivo.”

O astro brasileiro nos guia por seu set e fala sobre preparar a participação surpresa de Ava Max.

Fale sobre seu processo criativo para esse set.
Essa ideia veio do diretor criativo Fabio [Soares], que foi extraordinário. Foi um desafio porque estávamos indo para o Coachella pela primeira vez, mas não poderíamos usar drones, lasers. É um lugar onde é muito importante que o artista se posicione no mercado por conta própria. Queríamos preparar algo especial.

Foi engraçado porque quando postamos o vídeo de divulgação, muita gente falou: “Ah, isso é IA.” Não é IA. É uma loucura ver como a IA dominou tudo. No fim das contas, a mensagem que quero passar para todos é: mantenham a arte humana.

No seu espaço, onde a tecnologia tem grande destaque, por que é importante ressaltar o poder dos humanos?
Acho que a tecnologia é uma ferramenta muito importante que temos, mas não podemos permitir que ela nos controle. Estamos vivendo um momento muito desafiador agora. A tecnologia nos beneficia de muitas formas, mas também é muito importante entender que os humanos não podem ser substituídos. Claro, precisamos nos adaptar às mudanças do mundo, mas há coisas que precisam da alma humana.

Como você vê essas mudanças acontecendo?
Sabe, tudo o que estamos discutindo agora será totalmente diferente daqui a seis meses ou um ano. Tudo está mudando muito rápido. E, à medida que tudo avança rapidamente, também é importante tentar evitar que a IA simplesmente domine tudo.

O que você espera que as pessoas levem da sua apresentação como um todo?
Hoje em dia, tudo é IA, e agora temos uma grande oportunidade de fazer algo que não é — e que continua sendo incrível. Sempre fui muito focado em tecnologia, e depois comecei a falar sobre proteger a natureza. E aí as pessoas perguntaram: “Mas por que tecnologia?” Na verdade, é pelo mesmo motivo. Posso dizer com confiança que, com tudo que temos de tecnologia, ainda há coisas que não podem ser substituídas. Essa é minha posição. Sinto que também estamos aprendendo com esse processo.

Como artistas, temos a responsabilidade de impulsionar a cultura. Coachella é esse grande momento, uma plataforma enorme, e também um espaço onde precisamos tentar levar a cultura adiante e posicioná-la. Eu não ficaria satisfeito em apenas estar lá e fazer um show normal. Estou muito orgulhoso da mensagem que passamos, porque todos estamos discutindo a importância dos humanos estarem conectados na mesma sintonia.

Você é um dos dois brasileiros no line-up este ano, depois da saída da Anitta. Como é ser um dos poucos representando o Brasil?
Bom, para ser honesto, isso não me deixa orgulhoso porque no ano passado tínhamos mais brasileiros. Na verdade, é um retrocesso, mas pelo menos estou lá. Gostaria que tivéssemos mais. No Brasil, Coachella é super famoso, todo mundo adora acompanhar e assistir. Glastonbury? Ninguém sabe o que é. Mas o Coachella é super popular. Sinto que os brasileiros ficam muito orgulhosos com isso.

Você vai trazer a Ava Max para o palco. Como é sua relação com ela e por que decidiu levá-la para essa apresentação?
Isso aconteceu na semana passada, na verdade, poucos dias atrás. Precisei refazer meu set para incluí-la. Achei importante colocar duas músicas. Uma vai ser “Sweet but Psycho”, mas é uma versão nova que fiz para que o público reconheça quem está no palco. A segunda será “Car Keys”, minha música com ela. É uma faixa que funciona super bem na cena de música eletrônica. É minha primeira vez no Coachella. Nunca estive lá. Para mim, também é uma experiência muito nova e empolgante. Estou muito ansioso.

Como foi trabalhar com o Urban Theory?
Tudo isso é novo para eles também. É um sonho para eles. É um sonho coletivo. Foi assim que conseguimos fazer acontecer. Caso contrário, não teria sido possível.

Tem alguém que você está animado para ver no Coachella esse ano?
Gostaria muito de ver Green Day, Travis Scott, Keinemusik e, no próximo sábado, Ed Sheeran também. Tem muitos nomes legais. Temos dois finais de semana para curtir. Toda a família está em LA agora. Vamos passar um mês inteiro lá. Eles estão super felizes de estar aqui.

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