As 13 músicas mais essenciais de Lorde, segundo Rolling Stone
Nos holofotes desde os 16 anos, a cantora completa 13 anos de carreira; confira os momentos mais marcantes dessa jornada
Gabriela Nangino (@gabinangino)
Atração confirmada no Lollapalooza Brasil 2026, Lorde é uma cantora e compositora neozelandesa. Seu último álbum de estúdio, Virgin, foi lançado em junho de 2025, e atualmente a artista realiza sua quarta turnê mundial, a Ultrasound World Tour.
Ella Yelich-O’Connor escolheu o nome artístico Lorde porque possuía um fascínio com a realeza e a aristocracia — vide o título de suas primeiras canções, “Royals” e “Million-dollar bills”. Apesar de comumente categorizada como artista pop, Lorde mescla referências de estilos diversos, desde o indie, eletrônica, rock experimental e folk.
Filha de um engenheiro e da renomada poeta Sonja Yelich, Ella era uma jovem que gostava de passear na sua cidade, Auckland, com os amigos — ou então imergir em livros e música. Aos 12 anos, ela foi descoberta em um concurso escolar pelo produtor local Joel Little e começou a compor.
Lorde tinha 16 anos quando lançou seu primeiro EP, The Love Club, em março de 2013. O disco continha cinco faixas, que depois integrariam seu primeiro álbum de estúdio, Pure Heroine, lançado em setembro do mesmo ano pela gravadora Universal.
A trajetória musical de Lorde passou por uma clara evolução ao longo dos anos. Pure Heroine (2013) captura a essência da juventude, a descoberta (e o medo) da liberdade. Melodrama (2017) marca a entrada da cantora na vida adulta, retratando os excessos, a solidão e as contradições do amor com uma sonoridade mais sofisticada.
Em Solar Power (2021), Lorde abandona o caos e o peso emocional dos álbuns anteriores para abraçar um tom mais leve, acústico e conectado à natureza, que reflete um momento de introspecção e busca por equilíbrio em sua vida pessoal. Já Virgin (2025) rompe com essa serenidade: é seu trabalho mais cru e experimental, em que a artista encara temas controversos com vulnerabilidade.
Nesta sexta, 7 de novembro, Ella Yelich-O’Connor completa 29 anos, e quase 13 anos de carreira na música. Em homenagem à sua trajetória excepcional, a Rolling Stone Brasil uniu as 13 músicas mais significativas da vida de Lorde — seja em produção, impacto ou significado — para você conhecer melhor o fenômeno por trás de Virgin.
“Royals”
Um clássico do pop dos anos 2010, “Royals” foi o primeiro single do primeiro EP de Lorde, marcando toda uma geração de jovens. A música expressa a falta de identificação da cantora com os exageros da fama e ostentação que dominavam a cultura pop. No videoclipe, há um contraste entre a vida suburbana na Nova Zelândia, que Lorde experienciou durante sua adolescência, e a estética de luxo que a música critica.
Apesar da produção minimalista, a autenticidade de “Royals” garantiu a Lorde quatro indicações ao Grammy; ela venceu nas categorias Música do Ano e Melhor Performance Pop do Ano. Posteriormente, vários artistas reinterpretaram a canção, inclusive estrelas como Bruce Springsteen — que apresentou uma versão acústica durante sua turnê em 2014.
“Tennis Court”
“Tennis Court” simboliza a nostalgia de Lorde à sua vida pré-fama: ela demonstra o desconforto diante da exposição pública, ao mesmo tempo em que critica a superficialidade da indústria musical. A constante tensão entre a vida comum e o novo mundo que a fama lhe apresenta é representada pela “quadra de tênis”, onde o familiar e o desconhecido se encontram.
“Mas minha cabeça está se enchendo rapidamente com os jogos imorais, em chamas / Como vou me divertir de novo quando sou conhecida? / E os meus amigos inflam meu ego de novo, amo eles / Tudo está bem quando estamos todos em fila diante do trono / Mas sei que não é para sempre”, canta.
No videoclipe, dirigido por Joel Kefali, Lorde encara a câmera quase imóvel, em um único plano fixo, com expressões contidas e iluminação fria. Ela desafia os videoclipes pop tradicionais, transformando “Tennis Court” em um manifesto artístico sobre a construção de uma identidade autêntica em momentos de volatilidade.
“Buzzcut Season”
Assim como a premissa de Pure Heroine, “Buzzcut Season” é um retrato das preocupações de uma adolescente com sua vida mundana e, ao mesmo tempo, o peso emocional deste momento da vida. Lorde tenta se distanciar da angústia, buscando pequenos prazeres e conexões humanas.
A expressão “buzzcut season”, ou temporada do cabelo curto, funciona como uma metáfora para as mudanças estéticas superficiais que marcam a juventude, como forma de se alienar frente às tragédias da realidade. É uma canção sobre escapismo: Lorde aborda a sensação de viver em uma realidade artificial, e se blindar para o mundo lá fora.
“Explosões na TV / Mas nós vivemos ao lado da piscina, onde tudo está bem / E eu nunca mais irei para casa / […] onde nada está errado, mas nada é verdade / Eu vivo em um holograma com você”, canta.
“Ribs”
“Ribs” é uma das mais icônicas músicas de Lorde, na qual ela explora o medo de envelhecer e a perda da inocência juvenil. A produção eletrônica cria uma atmosfera onírica, que mescla o momento de euforia de uma festa ao lado de boas amizades com a melancolia de que isso tudo está passando — ou mudando. Simultaneamente inspiradora e triste, “Ribs” proporciona sensações que variam a depender do estado de espírito do ouvinte.
Em entrevista ao The Fader, a artista comentou sobre o processo de criação da música. “A gente saiu uma noite, numa festa enorme, acho que escrevi lá pelas 4h da manhã. Eu estava meio zonza. Obviamente, estou numa indústria onde se dá muita importância à minha idade, o que sempre me pareceu uma loucura. Quando lancei [Pure Heroine], não disse minha idade porque não queria que isso ofuscasse o que eu estava fazendo”, disse.
O refrão se repete diversas vezes, reforçando a sensação de ansiedade e medo do futuro: “Este sonho não está sendo legal / Estamos cambaleando pelas ruas à meia-noite / E eu nunca me senti tão sozinha / Envelhecer dá tanto medo.”
“Green Light”
Faixa de abertura de Melodrama, “Green Light” representa o início de uma noite. “Eu faço minha maquiagem no carro de outra pessoa”, começa a personagem. Ela está carregada de raiva e rancor pelo fim de um relacionamento, e relembra as mentiras que seu namorado lhe contou — enquanto admite que continua o esperando em todos os lugares. “Novos sons na minha mente / mas amor, eu estarei te vendo em qualquer lugar que for / eu busco minhas coisas, mas não consigo desapegar”, promete.
Esse lançamento foi um momento de transição para Lorde, tanto em temática quanto em sonoridade. Em entrevista à Apple Music, ela afirma que deixava de lado parte da pose de adolescente para explorar emoções de amadurecimento, perda e recomeço. A música começa com um piano melancólico e avança para um refrão explosivo, bem diferente do minimalismo de seus trabalhos anteriores.
“Eu sempre quero correr em direção àquilo que parece desafiador, assustador e emocionante, e isso não se resume mais a uma batida de bateria e um vocal. Porque esse tipo de música esteve em primeiro lugar nas paradas por dois anos. Realmente parecia que havia um excesso desse tipo de música, o que me deixa feliz, como alguém que faz parte do movimento minimalista, mas também me fazia pensar: “Tem que haver uma maneira diferente de expressar o que estou sentindo”, contou ao The Spinoff.
“Hard feelings/Loveless”
Ao longo de seis minutos de duração, “Hard Feelings/Loveless” representa duas fases distintas de um mesmo sentimento. Ela começa como uma faixa reflexiva, explorando o sentimento de solidão após o término de um relacionamento. No minuto 3:55, entretanto, há uma mudança drástica na sonoridade, e se inicia “Loveless”. Nesta segunda parte, a artista canta sobre a “geração sem amor”, criticando a superficialidade das relações contemporâneas.
Combinando dor emocional e experimentação sonora, Lorde cria um verdadeiro labirinto de sensações e exalta o sofrimento, a raiva e a apatia do processo de lidar com um coração partido. A artista utiliza sintetizadores distorcidos para criar um som eletrônico áspero, até um pouco fora do tom; segundo ela, a sensação da música é “estar sentada no carro, adiando o momento em que você tem que abrir a porta e adentrar na sua vida real.”
“Supercut”
“Supercut” é uma música sobre nostalgia. Lorde idealiza as memórias de um relacionamento passado: a letra descreve uma montagem dos momentos felizes (“supercut”) em sua mente, ao mesmo tempo em que se depara com a realidade de que o relacionamento terminou.
Ela é considerada pelos fãs como uma canção irmã de “Ribs“, por evocar sentimentos agridoces de forma semelhante. Uma curiosidade desta faixa sobre sua produção: Lorde gravou os vocais em um canto do estúdio, a uma certa distância do microfone, resultando em um som abafado que ela compara a uma secretária eletrônica.
Em entrevista ao The Spinoff, a cantora comentou: “Senti como me sentia quando fazia música na infância, e senti vontade de chorar porque é um alívio enorme poder expressar meus sentimentos pela primeira vez. Lembro-me de pensar: ‘Meu Deus!’. Foi uma gratidão imensa por todo o processo. Pensei: ‘Minha válvula de escape!’”
“Liability”
Em “Liability”, Lorde fala com vulnerabilidade sobre se sentir como um fardo para as pessoas à sua volta, tema raramente abordado tão frontalmente no pop. Essa é uma das canções mais lentas do álbum, e explora a solidão, a autocrítica e o impacto da fama na vida pessoal da cantora.
A narrativa se inicia com a personagem chorando no táxi, após um desentendimento com seu namorado. Ela chega em casa, e canta: “Vou para os braços / Do único amor que eu não arruinei / Nós dançamos devagar na sala de estar / Mas tudo que um estranho veria / Seria uma garota balançando sozinha”. Lorde afirmou que escreveu essa canção quando percebeu que, devido ao estilo de vida do seu trabalho, “vai chegar um momento em que serei um peso para todas as pessoas ao meu redor”.
Ela conta que se surpreendeu com muitas mensagens de identificação dos ouvintes na época do lançamento. “Eu amo muito essa música e ela me parece tão incrivelmente verdadeira. E acho que todo mundo sabe como é se sentir um peso morto”, disse à NME. “Foi incrível escrevê-la. Foi realmente… foi tão catártico, tipo: ‘Este é um lugar onde nunca estivemos antes’”.
“The Path”
Na faixa de abertura de Solar Power, “The Path”, Lorde conta que queria acabar com a ilusão de que tinha todas as respostas. “Eu sei o suficiente sobre como as pessoas me veem – somos ensinados a ver pessoas famosas como deuses hoje em dia – e eu só queria desmantelar isso”, afirmou ao The Guardian.
A inspiração para essa música foi o Met Gala de 2016. Lorde narra que roubou um garfo para sua mãe, observou “supermodelos dançando” e admitiu: “Se você está procurando por uma salvadora / Bem, essa não sou eu”. A cantora também aborda a quebra de expectativas que enfrentou em sua própria vida. “Onde estão os sonhos que tínhamos? / Não consigo mais encontrá-los”, canta.
Mas ela finaliza com “vamos torcer para que o Sol nos mostre o caminho”. Esse trecho traduz o sentimento que conduz Solar Power: a esperança de encontrar a si em meio ao caos e às crises que inundam o mundo.
“Oceanic Feeling”
A última faixa de Solar Power, segundo Lorde, é a mais pessoal do álbum. Ao longo de quase sete minutos, Lorde reflete sobre a relação da cantora com sua família, especificamente com seu irmão, Angelo, e sobre as experiências de gerações passadas que moldaram seu presente. Ao mesmo tempo, “Oceanic Feeling” aborda sua busca pessoal por pertencimento e aceitação.
Sentimento oceânico é um conceito da psicologia que descreve a união com o todo, quando o “eu” se dissolve no coletivo. Algumas semanas após o lançamento do álbum, Lorde lançou um EP com faixas regravadas em Te Reo Māori, idioma indígena nativo da Nova Zelândia. “Eu sei que sou alguém que, de alguma forma, representa a Nova Zelândia para o mundo. Então, ao fazer um álbum sobre meu lugar de origem, era importante para mim ser capaz de dizer: é isto que nos torna quem somos aqui”, explicou em comunicado.
A música começa com um som ambiente de água, e se desenvolve com instrumentação crescente. Mesmo que a cantora não tenha encontrado respostas definitivas para as suas perguntas, ao fim da canção ela se sente em harmonia com o universo. Lorde confessa que contemplou muito sobre a passagem do tempo durante a produção deste álbum: “Estamos todos no mesmo ônibus. Em algum momento, temos que pegar o ônibus de volta.”
“What Was That”
Primeiro lançamento de Virgin, “What Was That” descreve uma jovem mulher dissipando a fumaça de um relacionamento que chegou ao fim. Porém, a canção aborda muito mais do que um término: assim como no restante do disco, Lorde se propõe a desconstruir a antiga versão de si mesma e, de fato, recomeçar. A cantora não está lamentando seu passado, mas se inserindo neste espaço como um pivô de criatividade.
A música marcou o retorno de Lorde ao pop caótico do início de sua carreira, após romper com esse modelo em Solar Power. “Em Virgin, o renascimento está presente em cada verso: o álbum é selvagem, indomável e físico, repleto da voz mais visceral de Lorde até hoje”, escreveu Brittany Spanos em matéria de capa da Rolling Stone EUA.
Na canção, Lorde fala de forma bastante aberta sobre o uso de psicodélicos. Durante a Solar Power Tour (2022-2023), a artista começou uma terapia com MDMA e psilocibina para lidar com o medo dos palcos, e deixar “a euforia libertar seu corpo e sua mente”. Esse processo catártico também a ajudou a enfrentar outras batalhas, como o transtorno alimentar, que ela aborda em “Broken Glass”.
“Man of The Year”
Segundo a própria Lorde, “Man Of The Year” é a faixa que ela mais se orgulha em Virgin. Em um processo complexo de transformação pessoal, a cantora confronta sua própria identidade.
A música começa com uma base delicada de guitarra e sintetizadores, mas explode em um refrão com sons distorcidos e percussão forte. Lorde a descreve como “uma oferenda que vem de um lugar profundo”, e afirma que buscava produzir algo “selvagem, primitivo e bastante cru”.
O título da faixa foi inspirado pela festa Men of the Year, da GQ — a artista ironiza a conquista de um espaço tradicionalmente masculino, ao mesmo tempo em que questiona sua relação com a feminilidade. Embora ainda se considere uma mulher cis, ela diz que está “em um meio-termo em questão de gênero”, e se sente mais confortável com expressões fluidas.
No videoclipe, Lorde, de topless, aplica fita adesiva nos seios para simular uma aparência andrógina, mostrando-se completamente vulnerável ao ouvinte. “[Chappell Roan] me perguntou: ‘Então, você é não-binária agora?’ E eu respondi: ‘Sou uma mulher, exceto nos dias em que sou um homem’. Sei que não é uma resposta muito satisfatória, mas há uma parte de mim que resiste muito a me rotular”, disse à Rolling Stone.
“Shapeshifter”
Considerada por alguns fãs como a melhor música do novo álbum, “Shapeshifter” fala sobre a dinâmica dos relacionamentos de Lorde e a sua tendência a se afastar das pessoas por quem se apaixona para não revelar suas fraquezas. “Não durmo, não sonho / Não dou nada pessoal a eles / Para não ser afetada”, canta. A canção cria uma atmosfera hipnótica, misturando sussurros com momentos de grande intensidade.
Uma das artistas que inspirou Lorde na criação de Virgin foi a britânica Tracey Emin, na escultura Everyone I Have Ever Slept With (em tradução livre, Todo Mundo Com Quem Eu Já Dormi), de 1995. “Aquela obra me impactou profundamente. É uma espécie de tenda pop bordada com os nomes de todas as pessoas com quem ela já dormiu, seja em encontros casuais ou apenas dividindo a cama”, disse.
Em um verso da música, ela canta: “Todo mundo com quem eu já dormi / Todos os metais que já enviei por mensagens / Se estou bem sem isso, por que não consigo parar?”. A letra expressa uma luta entre a versão de Lorde que tenta se manter indiferente e o desejo de se despir das máscaras.
“Acho que muitas mulheres têm esse condicionamento que as leva a querer parecer… a querer ser a menor versão possível de si mesmas”, disse ela. “Levei um segundo para pensar: ‘E se não fizéssemos isso? O que aconteceria com a sua vida se você se rendesse ao tamanho que você deveria ter?”
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