As reflexões de Eddie Vedder sobre a perda do amigo Chris Cornell

Eddie Vedder (Pearl Jam) e Chris Cornell (Soundgarden/Audioslave) mantiveram uma amizade por décadas. Em 1990, os vocalistas trabalharam juntos no único álbum do projeto Temple of the Dog, lançado no ano seguinte. Também foi em 1991 que as bandas de ambos os cantores começaram a ficar famosas, com os álbuns Ten e Badmotorfinger, respectivamente.

Infelizmente, em 2017, Cornell nos deixou. Vedder evita falar publicamente sobre o tema — no máximo, faz desabafos ocasionais em shows solo, sem entrar em detalhes pessoais a respeito da relação.

Uma rara ocasião de rompimento do protocolo se deu em 2020, quando Eddie comentou a situação em entrevista ao programa do radialista Howard Stern (via Blabbermouth). Na ocasião, o cantor admitiu ter entrado em uma “espécie de negação” após a perda.

“Sinto que nem tive escolha. Fiquei apavorado com relação a onde eu iria se me permitisse sentir o que eu precisava sentir, ou o que instintivamente estava querendo sentir, ou o quão sombrio era essa sensação.”

Eddie confessou, ainda, ter uma espécie de arrependimento, pois não manteve tanto contato com Chris. Isso ocorreu por meras circunstâncias da vida, já que cada artista tinha seus compromissos, geralmente na estrada.

“Não o vi com frequência nos últimos 10 anos — provavelmente, umas quatro ou cinco vezes, e geralmente em um show. Ainda não lidei com isso. Vou ficando mais forte conforme o tempo passa.”

Ainda durante a entrevista, o cantor do Pearl Jam refletiu sobre a conexão com o colega de Soundgarden, indo além da afinidade musical. De acordo com Vedder, a proximidade era tamanha ao ponto de superar a que tinha com seus colegas de banda.

“Éramos próximos. Não era só por tocarmos música. Éramos vizinhos. Saía com ele fora da banda muito mais do que os outros caras da banda. Não conhecia tantas pessoas em Seattle, então, saíamos em aventuras loucas de caminhada, ou mountain bike, ou perseguíamos um cachorro na chuva enquanto bebíamos cerveja ruim. E era legal. Não tinha nada a ver com estar próximo de outras pessoas da música ou qualquer coisa típica de Los Angeles.”

Eddie Vedder e a perda de Chris Cornell

Um mês após a morte de Chris Cornell, em junho de 2017, Eddie Vedder fez um emocionado desabafo durante um show realizado no Hammersmith Apollo, em Londres. Apresentando-se solo na ocasião, o vocalista do Pearl Jam lembrou que também havia perdido um de seus irmãos alguns anos antes e deixou uma mensagem a quem foi afetado pela perda de Cornell.

“Essas coisas levam tempo e meu amigo se foi para sempre. Apenas tenho que mandar esta mensagem para todos que foram afetados. [...] Vocês sabem que ele não era apenas um amigo, era alguém que eu tinha como um irmão mais velho. Uns dois dias após o que aconteceu, eu estava dormindo em uma pequena cabana próximo da água, um lugar que ele amaria. E todas essas lembranças me vieram à mente por volta de 1h30 da manhã. Tentar dormir era como se os vizinhos tocassem uma música que você não conseguisse deixar de ouvir. Mas então tudo fica bem, pois você passa a ter pequenas lembranças que vêm e vão.”

Por fim, o cantor declarou que a sensação de conforto acaba vindo em função das “horas e horas de breves lembranças” ao lado do amigo. E pontuou: “Não quero ficar triste, prefiro ser grato a ser triste. Ainda estou pensando nessas pequenas lembranças que estarão para sempre no meu coração e eu... o amarei para sempre”.

Durante outro show, em 2019, na Alemanha, Eddie Vedder chegou a chorar enquanto tocava “Seasons”, composição de Chris Cornell para o filme Singles: Vida de Solteiro (1992). Já em novembro último, com o Pearl Jam, tocou uma música do Temple of the Dog — “Hunger Strike” — pela primeira vez desde a perda do amigo.

*No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza gratuitamente apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo todas as pessoas que querem e precisam conversar. Contato disponível pelo telefone 188 ou por meios online (e-mail, chat, Skype) com dados disponíveis no site www.cvv.org.br.

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