A banda se apresenta no Rock in Rio neste domingo, 15; M. Shadows contou detalhes sobre o processo de produção de 'Life Is But a Dream' e relembrou a morte de The Rev em entrevista à Rolling Stone Brasil
O Avenged Sevenfold comandará o Dia do Rock no Rock in Rio!
No domingo, 15, a banda se apresentará no palco principal, onde Evanescence, Journey e Os Paralamas do Sucesso também farão shows. O line-up do dia conta ainda com nomes como Deep Purple, Incubus, Black Pantera e Barão Vermelho.
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Embora tenha recebido muitos pedidos, o grupo norte-americano não anunciou datas fora do festival. "Chile, Peru, Argentina, muitas, muitas áreas diferentes do Brasil, estamos cientes de que precisamos voltar", disse M. Shadows em entrevista à Rolling Stone Brasil, sem confirmar nova agenda na América do Sul. Por isso, os fãs terão que se contentar, por enquanto, com o show no Rock in Rio.
O vocalista revelou que a banda costuma estudar as preferências de cada país que visita para montar a setlist de suas perfomances.
"Quando vamos a lugares que não visitamos com frequência, pesquisamos o que as pessoas dessas áreas gostam da gente. Fomos a Jacarta recentemente, por exemplo, e descobrimos que eles amam determinados discos muito diferentes daqueles que os brasileiros gostam", o músico relatou.
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Então, garantimos que faremos uma setlist que tenha a ver com o que gostam da banda. Vai ser bem divertido. Será um show único. Será diferente do que fizemos na Europa e Jacarta, será feito especialmente para o Brasil.
O álbum mais recente do Avenged Sevenfold — formado também por Zacky Vengeance, Synyster Gates, Johnny Christ e Brooks Wackerman — com certeza marcará presença no Rio de Janeiro. Life Is But a Dream (2023) colocou guitarras e instrumentos orquestrais no mesmo espaço e explorou questões sobre inteligência artificial. "A narrativa dele [disco] levou a música para esse caminho", revelou Shadows.
À revista Revolver, ele admitiu que queria ser ousado no projeto. Como resultado da ambição, as três faixas que encerram o álbum — cujos títulos formam "GOD" — quase lhe causaram "um ataque cardíaco". "Fiquei tipo: 'Ok, isso é estranho. Isso foi de Steely Dan/Zappa para Stevie Wonder/Daft Punk para O Mágico de Oz/Frank Sinatra muito rápido!’ Eu nunca tinha me assustado com minha própria música antes", contou à publicação.
Mostramos um sentimento que muitos humanos têm, que é essa alternância entre 'Do que realmente se trata a vida?' e 'Isso realmente importa?'. Essa narrativa foi o que ditou os sons que estávamos tentando expressar.
Não é a primeira vez que a inteligência artificial vira tema de músicas do Avenged Sevenfold. O conceito também guiou as faixas de The Stage, álbum de 2016. "O que eu digo às pessoas é que The Stage olha para fora, e Life Is But a Dream olha para dentro. [...] The Stage abre a ideia da inteligência artificial. Life Is But a Dream fala sobre a perspectiva da inteligência artificial", afirmou o cantor.
M. Shadows ainda relembrou o período em que viveu uma crise existencial. Após experimentar 5-MeO-DMT — droga obtida por meio de um sapo — ele teve ideias que ajudaram a construir Life Is But a Dream: "O objetivo era uma espécie de autorrealização e morte do ego — ou seja lá como as pessoas chamam. Mas a parte musical surgiu, e eu disse: 'Não faça música genérica, precisa ser uma música ousada, precisa levar as pessoas a lugares onde elas nunca estiveram, ou deixá-las desconfortáveis'".
Foi a coisa mais importante que já fiz na minha vida. Foi extremamente assustador, extremamente difícil. Minha vida inteira foi virada de cabeça para baixo, minha perspectiva sobre tudo mudou.
Em contrapartida, a experiência resultou em cerca de seis meses de depressão. A morte prematura de James "The Rev" Sullivan, baterista do Avenged, e os problemas vocais enfretados por Shadows nos últimos anos também mudaram sua forma de pensar sobre a vida:
Percebi que, quer você acredite em algo ou não, estaremos no mesmo lugar que o Jimmy [The Rev], assim [estalando os dedos]. Todos estaremos mortos. Percebi que os problemas vocais não são o fim do mundo. Basta abaixar a cabeça e trabalhar nisso. Será o que tiver que ser. Você estará onde está e nada mais importa. Não há mais nada que você possa fazer.
The Rev faleceu aos 28 anos, em dezembro de 2009, devido a uma overdose acidental causada pelo efeito combinado de calmantes. "Éramos muito jovens para realmente internalizar aquilo. Eu nem sei como me sinto sobre isso ainda. Eu só... É muito estranho", refletiu Shadows. "Sabe, ele era meu melhor amigo, e eu não, eu... eu não falo sobre isso."
Confira entrevista completa do Avenged Sevenfold à Rolling Stone Brasil:
Rolling Stone Brasil: Há dez anos, vocês tocaram no Rock in Rio pela primeira vez. Como se sente voltando ao festival, e o que os fãs podem esperar da apresentação no Brasil?
M. Shadows: Estamos extremamente gratos por voltarmos. Geralmente não vamos apenas para um show, mas, quando tem algo tão importante quanto o Rock in Rio — uma apresentação que conheço desde que era criança... Estava falando sobre isso mais cedo: tive o álbum ao vivo do Iron Maiden no Rock in Rio quando era mais jovem. É uma daquelas coisas que, se você recebe uma oportunidade, uma oferta para ir para lá, fazer isso, você larga tudo para conseguir ir. Então, estou muito grato pela oportunidade.
E, sabe, quando vamos a lugares que não visitamos com frequência, pesquisamos o que as pessoas dessas áreas gostam da gente. Fomos a Jacarta recentemente, por exemplo, e descobrimos que eles amam determinados discos muito diferentes daqueles que os brasileiros gostam. Então, garantimos que faremos uma setlist que tenha a ver com o que gostam da banda. Vai ser bem divertido. Será um show único. Será diferente do que fizemos na Europa e Jacarta, será feito especialmente para o Brasil.
Rolling Stone Brasil: Estão planejando alguma surpresa?
M. Shadows: Acho que agora todo mundo está realmente tentando nos enviar suas ideias para a setlist. Então, não importa o que façamos, será uma surpresa. Estamos pensando em adicionar algumas coisas na produção, mas o que eu acho que descobri é que, se você falar muito sobre isso, as pessoas criam narrativas em suas cabeças e você nunca consegue realmente alcançar ou superar essas expectativas. Então, vou apenas dizer que vamos levar nosso jogo.
Rolling Stone Brasil: Como encontrou o equilíbrio entre as guitarras pesadas e os instrumentos orquestrais nas faixas de Life Is But a Dream?
M. Shadows: Estamos familiarizados com cordas. Usamos cordas e elementos orquestrais em todos os nossos discos, mas algo nesse álbum, a narrativa dele levou a música para esse caminho. Não era sobre música maluca, era sobre entender que a vida tem muitas curvas inesperadas, muitos obstáculos, muitos altos e baixos... E realmente é essa espécie de situação interessante em que todos fomos colocados, que é: nascemos — nenhum de nós pediu para estar aqui — e tentamos sobreviver. Pensamos que existem todas essas regras, mas depois percebemos que as regras nunca existiram de verdade, e que a vida é realmente o que você faz dela. Você tem que descobrir qual é a sua estrela guia, qual é o seu propósito e o que te faz feliz ou não.
Rolling Stone Brasil: Você diria que Life Is But a Dream é uma sequência do álbum de 2016? Pergunto porque a inteligência artificial também foi abordada nesse disco.
M. Shadows: O que eu digo às pessoas é que The Stage olha para fora, e Life Is But a Dream olha para dentro. A maioria das pessoas não têm tempo para refletir sobre o universo, a Terra, a vida, ou como elas chegaram aqui. Elas estão tentando colocar comida na mesa, proteger suas famílias e sobreviver.
The Stage abre a ideia da inteligência artificial. Life Is But a Dream fala sobre a perspectiva da inteligência artificial. Como eles se sentem? Como você se sente? Então, como eu disse, Life Is But a Dream olha para dentro. The Stage olha para fora.
Rolling Stone Brasil: Você experimentou alguns meses de depressão após uma viagem psicodélica com uma droga. Como isso te ajudou a fazer Life Is But a Dream?
M. Shadows: Foi a coisa mais importante que já fiz na minha vida. Foi extremamente assustador, extremamente difícil. Minha vida inteira foi virada de cabeça para baixo, minha perspectiva sobre tudo mudou. Uma coisa surgiu disso musicalmente, o que não era o objetivo. O objetivo era uma espécie de autorrealização e morte do ego — ou seja lá como as pessoas chamam. Mas a parte musical surgiu, e eu disse: "Não faça música genérica, precisa ser uma música ousada, precisa levar as pessoas a lugares onde elas nunca estiveram, ou deixá-las desconfortáveis".
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E é isso que fez valer a pena. Se você vai fazer isso porque a vida é muito curta, para sair fazendo coisas só por fazer, não chame de arte e depois de trabalho, porque assim que o comércio se envolve, com vendas, números, o que é popular e o que não é, então não é mais arte. Você precisa lançar coisas que acredita serem importantes e deixar que os números fiquem onde devem. Isso é para outra pessoa lidar.
Foi uma grande mudança de perspectiva. Não que eu me importasse tanto antes, mas isso deixou extremamente claro que, se você vai fazer algo, certifique-se de que seja importante para você. Essa experiência ditou completamente a espontaneidade, a escuridão, a natureza meio sarcástica do álbum. Essa experiência foi realmente o catalisador para tudo isso.
Rolling Stone Brasil: Você passou pelo luto por causa da morte prematura de The Rev e viveu alguns problemas vocais durante a existência do Avenged Sevenfold. Essas coisas te prepararam para o que veio depois da experiência psicodélica?
M. Shadows: Sim, a morte do The Rev... Éramos muito jovens para realmente internalizar aquilo. Eu nem sei como me sinto sobre isso ainda. Eu só... É muito estranho. Você passa por isso aos olhos do público, de certa forma, e então tem todos esses fãs com opiniões ou ideias... E aí, eu quase nem sei como me sinto sobre isso. Sabe, ele era meu melhor amigo, e eu não, eu... eu não falo sobre isso. Tipo, muitas vezes nós nem falamos sobre isso. É realmente... é uma coisa estranha.
Os problemas vocais vieram antes da experiência psicodélica. Eles me preocupavam, mas depois percebi que, quer você acredite em algo ou não, estaremos no mesmo lugar que o Jimmy [The Rev], assim [estalando os dedos]. Todos estaremos mortos. Percebi que os problemas vocais não são o fim do mundo. Basta abaixar a cabeça e trabalhar nisso. Será o que tiver que ser. Você estará onde está e nada mais importa. Não há mais nada que você possa fazer.
Deixei de me preocupar com o sucesso em certos aspectos que você percebe que simplesmente não importam. E não é que não importam porque você é preguiçoso ou porque é o caminho fácil. Simplesmente não importam. As coisas com as quais nos envolvemos e achamos que importam são pessoais para cada um. A maioria das pessoas acha que é o amor, certo? A maioria das pessoas chega nessa conclusão de que é o amor da família. E então fazemos o resto em nossas vidas para nos distrair disso, o que é louco. Você pode imortalizar muito de tudo isso, mas é tudo muito confuso, eu acho, para quase todo mundo.
Rolling Stone Brasil: Quando você retornará ao Brasil depois do Rock in Rio? Pessoas de outras cidades, como São Paulo, estão ansiosas para que isso aconteça.
M. Shadows: Isso é muito importante para nós também. Nós temos um plano completo que deveremos seguir. Se eu desse datas, que ainda nem tenho, seria irresponsável da minha parte. Sou conhecido por falar cedo demais sobre as coisas. Mas estamos muito cientes. Chile, Peru, Argentina, muitas, muitas áreas diferentes do Brasil, estamos cientes de que precisamos voltar. Então, estamos trabalhando nisso.