Rolling Stone Brasil
Busca
Facebook Rolling Stone BrasilTwitter Rolling Stone BrasilInstagram Rolling Stone BrasilSpotify Rolling Stone BrasilYoutube Rolling Stone BrasilTiktok Rolling Stone Brasil

Blur acerta ao trocar nostalgia por futuro em novo álbum [CRÍTICA]

Sem pesar a mão no saudosismo, quarteto britânico retorna maduro e revigorado em nono álbum, The Ballad of Darren: "pop tende a ser os sonhos da juventude expressos por jovens, mas não precisa ser assim"

Eduardo do Valle (@duduvalle)
por Eduardo do Valle (@duduvalle)
[email protected]

Publicado em 21/07/2023, às 18h42

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Blur (Reuben Bastienne-Lewis)
Blur (Reuben Bastienne-Lewis)

Existe um equívoco quase irresistível em olhar para o passado quando se analisa o trabalho de uma banda com 35 anos de história. Não é o caso com o Blur, banda britânica de Damon Albarn, Graham Coxon, Alex James e Dave Rowntree, que lança nesta sexta (21) o álbum The Ballad of Darren, seu novo álbum de estúdio e o primeiro desde The Magic Whip, de 2015.

The Ballad of Darren, nono álbum do Blur (Divulgação)
The Ballad of Darren, nono álbum do Blur (Divulgação)

Anunciado junto de uma turnê global de reunião dos músicos - que deixou o Brasil de fora para a decepção dos fãs -, The Ballad of Darren nem de longe sugere um disco tributo aos anos dourados do britpop. Ao contrário, o Blur se renova temática e musicalmente, sem deixar de lado sua sonoridade característica.

"O que gosto sobre esse álbum é que ele não tenta ser nada ou cumprir algum requisito", contou o baixista Alex James à Rolling Stone Brasil. "Gravar um disco no século 21 é normalmente tedioso, envolve acertar um certo ritmo, colocar tudo em moldes. Aqui não. Nós captamos algo que sempre existiu entre nós quatro."

Aqui, as letras de Damon Albarn, certa vez direcionada com cinismo crítico ao otimismo britânico dos anos 90, se encontram com uma visão, ora melancólica, ora esperançosa do grupo em 2023. Uma crônica, como feito antes por eles em faixas como "Parklife", mas que aqui ganham o peso dos anos e as reflexões sobre o passado de glória, exageros, vícios e decepções.

É assim nos versos do primeiro single do álbum, "The Narcissist", em que Albarn de se volta patra o passado "I heard no echo / There was distortion everywhere" ('não ouço eco, apenas distorções em todo lugar'). Ou em "The Ballad", faixa de abertura do disco, que parece uma reflexão melancólica sobre a própria história da banda, em suas idas e vindas, em versos como "We travelled 'round the world together" ('nós viajamos o mundo juntos').

Um disco sobre o tempo

O tempo, aliás, parece ser a constante de The Ballad of Darren. Em "The Everglades (For Leonard)" com o arrependimento, dos fantasmas do passado e dos caminhos não tomados; em "The Heights" como uma otimista promessa de retorno; em "Goodbye Albert" no contraste entre a feliz despedida de um período obscuro com o qual não se identifica mais.

Blur (Reuben Bastienne-Lewis)
Blur (Reuben Bastienne-Lewis)

Alguns ecos do passado deverão atingir ouvidos e corações de fãs em momentos mais precisos do álbum - quando se tem a impressão de estar de frente com continuações naturais dos clássicos "The Universal" ou "Out of Time". "St. Charles Square", a mais animada do disco, remete imediatamente aos hits do auge do britpop, que levaram o Blur para a pista de dança, como "Song 2" ou "Girls and Boys" - mas sem pesar a mão.

"É algo para o que olhamos hoje em dia com um grande senso saudade e nostalgia. Mas o fato de fazermos um novo disco é algo que muda a turnê de um puro senso de nostalgia para algo atualizado", garante James.

É dessa despretensão que parece estar o sucesso de The Ballad of Darren. Fruto de uma reunião quase incidental, motivada pela possibilidade de tocar em duas datas no estádio de Wembley, o estádio nacional da Inglaterra, o disco foi composto rapidamente: quase metade dele saiu da primeira reunião do quarteto, em dezembro do ano passado. Em comum, a vontade dos integrantes de tocarem juntos - sem necessariamente responder aos apelos da indústria atual.

"Tenho muitas saudades dos anos 1990, mas é ótimo tocar músicas que fizemos nos 2010s e 2020s também. É seguir em frente, sem ficar correndo atrás do próprio rabo", diz o baixista. Sem baixar o volume, o Blur deixa a delinquência noventista para trás sem perder um traço do vigor. E renova com muito gás no tanque o acordo de levar bom pop aos fãs:

"Música pop tende a ser os sonhos da juventude expressos pelas vozes dos jovens. Mas não precisa ser assim. Acho que todos temos sonhos válidos."