Bullet for My Valentine fala à RS sobre show com Limp Bizkit no Brasil, ‘The Poison’ e futuro
Com turnê celebrando seu disco de estreia, banda foi escalada de última hora para substituir Yungblud em excursão que passa por São Paulo em 20 de dezembro
Igor Miranda (@igormirandasite)
Matt Tuck estava quietinho no canto dele, trabalhando no próximo álbum do Bullet for My Valentine (BFMV), quando, no início de novembro, recebeu um convite inesperado. O Limp Bizkit e sua equipe queriam trazer a banda galesa de metalcore para uma turnê pela América Latina, em substituição a Yungblud, jovem cantor que precisou cancelar sua agenda do ano em função de problemas de saúde.
Não é se o ano de Tuck, Michael “Padge” Paget (guitarra), Jamie Mathias (baixo) e Jason Bowld (bateria) tivesse sido parado em termos de show. O quarteto realizou mais de 70 apresentações, em todo o planeta, com uma tour celebrando o 20º aniversário de seu álbum de estreia, The Poison. Rodaram por América do Norte, Europa e Ásia.

Entretanto, o convite do Limp Bizkit era irrecusável. Em entrevista à Rolling Stone Brasil — concedida diretamente de um quarto de hotel em Lima, no Peru, onde se apresentariam horas depois —, Matt revelou seu apreço de longa data pelo famoso grupo de nu metal. O vocalista e guitarrista garante ser fã de Fred Durst e companhia desde antes do primeiro álbum, Three Dollar Bill, Y’all (1997), ter sido lançado.
“Eu os vi ao vivo pela primeira vez no Newport Center [no País de Gales] quando eu tinha uns 17 anos. Eles estavam abrindo para o Korn [em 23 de maio de 1997], antes mesmo do primeiro disco deles sair. Eu nem sabia o nome deles, mas me apaixonei pela banda e acompanhei desde então. Nunca fizemos turnê juntos, então, essa oportunidade me leva de volta à minha juventude. Eles foram a trilha sonora do final da minha adolescência e início da minha vida adulta. A energia é incomparável: selvagem, agressivo, enérgico, jovial, criativo.”
Todos esses adjetivos serão colocados à prova pelo público brasileiro em 20 de dezembro. Limp Bizkit e cinco atrações de abertura — Bullet for My Valentine, 311, Ecca Vandal, Riff Raff e Slay Squad — se apresentam em uma espécie de festival no Allianz Parque, em São Paulo. Há ingressos à venda pelo site Eventim.
Matt Tuck garante manter seus elogios aos ídolos na atualidade. O show dos americanos é, de acordo com o frontman do BFMV, “muito divertido de se assistir”, pois é “todo construído em torno da conexão com o público”. Nas palavras do artista galês, Limp Bizkit é “a banda perfeita ao vivo”.

Perda de Sam Rivers e substituições na turnê
Menos de dois meses atrás, os fãs sequer sabiam se esta turnê pela América Latina, iniciada no México no fim de novembro, iria ocorrer. Sam Rivers, baixista e membro fundador do Limp Bizkit, faleceu aos 48 anos no último dia 18 de outubro. A importância do músico foi — e tem sido — muito reconhecida por seus colegas, mas eles optaram por não adiar ou cancelar a excursão, até para usá-la como forma de celebrar o legado.
Matt Tuck conta que os remanescentes Fred Durst (voz), John Otto (bateria), Wes Borland (guitarra) e Lethal (DJ) parecem estar bem, dentro do possível. A vaga de Rivers foi assumida provisoriamente por Richard “Kid Not” Buxton, membro da banda de Ecca Vandal e um cara “muito humilde e criativo”, segundo o cantor e guitarrista do BFMV. Ele ainda comenta:
“Tenho certeza de que, no fundo, eles estão sofrendo bastante [pela perda de Sam Rivers]. Mas quando você passa por uma situação como essa enquanto banda e tem shows marcados, acho que o melhor a se fazer é manter o legado do integrante. Deve ter sido uma decisão difícil [manter os shows]. Não existe certo ou errado. Eles encararam isso como uma forma de fazer algo por Sam, por seu legado e pela música que ele ajudou a criar. Tenho enorme respeito por eles por encontrarem força, energia e vontade para fazer isso, sabe, porque não deve ser fácil. Eles estão fazendo por Sam e é o que importa.”

Como citado, o convite para o Bullet for My Valentine se juntar à turnê substituindo Yungblud veio no início de novembro — ou seja, poucos dias após o falecimento de Rivers. Como é que Tuck e seus colegas foram parar ali? O próprio explica:
“Os agentes [de turnê] do Limp Bizkit são nossos amigos. Houve apenas uma conversa rápida entre agentes para saber se estávamos disponíveis. Então, fomos contatados pelo nosso agente. Sabíamos que o prazo era curto, mas achamos legal. Foram três semanas bem caóticas até o início da turnê.”
Foi uma grata ocasião para poder tocar na América Latina, algo que não ocorria desde 2022 e sequer estava nos planos. Matt, inclusive, explica por que o grupo não vem tanto para cá: “Sabemos que os intervalos entre as visitas é bem longo, mas é bem difícil planejar turnês na maioria das vezes, especialmente em algumas partes do mundo. Conseguir visto não é tão fácil. Muita coisa acontece nos bastidores. Mas é sempre divertido tocar na América Latina e os fãs têm um nível extra de loucura e paixão”.
Revisitando The Poison — e o futuro
O Bullet for My Valentine não costuma realizar turnês comemorativas, mas cedeu à tentação de celebrar o 20º aniversário de The Poison, seu primeiro e mais bem-sucedido álbum de estúdio. Vem dele canções como “Tears Don’t Fall”, “All These Things I Hate (Revolve Around Me)”, “4 Words (To Choke Upon)” e “Suffocating Under Words of Sorrow (What Can I Do)”, entre outras. Nos shows atuais, o disco é executado na íntegra e na ordem.
De acordo com Matt Tuck, bandas com carreiras tão longas não costumam “olhar para trás”, pois o foco normalmente é o próximo projeto — e tudo é planejado com 12 a 18 meses de antecedência. Por isso, tem sido “lindo” contar com a oportunidade de revisitar o início de sua trajetória.
“Era o momento certo para dar um passo para trás no tempo e refletir sobre o que nos trouxe até aqui. Estamos muito conscientes do impacto desse álbum, não só em nós pessoalmente, mas na comunidade metal em todo o mundo. Foi um daqueles momentos mágicos, não acontece com frequência. Muitas vezes, as bandas estouram no segundo ou terceiro álbum. Com a gente, foi logo na estreia. Todas as músicas têm uma energia própria e soam cada uma como uma obra independente — o que é incomum. Não há continuidade estilística real na energia, no som, no timbre, na estrutura de refrão: são músicas muito singulares e peculiares.”
Tuck, aliás, sabe que o passado pode influenciar o futuro: por isso, adianta que parte da sonoridade do próximo álbum do BFMV poderá, naturalmente, carregar elementos de The Poison. Ele, aliás, define as vindouras composições como uma mescla entre o trabalho de 2005, Fever (2010) e o disco homônimo de 2021.
“Soa mesmo como uma combinação de todos aqueles grandes momentos da banda. E não foi pensado: é só o processo de composição, o fluxo. Acho que este novo álbum vai agradar muita gente, pois tem todos os ingredientes certos e que as pessoas adoraram no Bullet for My Valentine. Será que é o álbum definitivo do Bullet até agora. Possivelmente, sim. Estamos animados.”
Como os trabalhos para este disco tiveram de ser interrompidos — “eu estava no estúdio até 25 de novembro e voei para a Cidade do México no dia 26”, diz Matt —, o material ainda se encontra em fase de composição e pré-produção, a ser retomada em 5 de janeiro. As gravações começam para valer em 1º de fevereiro. Enquanto a turnê pela América Latina ocorre, Tuck garante: “estou com minha guitarra, temos laptops, estamos trabalhando e sendo criativos também nos quartos de hotel”. O objetivo? Lançar músicas novas “entre abril e maio”. A ver.
*Limp Bizkit, Bullet for My Valentine, 311, Ecca Vandal, Riff Raff e Slay Squad se apresentam no Allianz Parque, em São Paulo, no próximo dia 20 de dezembro. Há ingressos à venda pelo site Eventim.
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