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Música / Opinião

C6 Fest traz shows únicos ao Brasil com horários encavalados e público distraído

A falação de convidados e influencers desinteressados — e desinteressantes — atrapalhou shows que deveriam ser históricos, como a primeira apresentação do Soft Cell no Brasil

Cat Power no C6 Fest (Foto: Heloísa Lisboa)
Cat Power no C6 Fest (Foto: Heloísa Lisboa)

A segunda edição do C6 Fest terminou no último domingo, 19, após três dias de shows em diferentes espaços do Parque Ibirapuera, em São Paulo. As atrações, em sua maioria internacionais, entregaram-se para shows intimistas frequentados por um público distraído.

Sábado, 18

No sábado, 18, a jovem Ayra Starr cantou impecavelmente para plateia espaçada. Ainda assim, "a energia estava perfeita", afirmou Starr em entrevista à Rolling Stone Brasil, após o show. Ela confessou ainda que se inspirou em Anitta e Ludmilla, artistas que tem ouvido bastante, em sua performance.

Para quem quer explorar o afrobeats, Ayra apresentou uma longa lista de músicos nigerianos, além de si mesma, incluindo Rema, WizKid e Bloody Civilian. A cantora deve lançar seu segundo álbum, que poderia se chamar "21 and taking over the world", nesta terça-feira, 21, sob o título The Year I Turned 21

Romy, do The xx, transformou a Tenda MetLife em uma balada à luz do dia. A artista falou pouco, mas sorriu e dançou para pessoas que engajaram com o ritmo eletrônico e arriscaram cantar algumas das letras de faixas de seu primeiro álbum solo, Mid Air (2023). "Angels" apareceu de cara nova na setlist, enquanto "Strong", que integra a trilha sonora de How To Have Sex (2023), encerrou a apresentação.

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Quem bate ponto em festivais de música sabe que quase sempre é preciso fazer escolhas difíceis ao decidir quais shows assistir. Após a divulgação dos horários das apresentações do C6 Fest, muitos fãs desistiram de comprar ingressos devido à distribuição dos músicos ao longo de cada dia.

Para assistir à Raye, por exemplo, seria preciso abandonar o show de apenas uma hora de Romy e se deslocar até outra região do parque. Além da caminhada, era necessário driblar uma equipe que ora checava as pulseiras e revistava bolsas, ora apenas liberava a passagem direta.

Na primeira vez no Brasil, portanto, Raye pode não ter recebido a atenção devida. Outro estreante no país foi o Soft Cell. "Sou um virgem de Brasil", disse Marc Almond durante show na Tenda MetLife. Aparentemente, a banda precisará nos visitar mais uma vez para garantir que perdeu a virgindade, já que a maioria do público não deu a mínima para seu show. A organização do evento parece ter convidado mais funcionários do banco digital e influencers pequenos do que passaria batido. 

Como prometido, o Black Pumas trouxe a turnê do novo álbum, Chronicles of a Diamond (2023), ao Brasil — mas foi mais um dos casos em que a plateia não estava à altura da apresentação. A falação constante em grupos que chegavam a formar rodas e ficar de costas para o palco obrigou aqueles que estavam interessados pelo show a saírem do conforto do fundão.

Eric Burton animou fãs ao descer do palco e adentrar a multidão. Ele não esperava receber tantos abraços e beijos acalorados dos brasileiros e demorou para retornar à banda. Quando finalmente voltou ao palco, ele perguntou aos colegas se ainda tinham tempo para tocar toda a setlist planejada. A dupla dispersou o público ao cantar o maior sucesso, "Colors", antes do bis.

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Domingo, 19

No dia seguinte, foi a vez de Noah Cyrus ocupar a Tenda MetLife. Ela também foi afetada pelos distraídos, mas não ficou abalada por isso. A irmã de Miley Cyrus expressou muita emoção pela apresentação em São Paulo e afirmou que os brasileiros foram sua "principal prioridade". O show foi feito para os fãs colados na grade — e Noah não poderia ter decidido melhor.

Pouco tempo depois, Chan Marshall, conhecida como Cat Power, cantou Bob Dylan no mesmo palco. A entrada esquisita, com outro som vazando, e os vários pedidos da cantora para abaixar ou aumentar o volume de seu microfone e dos demais instrumentos não ofuscaram seu carisma. Ela arremessou garrafas de água, distribuiu beijos e pediu que sua banda jogasse setlists ao público. Nem quando ela quase emendou uma palavra em espanhol no discurso — pedindo desculpa logo em seguida — seu amor pelo Brasil ficou menos claro.

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Chan obedeceu à setlist de uma apresentação específica de Dylan feita em 1966, terminando seu show em menos de uma hora. Quem deixou a Arena Heineken depois do show do Young Fathers se sentiu traído pelo C6 Fest, que não se preocupou em informar a hora exata do término de cada performance.

Ainda no mesmo palco, Pavement provou sua relevância em show que arrancou gritos e corais. A Tenda MetLife, ainda que tivesse indicado em gráfico que esteve mais cheia, nunca havia parecido tão lotada. Fãs de longa-data se misturaram com aqueles que conheceram a banda pelo TikTok na melhor apresentação do fim de semana.

Voltando para a Arena Heineken, onde as costas do Auditório Ibirapuera serviram de telão, Daniel Caeser encantou a mulherada da grade, chamando até mesmo uma delas de "linda", e acalmou a agitação de quem pegou seu show na metade após ver Pavement.