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Caetano Veloso voltou transcendental e desafiador em 'Jóia,' apesar de ambiente cada vez mais moralista

Livre do exílio, mas sob a rigidez da ditadura, Caetano Veloso optou por uma arte desconstrutiva e desafiadora

Marcelo Ferla Publicado em 06/02/2023, às 17h37 - Atualizado em 08/02/2023, às 11h02

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Caetano Veloso (Foto: Reprodução / Outras palavras: Seis vezes Caetano)
Caetano Veloso (Foto: Reprodução / Outras palavras: Seis vezes Caetano)

Em 1972, depois de ver o Brasil de longe, Caetano Veloso voltou para dentro e para o além. Livre do exílio, mas sob a rigidez da ditadura, ele optou por uma arte desconstrutiva, transcendental e muito atenta às expressões culturais do agreste brasileiro, como um meio de continuar sendo influente e desafiador em um ambiente cada vez mais moralista. O primeiro ato foi o lançamento de Araçá Azul, em 1973, influenciado por poetas concretistas e músicos vanguardistas e gravado em uma semana no Estúdio Eldorado, apenas com Caetano, acompanhado de um técnico e seu assistente.

Dois anos depois, o artista encontrou o caminho do meio entre a radicalidade anticomercial experimentalista e seu talento para criar canções marcantes com um formato mais tradicional. Mas era uma rota de tantas possibilidades, que Caetano apostou em um LP duplo, que acabou dividido em dois, lançados simultaneamente: Qualquer Coisa, mais ligado aos conceitos pré-Londres; e Jóia (1975), um híbrido entre Transa e Araçá Azul.

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Jóia é um disco de vocação acústica, poético e com forte carga espiritual, movido por arranjos de cordas refinados, flautas, ecos de música tribal amazônica e um trabalho vocal esmerado de Caetano – com o Quarteto em Cy na ritualística "Guá", em que o produtor Perinho Albuquerque toca kissange, uma espécie de xilofone angolano. Embora o álbum tenha unidade, cada uma das 13 faixas guarda intenções diferentes. "Minha Mulher" é levada apenas pelos violões de Caetano e Gilberto Gil; a tribal "Jóia", somente pela percussão de Caetano e Perinho; as versões para “Na Asa do Vento”, de Luiz Vieira e João do Vale, e “Help”, dos Beatles, mais densa, têm Caetano na voz e violão. A influência beatle também está na capa, inspirada no LP Two Virgins, de John Lennon e Yoko Ono, com uma pintura feita sobre uma foto de Caetano, Dedé e Moreno Veloso nus, que foi censurada.

O destaque absoluto é a faixa que abre o lado B, “Pipoca Moderna”, de Sebastião Biano, que Gil gravou em versão instrumental no seu Expresso 2222. Aqui, a canção ganha um sofisticado arranjo de cordas, a flauta de Tuzé Abreu e o vocal falado que namora com a percussão e realça as frases da letra escrita por Caetano, como "Porém parece que há golpes de pê, de pé, de pão”. A outra joia da coroa é “Canto do Povo de Um Lugar”, que louva a natureza em um folk arrebatador tocado pelo Grupo Bendegó.

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DESTAQUES: “Lua, Lua, Lua”, “Jóia”, “Canto do Povo de Um Lugar”.


Jóia (1975) é um dos discos resenhados no Especial 80 Anos de Música, uma edição exclusiva da Rolling Stone Brasildedicada à Geração 1942, que reúne nomes essenciais da MPB, como o próprio Caetano Veloso,Milton Nascimento, Paulinho da Viola e Gilberto Gil, além de panorama global dos nascidos neste ano. O especial impresso já está nas bancas e nas bancas digitais. Clique aqui para saber mais.

Ouça Jóia: