‘Clube da Esquina’, de Lô Borges e Milton Nascimento, é o 7º maior álbum brasileiro da história
Trabalho dos artista é, até hoje, um dos discos de estúdio mais celebrados e relembrados da música brasileira; lista da Rolling Stone Brasil inclui ‘Clube da Esquina’ no top 10
Felipe Grutter (@felipegrutter)
A trajetória de Lô Borges, que morreu aos 73 anos após mais de quinze dias de internação em Belo Horizonte, na música brasileira é altamente celebrada e relembrada, em uma carreira artística de mais de 50 anos, tanto os seus trabalhos solo quanto Clube da Esquina, disco de estúdio feito em parceria com Milton Nascimento, eleito o sétimo maior álbum brasileiro de todos os tempos em lista da Rolling Stone Brasil.
Borges estava internado desde 17 de outubro e 2025, em estado grave e com necessidade de ventilação mecânica e traqueostomia, após sofrer intoxicação medicamentosa em sua residência. O quadro evoluiu para falência respiratória e exigiu intervenção cirúrgica. Apesar dos esforços médicos, o cantor não resistiu e morreu, deixando uma marca profunda na música brasileira, reconhecido como um dos mais importantes compositores da MPB e do movimento mineiro.
Em publicação nas redes sociais, Milton Nascimento homenageou o amigo e lamentou a morte. “Foram décadas e mais décadas de uma amizade e cumplicidade lindas, que resultaram em um dos álbuns mais reconhecidos da música no mundo: o Clube da Esquina“, escreveu a conta do cantor no Instagram. “Lô nos deixará um vazio e uma saudade enormes, e o Brasil perde um de seus artistas mais geniais, inventivos e únicos”.
Clube da Esquina foi eleito o 7º maior disco da música brasileira pela Rolling Stone Brasil
Uma das listas mais icônicas da Rolling Stone Brasil foi a extensa lista “Os 100 Maiores Discos da Música Brasileira“, publicada na edição 13 da revista, em outubro de 2007. Quem escreveu a resenha foi o jornalista Antônio do Amaral Rocha. Leia o texto abaixo:
Inaugurando uma nova sonoridade na música brasileira, um híbrido de música pop, Beatles e toadas, este álbum duplo é o marco definitivo de um movimento que começou a ser gerado no meio da década de 1960, quando o carioca Milton se mudou para Três Pontas e de lá alcançou Belo Horizonte, a fim de se preparar para o vestibular. Na capital mineira, ele passou a tocar num grupo de bossa nova, o Evolusamba, do qual participava o mais velho dos 12 irmãos da família Borges, Marilton, que o apresentou aos caçulas Márcio e Lô. E foi com essa dupla que Milton se enturmou, passando a compor em parceria. Márcio foi o primeiro letrista de canções de Milton desse período. Lô era mais interessado em estudar música (seu professor de harmonia era Toninho Horta) e passava horas ouvindo Beatles com outro amigo que viria a se juntar ao grupo: Beto Guedes. Quatro, cinco garotos juntos, violões, composições: nascia o lendário corner club, que nada mais era que um cruzamento das ruas Divinópolis com Paraisópolis, onde se encontravam para jogar conversa fora. Mas isso já é história. Em 1972, Milton, com a carreira em ascensão – já tinha participado de festivais no eixo Rio-São Paulo e gravado três álbuns -, convidou ninguém menos que Lô Borges para juntos dividirem o álbum duplo que seria intitulado Clube da Esquina. Na capa foi estampada a foto de dois garotos pobres, um preto e um branco (clara metáfora Milton/Lô). O conteúdo sonoro tinha bossa nova, canções com sonoridade beatle, toadas, rock progressivo, choro e jazz, numa miscelânea original e inventiva. O lançamento tornou-se um marco da produção musical brasileira, com criações fora dos moldes tradicionais da prática dominante. Ao mesmo tempo, assumia todo tipo de influência, com harmonias arrojadas, mas diferentes do padrão corrente da MPB. Além de inovar na sonoridade, as letras abordavam temas não muito usuais e faziam uma aproximação com a realidade sul-americana, como a imaginária cidade em “San Vicente”. A propósito, a canção “Nada Será como Antes” era premonitória: depois disso, a MPB não seria mais a mesma.