MALUCO BELEZA

Como era tratar Raul Seixas nos anos antes da morte, segundo médico

Ícone do rock brasileiro teve condição de saúde deteriorada ao longo da década de 1980, com diabetes, pancreatite, alcoolismo e dependência química

Guilherme Gonçalves (@guiiilherme_agb)

Raul Seixas na capa do álbum Metrô Linha 743
Raul Seixas na capa do álbum Metrô Linha 743 - Foto: divulgação

Uma longa agonia. Assim pode ser definido o período de mais de 10 anos que antecedeu a morte de Raul Seixas, um dos maiores ícones do rock brasileiro.

Falecido aos 44 anos em 21 de agosto de 1989, o músico passou por toda a década de 1980 lutando contra o alcoolismo e outras doenças, agravantes e que foram agravadas pelo abuso de álcool. No período, criava hits e lançava álbuns, mas nem sempre emplacava bons resultados, se arrastava em shows e passava por hiatos de apresentações.

Raul havia arrebatado o país nos anos 1970, mas encerrou a década com problemas graves de saúde. Em 1978, passou por uma cirurgia de retirada de parte do pâncreas.

Deveria parar de beber depois disso, mas não conseguiu. Tinha diabetes, tomava insulina e sua condição foi se deteriorando no período seguinte, marcado também pela depressão do cantor.

Raul Seixas em 1987
Raul Seixas em 1987 – Foto: Lena Coutinho

 

Quem acompanhou Raul Seixas e cuidou de seus tratamentos no período sombrio foi o médico Luciano Stancka, que falou sobre os últimos anos de vida do astro em entrevista a Tiago Bittencourt (via Whiplash), jornalista que relatou a conversa no livro O Raul Que Me Contaram, de 2017.

Stancka e Seixas se conheceram por meio do empresário do cantor, José Roberto Abraão. Era ele, inclusive, quem tinha autorização para internar e retirar o artista das internações.

Inicialmente, Luciano relatou como recebeu Raul na primeira vez: 

“Na minha época, quando a gente começou, ele já estava muito mal. Cercado por álcool, drogas. Perguntam se eu esperava que ele morresse daquele jeito. Não, porque ele não estava tão ruim.”

Segundo o médico, nessa época Marcelo Nova, do Camisa de Vênus, já ajudava Raul nos momentos difíceis, seja com a saúde ou problemas com drogas:

“Na época em que o Marcelo Nova estava com ele, chegaram a ser ameaçados por traficantes. Os caras queriam vender droga pro Marcelo. Ninguém conseguia se aproximar.”

A saúde física e mental de Raul Seixas nos anos finais

Stancka contou a Bittencourt como estava Raul Seixas física e mentalmente naqueles anos de saúde deteriorada e também revelou que o cantor nem sempre seguia orientações médicas:

“Ele tinha uma perna grossa, muito inchada. O edema tomava até espaço abdominal. Já usava cinta. Diabetes exigia controle rigoroso. A hipoglicemia era um risco real de morte. Ele ia morrer, mas ia fumar. Fumava mesmo assim. Ele não queria largar.”

Exemplo de show abaixo da média

Nessas condições, Raul Seixas se apresentou por exemplo em Goiânia, poucos meses antes de morrer. Foi mais uma de várias apresentações que se transformaram em fiasco.

Em 9 de abril de 1989, o Maluco Beleza chegou amparado por duas pessoas ao palco do Ginásio Rio Vermelho, na capital goiana, e cantou apenas quatro músicas. Estava inchado e apático.

A cena contrastava com a de 10 anos antes, no show de 1979 feito em Goiânia, no Estádio Olímpico. De acordo com relatos, Raul Seixas estava visivelmente embriagado, mas a condição física era bem melhor.

Ao mesmo tempo, o médico conta episódios em que “ele aceitava quando via que era pro bem dele” em relação a alguma medicação ou procedimento para melhorar sua condição.

Médico encontrou Raul Seixas morto

Luciano Stancka acompanhou a condição de saúde de Raul Seixas por pouco tempo. Eles se conheceram no fim de 1988 e o cantor morreu em agosto de 1989. Foi encontrado morto na cama justamente pelo médico.

“Me disseram que ele precisava de ajuda. Raul era ídolo da nossa juventude. Quando me chamaram, ele dormia em cadeira de rodas, sem medicação. Foi assim que começou nosso relacionamento.”

O médico relembrou também a condição da saúde mental de Raul Seixas:

“Ele estava já muito depressivo. Mas tinha momentos bons. Conversávamos, ele tinha lucidez. Era um cara único.”

+++ LEIA MAIS: Quando confundiram Raul Seixas com impostor dele mesmo — e o prenderam
+++ LEIA MAIS: O baixo valor de herança deixado por Raul Seixas em inventário
+++ LEIA MAIS: A carreira de Raul Seixas como produtor

TAGS: raul seixas