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Música / ROCK

Como grana e puxa-sacos travaram o System of a Down, segundo batera

John Dolmayan culpa próprios colegas ao explicar ritmo lento de atividades da banda, que faz poucos shows e lançou só dois singles em mais de 10 anos

Igor Miranda
por Igor Miranda

Publicado em 28/10/2023, às 08h00

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John Dolmayan (Foto: via Confere Rock)
John Dolmayan (Foto: via Confere Rock)

Entre as grandes bandas de rock ainda na ativa, o System of a Down certamente faz parte da lista das menos produtivas. Suas atividades foram interrompidas em 2006 para um retorno em 2011. Desde então, eles não lançaram nenhum disco: apenas dois singles em 2020, com renda em apoio aos armênios afetados pelo conflito com o Azerbaijão. Turnês são bem esporádicas; em períodos mais produtivos, eles chegam à marca de 20 shows por ano. Nada além.

O que faz um grupo tão popular oferecer tão pouco a seus fãs? Em entrevista de 2020 ao jornalista Eddie Trunk (via Ultimate Guitar), o baterista John Dolmayan ligou o modo “sincerão” ao apontar os principais problemas internos do projeto — que chegou a lavar roupa suja em público tempos antes, após o guitarrista Daron Malakian ter acusado o vocalista Serj Tankian de “empacar” as atividades.

De acordo com Dolmayan, o System of a Down é “disfuncional”, já que existe, mas ao mesmo tempo em que as carreiras solos dos envolvidos estão nos holofotes. O baterista acha que nenhum integrante deveria ter tempo para outros projetos, somente para o SOAD.

Por outro lado, ele reconhece que a relação entre os músicos não é mais a mesma — e está tudo bem. A questão é que as pessoas no entorno acabam tomando algum lado. Para os envolvidos diretamente na briga, é importante não se deixar levar pelo que falam.

“Você terá brigas e o resultado é: quanto maior a banda, mais as pessoas dizem que você é ótimo, que seu papel é o mais importante. Alguns ouvem isso mais do que outros e se apaixonam por suas próprias ideias.”

As personalidades diferentes dentro do SOAD foram apontadas por Dolmayan. Porém, o baterista disse que o grupo, inicialmente, tinha uma mentalidade “um por todos, todos por um” que acabou sendo perdida.

“Eu era amigo dos caras antes de estar na banda, mas como tudo na vida, quanto mais dinheiro e fama você tem, mais complicado isso se torna. De alguma forma, você perde a mentalidade que te fez chegar a isso, que é ‘nós contra todos’. Acontece em toda banda. Costumávamos ser nós contra todo mundo, certo? Pensamos como: temos algo a provar, vamos fazer nossas músicas, estamos lutando, não temos grana... é isso que fortalece.”

Situação única no mercado

John Dolmayan ainda mostrou ter uma visão de mercado curiosa — e certeira — com relação ao System of a Down. O baterista destacou que há cada vez menos grandes bandas de rock em atividade, já que o estilo não se renovou da forma esperada, a ponto de não haver tantos grupos capazes de lotar uma arena com dezenas de milhares de fãs. Mesmo não tendo tanta concorrência, o SOAD não consegue se ajeitar.

“No começo, sabíamos que conseguiríamos lotar um lugar com 3 mil pessoas, mas tocávamos no lugar de 2 mil pessoas e criamos um frenesi em torno daquele show. Também acho que não há tantas bandas para entrar nesses festivais. Há mais festivais e menos bandas chegando para atrair 50 mil a 70 mil pessoas. Então, precisamos das mesmas bandas. Nos últimos 20 anos, isso diminuiu, porque as gravadoras não investem mais em bandas como nós. [...] Tudo foi perfeito para nós. Porém, não há tantas bandas de rock ou metal surgindo agora. Isso pode mudar, é cíclico.”

Questões de ego

Em outra entrevista, ao podcast Drinks with Johnny , John Dolmayan deixou claro que o único responsável pelo System of a Down estar na condição atual é seu conjunto de integrantes. Então, cabe à própria banda resolver seus problemas.

“Tivemos enorme sucesso um com o outro, então, o ego atrapalha muito, seja nos relacionamentos ou nos negócios, e, às vezes, você perde de vista o motivo pelo qual começou a fazer música junto com aqueles caras. Especialmente na música, as pessoas perdem o foco. É preciso perdoar algumas coisas, sabe? Deixe para trás e siga em frente. O System não conseguiu fazer isso ainda. Temos algumas coisas que entraram no caminho.”

Apesar do distanciamento natural com o passar dos anos, a relação entre os músicos é, segundo Dolmayan, boa. O baterista se dá bem com Serj Tankian, Daron Malakian e o baixista Shavo Odadjian.

“Sou o melhor quando estou com Serj, Daron e Shavo. Nada que eu faço na música vai se comparar a isso. Estou ciente, admiro isso. Tenho, na minha opinião, uma das melhores bandas de shows no mundo. Com todo o respeito a todos, somos o System of a Down. É como vejo isso.”

Daron Malakian vs. Serj Tankian

Em 2018, Daron Malakian disse à revista Kerrang! que Serj Tankian já queria sair do System of a Down antes de 2006. O vocalista sequer desejava participar dos álbuns finais, Mezmerize e Hypnotize, ambos de 2005.

“Bandas são como marcas, suponho, e isso é um pouco frustrante para mim. Para ser honesto, Serj não queria nem mesmo gravar Mezmerize e Hypnotize. Realmente o imploramos para que fizesse esses discos. Naquela época, ele já sentia que estava fora. Há uma maneira específica que o System faz os discos e alguns de nós quer fazer um álbum, enquanto há um (Serj Tankian, embora seu nome não seja citado nesse momento) que não quer fazer dessa maneira e quer fazer do jeito dele. E nem todos concordam com isso. Esse tem sido o problema.”

Diante disso, Tankian publicou uma longa resposta em carta na internet. O vocalista reforçou que foi ele mesmo o responsável pelo hiato da banda e justificou com questões artísticas (“sempre tive a sensação que continuar fazendo a mesma coisa com as mesmas pessoas é artisticamente redundante”) e democráticas (“Daron passou a monopolizar o processo criativo e financeiro, sem contar que ele yrqueria ser o único a aparecer na mídia”). Ele alegou ter pedido mais espaço no grupo, mas acabou não sendo atendido.

Igor Miranda

Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.