Cantor tentava emplacar uma composição sem ainda contar com grupo que leva seu sobrenome – e saía enviando fitas com notas escritas à mão
Publicado em 01/11/2024, às 08h00
O álbum de estreia homônimo do Bon Jovi foi disponibilizado em 1984, mas desde 1980 o vocalista Jon Bon Jovi já tentava emplacar o primeiro hit da banda. Pode parecer confuso, mas essa foi a história da formação do grupo, que exigiu muita persistência e resiliência do então jovem cantor.
Desde 1975, Jon — que ainda assinava com o sobrenome Bongiovi — buscava uma carreira na música. Ele já tinha cantado em algumas bandas e feito participações em gravações de outros artistas. Há registros de que o artista, em 1980, conseguiu reunir alguns músicos de sessão no estúdio de seu primo, Tony Bongiovi, para gravar uma demo, intitulada “Runaway”.
Essa primeira versão chegou a tocar em rádios locais e obteve algum pequeno sucesso, mas Jon não conseguia o sonhado contrato com uma gravadora. A demo foi refeita em 1982, agora com músicos de estúdio mais experientes: o guitarrista Tim Pierce, o tecladista Roy Bittan (E Street Band), o baterista Frankie LaRocka e o baixista Hugh McDonald, ironicamente um futuro membro do Bon Jovi.
Ainda sem resposta dos selos, o cantor optou por uma estratégia desesperada, que ele relatou em entrevista para a Virgin Radio UK (via site Igor Miranda). A lógica de Jon, segundo o próprio, foi a seguinte:
Era 1982. Eu havia composto ‘Runaway’. Não conseguia um contrato de gravação. Não conseguia nem uma banda porque, você sabe, bandas de música autoral não ganhavam dinheiro. Então, penso comigo mesmo: ‘quem é o homem mais solitário no mundo da música?’. O DJ. E havia uma estação de rádio novinha em folha em Nova York. Era tão nova que não tinham recepcionista.”
A rádio em questão era a WAPP-FM – atualmente WKTU – e o tal “DJ solitário” se chamava Chip Hobart. Jon foi até ele:
Bati no vidro, ele saiu e disse: ‘espere até eu sair do ar’. Eu disse: ‘tenho uma música, você deveria ouvir’. Então ele ouviu após o programa e disse: ‘isso é um hit’. E eu disse: ‘eu sei, só que ninguém mais acha isso’. Então eles colocaram na rádio em Nova York e foi assim que consegui um contrato lá em 1983.”
É claro que o cantor resumiu bastante a história. Entre a conversa com Hobart e o primeiro contrato, o embrião do Bon Jovi venceu ainda um concurso da própria rádio que escolheria a melhor banda autoral local. Aí sim, em 1983, finalmente as coisas começaram a acontecer.
Com o sucesso de “Runaway” no rádio, Jon começou a recrutar músicos fixos para o novo projeto. O primeiro da lista foi David Bryan, que ele conhecia desde os 16 anos e com quem já havia tocado. O tecladista, por sua vez, indicou a “cozinha” da banda Phantom’s Opera, formada pelo baixista Alec John Such e o baterista Tico Torres (também integrante do Franke and the Knockouts).
Na guitarra, o primeiro nome chamado foi Dave Sabo, amigo e vizinho de Jon. O guitarrista, apelidado “The Snake”, formaria o Skid Row nos anos seguintes. A vaga ficou mesmo com Richie Sambora, músico local com certa experiência: indicado por Such (com quem esteve no projeto Message) e Torres, ele já tinha excursionado com Joe Cocker e feito um teste para o Kiss.
Com essa formação, o Bon Jovi lançou seu primeiro álbum, homônimo, em 1984. “Runaway” foi o primeiro e principal single do disco e alcançou um impressionante top 40 nos charts americanos.
Em entrevista recente para a Classic Rock, Jon Bon Jovi relembrou a dificuldade que teve em emplacar a música, mas hoje o vocalista tem uma visão muito mais ampla do processo. Ele disse:
Não obtive resposta de ninguém. Mas, em retrospecto, será que (a música) chegou à mesa de alguém? Será que ela conseguiu sair da sala de correspondências? Eu nunca vou saber. Eu a mandava para todas as gravadoras com uma nota escrita à mão, porque esse era o único jeito que eu conhecia de chegar até eles. Não era como se alguém que eu conhecia em New Jersey conhecesse o presidente de uma gravadora.”
A partir do primeiro álbum, as coisas se tornaram menos difíceis para o Bon Jovi. Enquanto ainda promovia o disco de estreia, a banda abriu turnês do Scorpions nos Estados Unidos e do Kiss na Europa.
No ano seguinte, o grupo lançou seu segundo trabalho, 7800° Fahrenheit, e participou do festival Monsters of Rock, onde tocou ao lado de Metallica, ZZ Top, Marillion, Ratt e Magnum. Com o terceiro disco, Slippery When Wet (1986), veio a consagração. E então eles não saíram mais do topo.
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Colaborou: André Luiz Fernandes.
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.