Cantor pop foi guiado por estudos de composição realizados enquanto ainda era um garoto ao fazer o disco mais vendido da história
Publicado em 05/02/2023, às 10h42
Não foi por acaso que Thriller se tornou o disco mais vendido de todos os tempos. Lançado em 29 de novembro de 1982, o sexto trabalho solo de Michael Jackson apresentou uma nova forma de se fazer música pop. Seja pelos videoclipes superproduzidos, pela estética sonora que vai do post-disco ao rock em um estalo, pela produção bem amarrada de Quincy Jones ou pelo talento incontestável do artista principal, muitos méritos podem ser listados para justificar as 70 milhões de cópias que teria vendido, segundo estimativas.
Um desses trunfos está em algo que parece óbvio, mas nem sempre se aplica em um álbum: as músicas são boas. Todas elas.
Naquela época, muitos artistas pop que lançavam discos se preocupavam em fazer apenas algumas boas canções para lançar como singles e jogar para as rádios, preenchendo o restante do material com o que se chama lá fora de filler, mas aqui pode ser definido como faixas para encher linguiça. Em Thriller, as nove músicas inseridas têm valor - não à toa, sete delas foram disponibilizadas em formato promocional. A façanha atingida aqui é tamanha que uma parceria com Paul McCartney (“The Girl is Mine”) nem é a obra mais famosa do registro.
Seria um acidente do acaso? Michael, à época com 24 anos, simplesmente deu sorte? Não parece ser o caso, conforme o próprio já revelou em uma entrevista concedida à revista Ebony no ano de 2007 (via IgorMiranda). O chamado “rei do pop” queria fazer de Thriller um álbum somente com boas canções. E, curiosamente, ele foi influenciado pela música clássica - em especial Piotr Ilitch Tchaikovski, lendário compositor russo do século XIX.
“Desde que eu era uma criança pequena, eu estudava composição. E foi Tchaikovsky que mais me influenciou. Se você pega a suíte ‘O Quebra-Nozes’, toda música é matadora, cada uma delas. Então eu disse para mim mesmo: como que não pode haver um álbum pop onde todas as músicas são boas?”
Ao lembrar-se das obras que estudou quando garoto, Michael Jackson teve a ideia de fazer um disco pop sem músicas descartáveis. Todas elas deveriam ser boas. Tal conceito já até havia sido trabalhado em outros gêneros, mas não de forma tão ampla quanto em Thriller.
“Pessoas costumavam fazer álbuns onde você tinha uma música boa e o resto era tipo lado B. Chamavam de ‘músicas de álbum’ – e eu falava para mim mesmo: como que não dá para fazer cada uma das canções um hit? Por que não dá para todas as músicas serem tão boas a ponto de pessoas quererem comprá-las se saíssem como singles? Então eu sempre almejei isso. Esse era meu propósito pro próximo disco.”
A saber, as sete músicas de Thriller lançadas como singles foram, na ordem: “The Girl is Mine”, “Billie Jean”, “Beat It”, “Wanna Be Startin’ Somethin’”, “Human Nature”, “P.Y.T. (Pretty Young Thing)” e a faixa-título. Somente “Baby Be Mine” e “The Lady in My Life” não foram disponibilizadas em formato promocional. E não foi por falta de qualidade.
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.