LISTA

David Johansen: as 12 músicas essenciais do artista, dos New York Dolls a Buster Poindexter

Do punk com o New York Dolls à sua carreira solo e ao alter ego Buster Poindexter

Aline Carlin Cordaro (@linecarlin)

Publicado em 01/03/2025, às 20h30
As músicas essenciais de David Johansen abordam todas as fases de sua carreira, começando com o New York Dolls até seu trabalho solo e seu alter ego Buster Poindexter. - Roberta Bayley/Redferns/Getty Images
As músicas essenciais de David Johansen abordam todas as fases de sua carreira, começando com o New York Dolls até seu trabalho solo e seu alter ego Buster Poindexter. - Roberta Bayley/Redferns/Getty Images

David Johansen, que faleceu nesta sexta-feira, 28 de fevereiro, aos 75 anos, ajudou a criar a trilha sonora do glam-punk como vocalista do inovador New York Dolls. Músicas como "Personality Crisis" e "Trash" influenciaram inúmeras bandas, de Aerosmith a Guns N' Roses, garantindo à banda um lugar na história do rock. Mas sua jornada musical não parou por aí: após o fim dos Dolls, Johansen construiu uma carreira solo e assumiu o alter ego Buster Poindexter, explorando sonoridades diversas. Do New York Dolls a Buster Poindexter, essas são as músicas essenciais do carismático cantor.


"Personality Crisis" - New York Dolls (1973)


"Éramos muito crus", Johansen relembrou sobre seu tempo no New York Dolls. "Realmente confrontávamos o público: 'Ei, seus bastardos idiotas. Levantem-se e dancem'."

Nenhuma música capturou melhor a essência do glam R&B da banda do que "Personality Crisis", faixa de abertura do álbum de estreia de 1973. Produzida por Todd Rundgren em uma sessão de oito dias, a faixa trazia a sonoridade caótica e provocativa da banda.


"Jet Boy" - New York Dolls (1973)

O segundo single do New York Dolls, "Jet Boy", se destacou como a última faixa do álbum de estreia, encerrando a estreia estrondosa da banda no rock & roll. A canção conta a história de um garoto em um jato que voa por Nova York roubando bebês, criando um delírio febril ambientado nas ruas sujas da cidade.

O jornalista da Rolling Stone, Tony Glover, descreveu a música como "Marvel Comics encontra o Lower East Side". A apresentação da banda no programa britânico Old Grey Whistle Test causou polêmica, levando o apresentador Bob Harris a descrever o grupo como "rock de mentira", o que provocou uma reação fervorosa de fãs, incluindo um jovem Morrissey, que mais tarde se tornou presidente do fã clube da banda.


"Looking for a Kiss" - New York Dolls (1973)

O destaque de "Looking for a Kiss" não está apenas no jeito debochado com que Johansen canta a introdução inspirada nas Shangri-Las, transformando um verso romântico em algo mais sombrio. Tampouco está na pegada das guitarras de Johnny Thunders e Sylvain Sylvain, que impulsionam a canção como se fosse um desfile de salto plataforma pela St. Marks Place.

O que torna essa faixa especial é a intimidade de sua letra: Johansen canta diretamente para o ouvinte, sem especificar se está falando com um garoto, uma garota ou até mesmo com a própria heroína.


"Trash" - New York Dolls (1973)

Johansen disse a Terry Gross da NPR: "Ao longo dos anos, nos livros de história do rock, como a Rolling Stone Complete Encyclopedia of Rock & Roll, sempre nos descrevem como trashy, espalhafatosos, viciados em drogas, drag queens." Esse espírito do New York Dolls está encapsulado em "Trash", o lado B de "Personality Crisis" e a primeira faixa do lado dois do álbum de estreia da banda. Com sua batida inspirada em Bo Diddley, guitarras caóticas e backing vocals desordenados, "Trash" sintetizou o melhor do grupo em três minutos.


"Human Being" - New York Dolls (1974)

O New York Dolls queria trabalhar com Jerry Leiber e Mike Stoller, mas acabaram gravando seu segundo álbum, Too Much Too Soon, de 1974, com Shadow Morton, produtor das Shangri-Las. O disco misturava covers e composições originais, culminando em "Human Being", um dos maiores hinos punk de todos os tempos. A faixa é uma declaração de rebeldia glam-punk, com Johansen entoando: "Se estou agindo como um rei, é porque sou um ser humano".


"Build Me Up Buttercup" - The David Johansen Group (1978)

Desde seus primeiros anos em bandas de bar no Greenwich Village, Johansen sempre demonstrou um gosto apurado para covers. O público teve um vislumbre disso em seu medley com "We Gotta Get Out of This Place", "Don’t Bring Me Down" e "It’s My Life", dos Animals, que se tornou um pequeno sucesso para ele no início dos anos 1980.

Mas foi sua versão de "Build Me Up Buttercup", originalmente gravada pela banda britânica de soul The Foundations, que realmente mostrou sua habilidade em reinventar um clássico. Jogando-se completamente na faixa, Johansen trouxe um desespero apaixonado que a versão original apenas sugeria, enquanto sua banda acompanhava cada grama de sua intensidade. A melhor versão está no álbum Live at the Bottom Line.


"Funky But Chic" - solo (1978)

Em 1978, Johansen lançou seu grande álbum solo de estreia, ajustando o som dos New York Dolls para um rock dos anos 1970 com a ajuda de um grande elenco de músicos de apoio, incluindo Sylvain Sylvain, Joe Perry do Aerosmith, e Sarah Dash do Labelle. O single principal foi "Funky But Chic", uma sobra dos Dolls escrita por Johansen com Sylvain. A canção é ousada, barulhenta, divertida, autoconfiante, funky e chique ao mesmo tempo, com Johansen gritando um tributo ao seu próprio estilo outsider.

"Tenho um par de sapatos que juro que alguém me deu / Minha mãe acha que pareço meio afeminado, mas de jeans eu me sinto rock'n'roll", ele canta.

Ele faz parecer que se sentir "fruity and rockin'" é o segredo da vida.


"Girls" - solo (1978)

"Girls, I like 'em seizing the power / with girls, it takes me more than an hour", canta Johansen neste destaque de seu álbum solo de 1978, uma declaração muito ao estilo dele. O resto da música segue essa mesma linha, com a banda entregando um rock de bar bem estruturado, enquanto Johansen se aprofunda na performance, gritando e berrando de um jeito que soa como se fosse um clássico perdido dos Dolls.


"Here Comes the Night" - solo (1981)

A faixa-título do terceiro álbum solo de Johansen é uma declaração vibrante e empolgante sobre tomar posse da noite que se aproxima. Nesta canção, isso significa ter um amor, uma festa e algumas horas em que "tudo está bem". Johansen se juntou a Blondie Chaplin, um dos grandes colaboradores dos Beach Boys, para encontrar um estilo de produção dinâmico e ininterrupto (Chaplin também compôs a música), misturando suas raízes punk dos New York Dolls com os sons mais polidos dos anos 1980. O resultado é uma linha de continuidade entre seus dois mundos musicais.


"Hot Hot Hot" - Buster Poindexter (1987)

Johansen elevou seu perfil (e seu cabelo) com a persona extravagante de cantor de lounge Buster Poindexter. "Eu posso fazer o que quiser como Buster", ele disse a Conan O'Brien em 1995, e se tornou uma figura popular da era da MTV com sua versão de "Hot Hot Hot" e seu videoclipe festivo.

Originalmente composta e gravada pelo artista de calypso Arrow, a versão de Johansen ampliou a atmosfera tropical e exagerou o estilo cafona, garantindo tanto um hit quanto uma marca registrada inescapável. "Essa foi, tipo, a maldição da minha existência", Johansen disse à NPR em 2004. "Era onipresente... tocava em casamentos, bar mitzvahs, Six Flags."


"Poorest People" - Buster Poindexter (1989)

Tendemos a associar Buster Poindexter a músicas festivas e cheias de pompa, mas Buster também tinha um lado mais melancólico que surgia de vez em quando. Não há exemplo melhor do que essa faixa triste e com influências latinas do segundo álbum de Buster, Buster Goes Berserk.

Escrita pelo saxofonista e membro da banda Tom Brown, a música soa como um grande clássico perdido de Doc Pomus, com um Buster introspectivo deixando de lado sua faceta teatral para lamentar ser "uma das pessoas mais pobres / Que não está apaixonada por alguém que ama".

Foi o próprio Buster Poindexter enfrentando sua crise de identidade, e um dos momentos mais impactantes da carreira de Johansen.


"We're All in Love" - New York Dolls (2006)

Johansen estava com pouco mais de 50 anos quando os New York Dolls se reuniram, contra todas as expectativas, para o álbum One Day It Will Please Us to Remember Even This de 2006. Mas sua energia juvenil permaneceu evidente em faixas como este hino glam vibrante.

"Pulando pelo palco como garotas adolescentes / Jogando pérolas aos porcos", Johansen canta com entusiasmo, como se a festa dos Dolls nos anos 1970 nunca tivesse acabado. "Não mexa com a gente, o que as pessoas dizem / Elas vão trabalhar, nós vamos brincar!".

Em uma entrevista de 2007, Johansen afirmou que essa letra resumia sua filosofia de vida: "Se fosse um trabalho, eu nem quereria fazer. O que nos manteve vivos e nos trouxe até aqui foi a diversão. É realmente incrível estar em uma banda onde todos tocam pelo simples prazer de ouvir o som que queremos criar".


Essa matéria é uma tradução da Rolling Stone americana, publicada em 1º de março de 2025. Leia a versão original aqui.