Deezer recebe cerca de 50 mil músicas totalmente geradas por IA por dia
Plataforma francesa alerta para explosão de conteúdo sintético nos serviços de streaming e questiona impacto sobre artistas humanos
Kadu Soares (@soareskaa)
A plataforma de streaming Deezer relatou que atualmente recebe cerca de 50 mil faixas “100% geradas por inteligência artificial” a cada dia, aproximadamente 34% de todos os uploads diários.
Apesar desse volume massivo, essas músicas geradas por IA respondem por apenas 0,5% de todas as reproduções na plataforma. Além disso, até 70% dos streams dessas faixas foram identificados como possivelmente fraudulentos, gerados por bots ou sistemas automatizados.
Uma outra pesquisa, também realizada pela Deezer, junto com o instituto Ipsos, com nove mil pessoas em oito países, mostrou que 97% dos ouvintes não conseguem distinguir músicas criadas por IA de músicas compostas por humanos.
A combinação entre volume, indetectabilidade e baixo engajamento humano acende um alerta. Segundo a plataforma, grande parte desse conteúdo não se baseia em expressão artística, mas em “upload em massa para gerar royalties”.
“A Deezer tem liderado o caminho na criação de soluções para transparência e minimização do impacto negativo do conteúdo totalmente gerado por IA que inunda o streaming de música”, afirmou o CEO Alexis Lanternier.
Como a Deezer e outras plataformas estão lidando com o problema
A Deezer foi pioneira ao implementar um sistema próprio de detecção de faixas totalmente geradas por IA, com pedidos de patente em dezembro de 2024. A plataforma passou a excluir essas músicas de suas recomendações algorítmicas e playlists editoriais, tornando-as visíveis, mas com menor exposição.
Além disso, a plataforma rotulou explicitamente álbuns ou faixas com “conteúdo 100% IA”. Essa política de transparência tem apoio de cerca de 80% dos usuários, que exigem saber se estão ouvindo música humana ou gerada artificialmente.
Outros serviços de streaming também tomaram medidas. O Spotify afirmou ter removido mais de 75 milhões de faixas consideradas “spam” ou de baixa qualidade, grande parte relacionada a uploads automatizados, e revisou políticas sobre conteúdo de IA.
No entanto, especialistas alertam que a detecção acontece em ritmo de reação. Conforme modelos de geração mudam, as ferramentas precisam se atualizar. O estudo da Deezer aponta que a criação de conteúdo sintético praticamente zerou o custo de produção, tornando a escala um grande desafio.
Enquanto isso, a indústria debate se haverá remuneração diferenciada para músicas geradas por IA ou filtragem mais agressiva, algo que pode redefinir o modelo de negócios dos serviços de streaming e a forma como artistas humanos são remunerados.
+++LEIA MAIS: Anúncios do ICE estão por toda parte nos seus serviços de streaming favoritos
+++LEIA MAIS: Spotify anuncia parceria com ChatGPT para recomendações musicais