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Música / ENTREVISTA

Do coração partido ao luxo: WIU explora novas facetas em Vagabundo de Luxo

Na continuação ‘representativa’ e ‘simbólica’ do álbum de estreia, Manual de Como Amar Errado (2022), WIU traz letras e sonoridades mais maduras

WIU (Foto: @brunogordilho)
WIU (Foto: @brunogordilho)

Após cantar de coração partido e desacreditar amor no disco de estreia, intitulado Manual de Como Amar Errado (2022), WIU mostrou uma faceta mais calorosa, com letras mais irreverentes e um eu-lírico mais confiante em Vagabundo de Luxo, lançado em 10 de julho de 2024 nas plataformas de streaming.

Apesar de muito jovem, Vinicius William Sales de Lima possui uma carreira de muito sucesso aos 22 anos. Não apenas um compositor e cantor, mas o artista também produz as próprias músicas e trabalhos de outros artistas, como Máquina do Tempo (2020), um dos discos mais importantes do trap brasileiro, de Matuê.

Parte do catálogo de artistas do selo 30Praum, fundado por Matuê e pela empresária Clara Mendes, WIU sempre teve um contato eclético com a música, presente desde a infância em Fortaleza, capital do Ceará. A principal influência é o irmão Kelvin, nove anos mais velho, que sempre tocou violão e gostou muito de música nacional, como Fresno, NX Zero e Pitty.

No entanto, tudo mudou quando um Vinicius William conheceu o rap. 

Apesar do vasto conhecimento do irmão mais velho com música, foi um tio de WIU que apresentou, de fato, a cultura hip hop para ele. O parente tinha um sistema de som muito alto na casa dele, onde ouvia bastante Racionais MC's e Detentos do RAP, assim como outros sons, como Charlie Brown Jr. Nessa época, ele ainda consumia gêneros musicais variados, entre MPB, rock, funk, reggae, etc. Ou seja, cresceu no meio de muita música nacional.

Com o tempo, WIU se mudou de bairro e foi para Planalto Ayrton Senna, onde começou a conhecer mais do rap. “Troquei de escola, conheci uma molecada diferente, fui fazendo amizade,” relembrou durante entrevista à Rolling Stone Brasil. “Os moleques mais velhos rimavam e faziam rimas no intervalo. Quis fazer igual e ser o melhor naquilo.”

O rap foi uma paixão imediata, e o cantor até sonhava em ganhar o duelo nacional de MCs de Belo Horizonte. Com o tempo, ele começou a buscar novas sonoridades, um fruto que colhe nas músicas, discos e EPs, com hip hop, brega, reggaeton, love song, piseiro, entre outros ritmos.

Amo todos os gêneros. Escuto muito muita coisa. Hoje em dia o que eu estou mais escutando é reggae.

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O Menino Que Amava Demais virou Vagabundo de Luxo

Como WIU explicou, Vagabundo de Luxo é uma continuação “simbólica” e “muito representativa” de Manual de Como Amar Errado, mas “não tão direta.” Na capa do primeiro álbum, vemos o cantor caracterizado como o personagem O Menino Que Amava Demais, que não tem coração no peito.

Na “sequência,” ele encontrou a solução para os próprios problemas preenchendo a falta de amor com outras relações. Por exemplo, por isso ele está repleto de beijos na capa, além da forte presença da cor vermelha, que significa paixão, energia e excitação.

“Ele viveu muita coisa e agora todo mundo quer um pedaço do Vagabundo de Luxo,” afirmou WIU à Rolling Stone Brasil. “Ele continua sendo o mesmo moleque vagabundo e pivete de Fortal, mas agora ele vive um mundo de luxo e aprende a lidar com isso e como isso o afeta, não só em como ele se vê perante o mundo, mas como ele se vê perante ao amor, também.”

Já as 13 faixas presentes na tracklist da novidade são praticamente nômades. O rapper possui uma espécie de estúdio móvel, e sempre leva equipamentos de gravação na estrada. Ele faz música em literalmente qualquer lugar. Por exemplo, tem canção feita em estúdio, em casa, etc.

Tem música que foi feita há vários anos… outra feita um mês antes do álbum. Então temos muita coisa, muita bagagem, muita coisa que vivi, muita coisa que aprendi e vi.

WIU utilizou deste espaço amplo para falar sobre diversos assuntos, não apenas sobre amor, dinheiro ou trap. Ele quer colocar um sorriso no rosto de quem escuta ao som, assim como a galera dançar nas pistas das baladas e festas.

WIU na capa de Vagabundo de Luxo
WIU na capa de Vagabundo de Luxo (Foto: Luq Dias)

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Mas, afinal, o que seria um Vagabundo de Luxo?

Segundo o Dicionário Vinicius William Sales de Lima, o Vagabundo de Luxo habita entre pessoas de luxo, em lugares onde as pessoas acham que não era para ele estar, mas “ele continua sendo o espírito 100% vagabundo.”

Moleque de quebrada que morava lá no Planalto Ayrton Senna, lá nos fundos de Fortaleza, que via rap na rua, na caixinha de som e usava o muro da Febem no final da rua como se fosse um gol para jogar bola, que soltava pipa. Continua sendo o mesmo moleque, fazendo as mesmas rimas, divertindo-se o mesmo, só que agora parece que todo mundo quer um pedaço dele, como se ele fosse um artigo de luxo.

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Uma sonoridade além do trap

Normalmente, artistas e bandas costumam explorar e misturar outros gêneros musicais com um longo tempo de carreira. No entanto, WIU sempre lançou canções que bebem de diversas influências fonográficas, assim como foi a relação com as músicas mostradas pelo irmão e tio.

Inclusive, “Rainha da Finesse,” uma das melhores músicas de Vagabundo de Luxo, começa com um trap para ter uma virada muito interessante para o forró. Essa decisão foi tomada por conta das versões que artistas do gênero fazem de canções que fazem sucesso.

“Amo forró, curto muito. Lá nos rolês de Fortal é uma das coisas que mais toca, música de banda,” disse WIU. “E aí eu falei: ‘Pô, mas os caras vão querer regravar, né? E se fizer antes?’ Peguei a música, que estava completa, e a parti ao meio. É muito doido porque, obviamente, não tenho bateria em casa, nem sei tocar bateria.”

Apesar de ser produtor, o rapper contou com uma ajuda importante para a faixa: uma sessão de gravação do baterista de Natanzinho. Então, ele fez a base do instrumento em cima disso ao emular um instrumento tocado ao vivo.

Produzir outros gêneros é muito tranquilo. Sou um produtor que nunca teve preconceito. Meu irmão foi meu maior influencer do que escuto. Ele escutava tudo. Com ele, aprendi a apreciar a vibe de cada coisa. Não tenho preconceito com nenhum gênero musical ou tipo de escrita.

Para WIU, música não possui uma fórmula. É como se fosse um quebra-cabeça, que cada vez você monta de um jeito diferente, gerando uma imagem diferente em cada situação: “Então você pode brincar com espécies de qualquer jeito.”

“Você pode misturar a ordem dos ingredientes da maneira que você quiser, porque sempre vai sair algo novo. Sinto muito prazer nisso, sou muito sinestésico,” complementou. “Enxergo muitas cores nos sons que faço. Brinco muito com as texturas. Sinto muito prazer nisso. Então, brinco que é como se eu tivesse confeccionando uma droga no estúdio.”

WIU se firma como uma das principais vozes da nova geração do trap, mostrando que, seja em rimas sobre amor ou ostentação, ele domina com autenticidade e criatividade. O futuro é promissor para esse Vagabundo de Luxo.

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