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Documentário de Elis & Tom mostra como um álbum ‘improvável’ mostra o poder da música e arte, diz diretor

Diretor de Elis e Tom, Só Tinha de Ser com Você, Roberto de Oliveira falou com a Rolling Stone Brasil sobre a importância do disco e produção do filme

Felipe Grutter (@felipegrutter)
por Felipe Grutter (@felipegrutter)
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Publicado em 29/09/2023, às 16h55 - Atualizado em 03/10/2023, às 13h10

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Elis e Tom, Só Tinha de Ser com Você (Foto: Divulgação)
Elis e Tom, Só Tinha de Ser com Você (Foto: Divulgação)

Quase 50 anos atrás, a música brasileira (quiçá do mundo) mudaria para sempre. Dois artistas completamente diferentes, mas igualmente talentosos, partiriam para Los Angeles, Estados Unidos, gravar um dos discos de estúdio mais importantes da história: Elis & Tom. Inclusive, o documentário Elis e Tom, Só Tinha de Ser com Você mostra os bastidores dessa parceria icônica entre Elis Regina e Tom Jobim.

Dirigido por Roberto de Oliveira, a produção chegou aos cinemas no dia 21 de setembro de 2023 e segue em cartaz nos cinemas brasileiros. O documentário acompanha o contexto históricos da dupla de artistas, assim como conflitos e amizade entre eles para realizarem Elis & Tom, lançado em 1974.

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Capa de Elis & Tom (Foto: Divulgação)
Capa de Elis & Tom (Foto: Divulgação)

Durante entrevista à Rolling Stone Brasil, o cineasta, que estava presente nas gravações em Los Angeles, relembrou as dificuldades para iniciar o filme. Além da logística de brasileiros irem até um estúdio filmarem o processo criativo de um álbum, existiam outros fatores que complicavam.

"O encontro da Elis e do Tom tinha alguns precedentes que complicavam um pouco a situação. Colocavam os dois em posições antagônicas. Um pouco a timidez da Elis em relação ao Tom, que já era um cara muito consagrado, e ela ficava um pouco intimidada na frente dele," afirmou.

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Na época, Antonio Carlos Jobim tinha 47 anos e era tido como grande responsável pela bossa nova e até tinha feito parcerias com os maiores músicos do planeta na época, como Frank Sinatra. Já Elis Regina estava prestes a completar 29 anos e estava nos anos iniciais de carreira, mas já havia impressionado e conquistado o Brasil inteiro - e até existia uma pressão para ela ter uma carreira internacional, algo que nunca se concretizou.

Também tinha problema de um mal-entendido no Brasil, um comentário de que o Tom teria recusado a Elis num teste. A princípio começou um pouco com o conflito, com um pouco de dificuldade, mas, logo na hora que eles entraram no estúdio, o milagre da música aconteceu e tudo começou a ficar muito bonito, muito bom.

Segundo Oliveira, Elis e Tom, Só Tinha de Ser com Você mostra como "a criação musical, a obra de arte, tem um poder de aproximar inclusive os contrários. Naquele momento era um pouco o caso deles.
Mas foi um pouco difícil para fazer, mas valeu a pena."

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A equipe de filmagens tinha um certo empecilho dentro do estúdio. Além do espaço não estar preparado para receber uma equipe de cinema, as pessoas atrás das câmeras não podiam fazer nenhum ruído enquanto os microfones estavam ligados.

"Mas isso foi legal que a câmera ficou assim, meio clandestina e proibida ali dentro. Então as imagens ficaram bacanas, bonitas e eles também ficaram muito à vontade," explicou o diretor. "Eles não percebiam muito a presença do filme."

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Elis e Tom, Só Tinha de Ser com Você é para todos os públicos

A linguagem do documentário é bastante ampla e explica bastante sobre quem eram Elis Regina e Tom Jobim, seja antes ou depois das gravações e lançamento do disco deles. "Eu não fiquei pensando numa obra saudosista, mas pensando em novos públicos," comentou Roberto de Oliveira.

"Então por isso o filme começa com uma retrospectiva dos dois, a carreira dos dois, para qualquer pessoa que não tenha convivido com ele entender quem são esses artistas, a importância deles. Falo logo da morte da Elis, que eu acho que é o grande paradoxo dessa história," continuou.

Quer dizer, uma cantora tão importante, cantando tão bonito, pessoa linda com sucesso enorme, que foi embora com 36 anos. O Brasil tá chocado até hoje com isso.

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Não apenas isso, também existe a questão da música em si, de qual tipo de canções faziam na época, e quem eram esses artistas. "Tem várias histórias que permeiam junto do encontro e vão abrir possibilidades para discussões, outros comentários e para a pessoa refletir um pouco sobre o filme."

Pôster de Elis e Tom, Só Tinha de Ser com Você
Pôster de Elis e Tom, Só Tinha de Ser com Você (Foto: Divulgação/O2 Play)

Por que a 'demora' para lançar o documentário, 50 anos após o lançamento de Elis & Tom?

Como Roberto de Oliveira explicou à Rolling Stone Brasil, era preciso ter muito cuidado com as filmagens de um encontro histórico. Ele sabia que o tempo faria bem para Elis e Tom, Só Tinha de Ser com Você. Vale lembrar como o disco é bastante aclamado, tanto fora quanto dentro do Brasil.

Esse tempo que levou para montar permitiu enxergar melhor de uma maneira privilegiada essa história. Ficou mais fácil de passar para o cinema, já estava tudo meio resolvido. Eu não sei se eu fizesse esse filme alguns poucos anos depois do disco ficaria tão legal como ficou agora, pelo menos pra mim ele ficou muito completo.

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Um dos principais pontos de apoio do diretor e da equipe de produção do longa foi a família dos dois artistas. Nas gravações do álbum, em 1974, estavam presentes Elizabeth "Beth" Jobim e João Marcello Bôscoli.

"As famílias sempre apoiaram, sempre gostaram, agora estão adorando o filme, estão curtindo porque é uma oportunidade de ver os pais, a mãe do João e o pai da Beth, num tempo que eles não lembram direito, então eles se emocionam muito," disse. "Não criaram problema. Pelo contrário, ajudaram bastante a produção do filme."

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Não apenas para mostrar como se fazia música nos anos 1970 e antes disso, Elis e Tom, Só Tinha de Ser com Você é "muito importante para a cultura brasileira," segundo Oliveira. Como ele opinou, o documentário é um registro para as pessoas hoje, para os jovens e quem está consumindo música agora, perceber a diferença (nem para o pior, ou melhor) que existe na indústria fonográfica do passado e do presente.

Para Roberto de Oliveira, música atualmente é mais utilitária para você professar uma fé, convocar as pessoas para uma ideia, agregar e festejar. Já naquela época, era feita mais voltada para construção de uma obra de arte.

Essa mudança é interessante. A canção como existia naquela época não existe mais. Ela mudou. Então eu acho que esse disco tem muita coisa a ensinar, mostrar e esclarecer.

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