NOVOS HORIZONTES

Dona Onete e AQNO exploram regionalismo em novo single: "União de dois sabores"

“Jambu no Cuxá” nasceu de um encontro gastronômico entre o Pará e o Maranhão, explicam os artistas à Rolling Stone Brasil

Redação

Publicado em 14/02/2025, às 15h28
Dona Onete e AQNO (Foto: Vitória Leona)
Dona Onete e AQNO (Foto: Vitória Leona)

No single “Jambu no Cuxá”, o cantor e compositor AQNOe a Rainha do Carimbó Chamegado Dona Onete vão além da música. A faixa, que chegou às plataformas neste dia 14 de fevereiro, nasce do abraço entre diferentes paisagens sonoras do Pará, costurando referências e expandindo horizontes. 

Aos 36 anos, AQNO traz referências que ampliam o conceito de música regional, fruto da proximidade entre a terra onde vive, o sudeste do Pará, e o estado do Maranhão. Já Dona Onete, no auge dos 85, carrega a força ancestral de quem ajudou a construir esse universo. Juntos, criaram uma música que mostra como é diversa e pulsante a cultura desse estado que tem dimensões de um país.  

Parceria com os produtores Sandoval Filho e Felipe Cordeiro, “Jambu no Cuxá” vem acompanhada de um vídeo documental e traz elementos de carimbó com texturas de pop eletrônico, refletindo uma troca de gerações repleta de generosidade, aprendizados e reciprocidade.

O projeto tem como fio condutor um encontro gastronômico inusitado entre os estados irmãos que se conectam por uma linha de trem que liga Marabá - cidade do sudeste paraense, onde AQNO viveu a maior parte de sua vida - a São Luís, capital do Maranhão. 

A familiaridade do artista com a cultura vizinha, tão presente no seu dia a dia, foi o que o inspirou a unir o paraense jambu à receita maranhense cuxá em um carimbó dançante e sedutor, pensado especialmente para Dona Onete

"Acredito que Dona Onete é uma figura que está num lugar muito familiar e carinhoso pro paraense de um modo geral, é como se cada um que a ouvisse aqui se sentisse um pouco filho ou neto dela, mesmo que nunca tenha tido a chance de papear com ela e lhe dar um cheiro. Ao mesmo tempo, ela ocupa um lugar sagrado, uma divindade da nossa música", explica o artista.

Entendo esse feat como a benção maior que eu podia ter da nossa rainha e estar com ela, trocando musicalmente dessa vez, de artista pra artista, foi surreal — essa mulher que tanto me ensina quando eu estou atento ouvindo suas histórias, de repente está ali atenta aprendendo uma música minha, preocupada com todos os detalhes, porque ela sabe a preciosidade que é contar histórias através de canções", contou AQNO à Rolling Stone Brasil.

Renovação

“Jambu no Cuxá” marca um novo momento na carreira do artista e surge como um abre-alas para os novos projetos que pretende explorar. A parceria com uma das maiores referências da música paraense celebra e consagra os caminhos percorridos pelo cantor. 

Dona Onete é pura poesia, resistência e irreverência e eu não tenho palavras pra expressar a felicidade de colocar esse single no mundo. Meu sentimento junto a ela é sempre de observação e aprendizado. Uma mulher de 85 anos com tanta história pra contar, com tanta lucidez, como se tivesse vivido tudo ontem. Isso só me faz pensar em como eu quero estar se for me dada a graça de viver tanto assim”.
Dona Onete e AQNO (Foto: Vitória Leona)
Dona Onete e AQNO (Foto: Vitória Leona)

A Rainha do Carimbó Chamegado aproveitou a experiência e exaltou a troca entre gerações. "Quando o AQNO me chamou pra cantar essa música, eu disse: ‘Menino, será que eu dou conta?’. Mas eu fui, do meu jeito. A gente tem um carinho grande um pelo outro, e essa troca de gerações é uma coisa linda. A música ficou um espetáculo, do jeitinho dele e do meu. No final, a gente ouviu junto e pensou: ‘Pronto, o arroz de cuxá tá feito e o tremor do jambu tá garantido!’", revelou.

É assim, uma união de dois sabores. E deu certo. E sempre que me pedem, eu faço. Gosto muito de ajudar, assim como me ajudaram. Eu não cheguei aqui sozinha. Tive muita ajuda, muitas pessoas que me ajudaram a subir. Então, se eu puder dar uma forcinha para alguém, Dona Onete está aqui. Nunca digo não", disse a artista à Rolling Stone Brasil.

Ela também falou sobre esse encontro gastronômico que conduz projeto: "A gente tem muito em comum, né? No Maranhão, a vinagreira é muito importante, eles fazem o arroz de cuxá, que tem um azedinho gostoso. Aqui no Pará, usamos vinagreira misturada com jerimum, quiabo, machiche, sempre no peixe salgado. O jambu era a mesma coisa, só servia pra tacacá e pato no tucupi, ninguém usava as flores.”

O potencial dessa troca foi transformado também em música em uma mistura que junta duas riquezas regionais e ganha ainda mais sabor.

“Eu e os produtores Sandoval Filho (São Luís - MA) e Felipe Cordeiro (Belém - PA) tivemos a missão de pensar esse encontro de gerações da música paraense, sintetizar isso num som que referencia o legado de Dona Onete e também trazer a textura pop eletrônica que é um dos tripés desse meu novo trabalho — esse carimbó ‘estilizado’ que, com certeza, não vai deixar ninguém parado”, observa AQNO.

“Jambu no Cuxá” foi selecionado pelo edital Natura Musical, através da Lei Semear, Fundação Cultural do Pará e Governo do Estado do Pará. No Estado, a plataforma já ofereceu recursos para mais de 80 projetos até 2022, em diferentes formatos e estágios de carreira, como Dona Onete, Raidol, Nic Dias e os festivais Mana, Lambateria e Psica.

+++LEIA MAIS: Dona Onete lança versão em vinil de seu álbum Bagaceira