ICEMAN

Drake explica nova estratégia de lançamentos em entrevista

Rapper aposta em transmissões ao vivo com narrativa ficcional, novos singles e participação direta de fãs para fugir do lançamento tradicional

Kadu Soares (@soareskaa)

Drake
Foto: Carmen Mandato/Getty Images

Drake decidiu romper de vez com a fórmula clássica de divulgação de álbuns, aquela sequência de single, clipe e entrevista que ele considera “redundante”. Para lançar Iceman, seu nono disco de estúdio, o rapper criou uma série de transmissões ao vivo no YouTube que misturam videoclipe, performance, narrativa teatral e improviso, marcando um dos lançamentos mais ousados de sua carreira.

O projeto nasceu do desejo de enfrentar um desafio real e da vontade antiga de atuar. Segundo o artista em entrevista para a revista Complex, o cenário atual da música estava “calmo demais”, sem ninguém “sacudindo o barco”. As transmissões ao vivo surgiram como a chance perfeita de correr riscos enquanto apresentava músicas inéditas e construía uma história em tempo real, com direito a personagens misteriosos e participações de nomes como Central Cee e Yeat.

O primeiro episódio, exibido em julho, já deixou claro que Drake não estava interessado em segurança. A transmissão ao vivo começou com imagens estáticas de um galpão de gelo em Toronto e, minutos depois, se transformou em um clipe ao vivo com bloco de armas, coreografia improvisada e a estreia da faixa “What Did I Miss?”. Na sequência, o rapper dirigiu um caminhão pela cidade enquanto fãs correram para encontrá-lo, reagindo ao artista como se fossem o “chat” da transmissão materializado nas ruas.

A operação técnica, porém, foi tão arriscada quanto a proposta artística. Parte da equipe revelou que a transmissão ao vivo quase não aconteceu por falhas constantes de sinal durante os ensaios, e que Drake chegou a adiar a estreia em um dia, decisão que lhe custou o primeiro lugar nas paradas, mas garantiu que tudo funcionasse. A partir do segundo episódio, gravado já em turnê, as transmissões passaram a ser feitas sem permissão, resultando em perdas de câmera, rotas improvisadas e transmissões que começavam de madrugada por causa do fuso horário.

Com três episódios exibidos e um enredo cada vez mais comentado nas redes, Iceman transformou o lançamento de um álbum em um experimento audiovisual ambicioso, que combina performance, caos, suspense e interação direta com o público — tudo conduzido ao vivo, sem margem para correções.

Tudo em jogo

A escolha por um lançamento arriscado e imprevisível não acontece em um vácuo. Drake chega a Iceman depois de um dos anos mais desgastantes de sua trajetória, marcado por desgaste público, disputas judiciais e a derrota moral mais comentada do hip hop recente: a guerra lírica contra Kendrick Lamar. A troca de músicas de ataque, que tomou conta de 2024, terminou com consenso entre fãs, críticos e parte da indústria de que Kendrick venceu o embate, deixando fissuras na imagem de invencibilidade que Drake cultivou por mais de uma década.

Além disso, o rapper enfrentou críticas internas da própria cena, ataques nas redes sociais e tensões crescentes com sua gravadora — que resultaram em uma disputa judicial que ainda ecoa nos bastidores. Some-se a isso o desgaste natural de uma carreira de quase 20 anos, com sucessos constantes, turnês gigantescas e uma cobrança permanente por reinvenção. Para Drake, Iceman não é só mais um álbum: é uma chance de recuperar narrativa, reposicionar a própria figura e provar, para o público e para si mesmo, que ainda existe risco, emoção e imprevisibilidade em sua arte.

Por isso, apostar tudo em transmissões ao vivo cinematográficas, sem margem para erro, dialoga diretamente com esse momento. A série de transmissões funciona como um recado — e uma resposta. Em vez de recuar após críticas e desgaste, Drake escolhe expor-se mais, dobrar a aposta e transformar vulnerabilidade em espetáculo. Iceman é, de certa forma, Drake tentando romper a inércia de um ano difícil e mostrar que ainda está disposto a arriscar o que outros artistas, acomodados no próprio legado, nem sequer tentariam.

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Kadu Soares é formando em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, passa o dia consumindo música, esportes, filmes e séries. Possui um perfil no TikTok e um blog no Substack, onde faz reviews de projetos musicais.
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