Dona de uma das turnês de maior sucesso de 2022, Duda prepara o terceiro álbum, feat com Pabllo Vittar e outros projetos, ainda com dificuldade em certos espaços
Desde que saiu em turnê, em dezembro de 2021, Duda Beatnão parou. Levou seu show de norte a sul e além-mar: passou pela Europa e confirmou Rock in Rio. E é assim, da estrada, que a cantora começa a enxergar no horizonte seu terceiro disco. Programado para 2023, o sucessor de Te Amo Lá Fora(2021), é feito em alguns raros momentos de silêncio, onde a recifense para de ouvir o mundo para ouvir a si própria:
"Quando eu tô pra fazer disco, nesse mês, nesse momento em que tô escrevendo meu terceiro disco, não escuto muita coisa. Porque acabo me influenciando por melodias. Minhas canções nascem de dentro pra fora, então procuro não ouvir as coisas que tão rolando para não me influenciar muito", reflete Duda em entrevista à Rolling Stone Brasil.
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"É uma coisa muito louca. Acho que nos momentos que eu tô mais relax as coisas vêm. Por isso que é muito importante o ócio criativo."
Fala de ócio a artista que esgota shows por onde passa, lota festivais, participa de TV e ainda planeja parcerias - como a com Pabllo Vittar, anunciada pelo dupla há tempos. Com uma das agendas mais cheias do pop brasileiro, ela admite ainda encontrar resistência em rádios da região Sudeste.
"Falaram que minha música tem 'elementos demais'. Eu não sei o que isso significa [risos]", diverte-se.
É sobre o terceiro disco, sobre os projetos futuros, sobre a turnê de sucesso e sobre a resistência a sua música em alguns espaços que Duda conversou com a Rolling Stone Brasil. Confira o vídeo completo abaixo e, depois, os destaques de nosso papo com a cantora.
No nordeste eu sei que eu toco. No sudeste ainda existe essa resistência. Todas as negativas que recebi em rádios do sudeste é porque falaram que minha música tem 'elementos demais'. Eu não sei o que isso significa [risos], porque é uma música brasileira, né?! Eu faço uma música popular brasileira, uma música pop brasileira. Então não consigo entender se é uma resistência deles em apresentar o novo...
Eu nasci na década de 80 e sou de um tempo onde a rádio apresentava música para as pessoas. Hoje em dia eu vejo muito ali uma replicação do que tá rolando. Mas seria tão legal se de repente eles pudessem por uma hora mostrar coisas novas que tão acontecendo, sabe? A audiência não ia cair por causa disso, qualquer pessoa ia poder descobrir uma música nova. E eu sinto que a rádio tem esse poder, de chegar a lugares onde a TV, a internet às vezes não chega.
Eu adoro ouvir rádio! Ouvi que o Caetano falou esses dias que ouvir rádio é maravilhoso porque você nunca sabe o que vai vir. Então é assim que você descobre músicas novas, sabe? Existe essa magia no rádio, que você nunca sabe a cara de ninguém, mas você escuta, presta atenção. E tá em todos os carros do Brasil, né?! Então eu escuto rádio, acho demais.
Quando a gente era criança não tinha streaming. E quando tocava uma música que ia passar na rádio, a fita já tava pronta, aí a gente ia lá, apertava o play/rec, e era a maneira que a gente tinha de ouvir a música depois, né?! É uma recordação clara! E aí você gravava com a propaganda no meio, ia ouvir depois e tava com a propaganda ali no meio, mas era isso e era maravilhoso.
Eu escuto tanta coisa... tenho ouvido muito agora essa coisa do super pop, do hiper pop, uma coisa mais eletrônica. Isso tem me dado até ideias que quero trazer no disco, misturado com umas coisas que eu ouvi quando era criança. Tem muita coisa aí pra vir.
Ao mesmo tempo quando eu tô pra fazer disco, nesse mês específico, nesse momento que a gente tá vivendo, eu tô escrevendo meu terceiro disco, então eu também não escuto muita coisa. Porque acabo me influenciando por melodias, por coisas, e acho que as minhas canções, tenho certeza, nascem de dentro pra fora, então procuro não ouvir as coisas que tão rolando para não me influenciar muito. Mas vou te falar que no início do ano ouvi muito dessa coisa do super pop, hiper pop, dessa coisa que tem traço de house, se R&B também... misturado com alguma coisa do nodeste também... alguma coisa assim, aquelas coisas que eu faço.
Tá vindo o feat com a Pabllo, que é um feat que a gente já tinha prometido há muito tempo. A gente tava ajustando, pensando como seria essa música, como a gente ia fazer. Mas essa música veio, veio no meu coração, veio no coração dela e dos nossos produtores, então tá uma música muito legal, muito pra cima, muito dançante.
Arte e política tão assim, juntinhas, né minha gente? Ainda mais em um governo onde a cultura foi completamente colocada de lado. As pessoas acham também que fazer show é só um cantor lá e não, gente, é muito emprego, é muita geração de emprego.
A música é um jeito de se expressar politicamente, é uma comunhão muito bonita e não tem como separar, na minha opinião.
Eu sou uma cantora que me posicionei, sempre falei o que eu acho, o que eu penso, porque acho que eu quero ter esse diálogo verdadeiro com meus fãs. Sempre tive essa vontade, sempre fui essa pessoa que defendeu isso. Quero que as pessoas saibam o que elas tão consumindo, acho que isso é ser justo.
Entendo as pessoas que não querem se posicionar, mas eu sou uma pessoa que se posiciona. Fui lá, cantei no jingle da pessoa que achei que tem que estar de volta a governar nosso país, e é isso, acho que sempre tenho que ser honesta e transparente. E quando as pessoas puxam 'Fora Bolsonaro' no meu show, eu nada mais faço do que dar voz a elas, porque é isso. No meu show a gente fala sobre isso também.