Cantora carioca, Ebony conversou com a Rolling Stone Brasil pós-show no CCJ para falar sobre sucesso do disco Terapia e estabelecimento dela na cena
Há exatamente dois meses, Ebony lançava o segundo disco de estúdio da carreira, intitulado Terapia (2023). Desde então, o álbum se tornou um grande sucesso, com 10 milhões de reproduções no Spotify em um mês — isso sem contar o lançamento que movimentou a cena do rap: a diss (termo em inglês que designa uma crítica de um rapper ou grupos de rappers) “Espero Que Entendam.”
No último domingo, 17, a cantora carioca, responsável por músicas como “100 Mili,” “Pensamentos Intrusivos” e “8KG,” realizou show gratuito no Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso (CCJ), em evento da Cultura Hip Hop SP que celebrava 50 anos de hip hop, e conversou com a Rolling Stone Brasil para falar sobre o atual momento da carreira.
Desde o momento no qual Terapia chegou ao mundo, Ebony fez alguns shows com as músicas inéditas e mudanças no setlist, a maioria em festivais. Ela pretende fazer mais shows solo em 2024, para poder dar tempo de maturar o álbum de bastante sucesso.
“Eu tinha depositado muita energia na criação desse disco. Eu esperava que fosse ter um retorno, mas não sabia que seria tão grande, principalmente após o lançamento da diss,” afirmou. “Muito feliz com o resultado, sabe? Incrível! A primeira vez na minha vida que eu bato 10 milhões em um mês e é bizarro, diferente de tudo que tinha acontecido.”
É muito doido ter essa galera que chegou agora, porque é a primeira vez… e aí rola isso, de fãs novos, com uma experiência super legal, porque eles me veem de outra forma. Adoro essa interação das bases de fãs.
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Por volta das 15h (horário de Brasília), Ebony subiu ao palco montado na parte interna do CCJ, com um público principalmente feminino. Para a artista, essa presença das fãs é algo extremamente precioso.
“Sinto-me muito vista e ouvida por elas de uma forma que majoritariamente na vida não fui. São meninas iguais a mim virando para mim falando que me entendem e se sentem entendidas por me entenderem,” explicou. “Isso é muito lindo! Tem nada que pague isso.”
Além disso, Ebony também falou sobre se apresentar na periferia de uma cidade como São Paulo, que muitas vezes não é vista como deveria, com poucas programações culturais promovidas pela prefeitura. Apesar de ser carioca, ela entende as diferenças regionais em São Paulo.
“Ainda não tenho essa noção real do que significa estar da ponte pra cá ou da ponte pra lá, mas entendo, obviamente, músicas e as pessoas colocando também,” disse, “Mas sendo da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, eu sei como é você estar afastado da cultura, e como é essa noção de ser visto quando as pessoas escolhem sua cidade para fazer alguma coisa. Nesse lugar consigo me aproximar bastante.”
Em novembro de 2023, Ebony lançou “Espero Que Entendam,” com produção de LARINHX, com diversas críticas à cena do hip hop no Brasil. Na letra, ela critica a maneira como as pessoas (majoritariamente homens) não valorizam os trabalhos de diversas artistas femininas.
Não apenas isso, mas a cantora ainda aproveita para alfinetar e fazer diversas pessoas com nomes do rap nacional, como BK’, Filipe Ret, L7nnon, Puterrier, Borges, Orochi, Kyan, Baco Exu do Blues e Djonga. Leia um trecho abaixo:
Honestamente eu nem me importo, porque entendo a arte
Mas se eles vão encher meu saco, eu vou tá pontuando [...]
Espero que vocês entendam, vida
Adoro as músicas, mas preciso provar meu ponto
Eu tenho o rosto, tenho o corpo e eu tenho a rima
Sobre a faixa, que conta com mais de 1,4 milhão de visualizações no YouTube, Ebony foi questionada se as pessoas entenderam o ponto dela: “Todo mundo citado na música entendeu o ponto da música, que não é um ataque pessoal, vazio. O ponto de provar que consigo rimar já é provado há muito tempo através do meu trabalho, mas acho que homens perceberem o real valor de mulheres ainda vai demorar um pouco, então esse ponto acho continua em espera, em aguardo, porque é triste.”
Em outro momento da conversa, a rapper citou como o hip hop entrou numa fase de mostrar o verdadeiro potencial, principalmente no quesito feminino, mas ela aproveitou para tecer algumas críticas plausíveis.
“Odeio o fato de verem o hip hop como algo masculino. Odeio o fato de verem como uma subcategoria. Odeio o fato de acharem que a gente não vale a pena de investir milhares de dinheiros, enquanto gêneros como sertanejo e pop recebem,” opinou
O hip hop pode se desprender pra poder virar pop, ele pode virar expressão artística urbana de forma geral. Para as pessoas entenderem isso a gente vai começar a falar de dinheiro de verdade, dinheiro que muda vidas, de casas para nossas mães, entendeu? Porque até hoje eu só vi homens fazerem isso no hip hop, e não é um privilégio deles.
Atualmente, Ebony ainda quer trabalhar bastante as músicas de Terapia, com shows solo e em festivais, além de lançar videoclipes. Alguns meses atrás, ela publicou o plano de lançamento, que incluía uma mixtape em 2024, e ela falou se esse objetivo ainda está de pé.
“A mixtape vem em 2024, assim que eu terminar de trabalhar o Terapia, que vai sair ainda clipe e tudo mais,” afirmou. “Mas é isso, virei com tudo. Pequena Sereia Grandes Negócios!”
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