Após Emidoiña - Alma de Fogo, disco indicado ao Grammy Latino, André Abujamra aposta em mitologia e metáforas em representação audiovisual do projeto
André Abujamra embarcou em um projeto diferente em 2018: ao longo de quatro discos, tinha o objetivo de dialogar com cada elemento da natureza — Água, Ar, Terra e Fogo. Alguns anos e 13 países depois, o artista lançou o álbum Emidoiña - Alma de Fogo em 2020, sobre o poder de destruição e regeneração das chamas. Agora, lançou uma representação audiovisual do trabalho.
A animação acompanha Iskandar, representação do próprio Abujamra, em uma missão para reencontrar o vínculo perdido entre humanidade e natureza. Parte do princípio que o mundo se rebelou contra os seres viventes, pois o Homem deixou o individualismo, a posse, vaidade e desejo dominarem. O filme é, basicamente, uma trajetória de herói: o protagonista atravessa rios, ultrapassa vulcões e enfrenta vilões tenebrosos para trazer de volta aquilo que não morre, o amor.
Abujamra é um homem de muitas profissões. Cantor, maestro, compositor, multi-instrumentista, ator, diretor é, acima de tudo, artista. Consciente para embutir algum aspecto de crítica social ou relação com o cenário presente — na época do lançamento do disco, a pandemia de covid-19 — o criador usou o fogo como metáfora para a doença, aquilo que destrói tudo.
Com desenhos em preto e branco que aparecem na tela no ritmo da música e uma incrível representação visual do som, Emidoiña carrega o público por uma trajetória repleta de simbologias com deuses egípcios e personagens mitológicos. A experiência é uma reflexão sobre de onde viemos e para onde vamos, a relação simbiótica entre vida e morte e como o amor une as pessoas — “ essa é a alma de fogo dos homens que queima e destrói, mas une o planeta,” de acordo com as palavras de Abujamra.
Cada canção conta uma história própria, até chegar à música final, a qual conecta todas com o poder do fogo e da transformação. Mostra diversos alvos em formato de pessoas — da comunidade LGBTQ+, de religiões diferentes, raças e etnias variadas, pessoas com deficiências — e enfatiza como o fogo queima todas elas, sem distinção.
Por fim, Abujamra termina com uma nota otimista, a esperança de um mundo melhor. Tudo fica colorido — pela primeira vez na experiência audiovisual — com o Profeta sinalizando que a Terra agora é habitada pela paz, harmonia, liberdade e respeito. O fogo, portanto, cumpriu seu papel de destruição e regeneração. E a frase inicial do filme (“que todas as dores sejam lavadas pelo mar, que as lágrimas tristes virem pérolas”) finalmente passa a fazer sentido.
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A ideia inicial para Emidoiña era ser apenas um disco e um show, mas o projeto audiovisual se desenvolveu com o tempo, graças ao período de isolamento em consequência da pandemia de covid-19.
Com participações de grandes nomes como Criolo, Zélia Duncan, Chico César e o ator Rodrigo Santoro, o filme em animação produzido pela Openthedoor Studios e dirigido por Luciano Lagares participará do ANIMAGE - Festival Internacional de Animação de Pernambuco e chega às plataformas de streaming NOW, Vivo Play e Looke em 21 de outubro. O disco, por outro lado, foi indicado para o Grammy Latino 2021 na categoria Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa.
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