Lollapalooza: Quem é a Picanha de Chernobill, que se apresenta neste sábado
Banda mistura rock n' roll com influências brasileiras e promoveu mais de mil shows gratuitos em espaços públicos no Brasil e no exterior
Por Rodrigo Tammaro | Edição: Heloísa Lisboa
Publicado em 27/03/2025, às 15h18
Para a banda Picanha de Chernobill, o espírito da música está no contato com as pessoas. Não à toa, o trio formado por Matheus Do Canto (vocais e baixo), Chico Rigo (guitarra e vocais) e Fernando Salsa (percussão) tem no currículo mais de mil apresentações pelas ruas do Brasil e do mundo.
Os grandes palcos também fazem parte da história do grupo formado em 2008 em Porto Alegre. A banda se apresentou no Rock in Rio em 2017 e se prepara para a próxima edição do Lollapalooza, que acontece nesta semana, entre os dias 28 e 30 de março, em São Paulo.
Em conversa com a Rolling Stone Brasil, Picanha de Chernobill falou sobre as expectativas para o show, refletiu sobre a responsabilidade em relação à música brasileira e ressaltou a importância das apresentações nas ruas.
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Picanha nos palcos…
O nome da banda é tão curioso quanto as diferentes explicações que os integrantes dão para o batizado. Na versão de Chico Rigo ao canal Fama e Anonimato, o nome nasceu do apelido dado a um amigo “que tinha as costas largas”. Matheus Do Canto disse em um programa de televisão que é porque o grupo é vegetariano. Já o antigo baterista Leonardo Ratão afirmou em entrevista para a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo que o nome nasceu de uma expressão utilizada no Sul quando algo ruim (Chernobill, uma referência a cidade na Ucrânia famosa pelo acidente nuclear na década de 1980) é resolvido de forma inesperada e boa (picanha).
Costas largas, vegetarianismo ou expressão popular, o fato é que o Lollapalooza terá Picanha de Chernobill. O trio se apresenta no sábado, 29, o segundo dia do festival no Autódromo de Interlagos, em um show no palco Samsung Galaxy a partir do meio-dia.
Para uma banda que esteve no Rock in Rio em 2017, no Grande Prêmio de São Paulo de Fórmula 1 em 2024 e se prepara para a quarta turnê pela Europa, participar de mais um evento de grande magnitude é uma nova oportunidade de alcançar ainda mais pessoas.
"Ao estar no Lolla, nosso trabalho se torna cada vez mais relevante do ponto de vista de levar música autoral para as ruas e conversar diretamente com as pessoas, alcançar todos esses feitos com grande apoio do nosso público. E tocar no Lolla é f*da, a gente realmente pulou de alegria, porque é uma oportunidade que não acontece todo dia", comentou Matheus.
Chico Rigo também lembrou do espírito do festival, popularizado por reunir a cena independente do rock n’ roll. “A gente toca em uma banda de rock. O rock sempre foi revolucionário, um estilo que quebrou barreiras. E a gente tocar nas ruas é uma micro-revolução que a gente faz nas cidades, levando música gratuita para as pessoas. Então, acho que esse encontro chega como algo positivo para nós, mas também para o Lollapalooza Brasil, porque é um encontro de duas instituições revolucionárias, cada uma no seu modo.”
A discografia da Picanha de Chernobill começa em 2009 com um disco homônimo. O segundo trabalho, O Velho e o Bar, saiu em 2011. Em 2016, já estabelecidos em São Paulo, eles lançaram O Conto, a Selva e o Fim. Depois vieram Sobrevive (2019), Água, Fogo, Terra e Ar (2020) e o trabalho mais recente, Pindorama (2024). Em todos os álbuns, o rock n’ roll e o blues dão o tom, mas o trio propõe um olhar cuidadoso para as influências brasileiras na intenção de dar uma cara mais tropical para o som deles.
A gente sempre teve uma obrigação boa de colocar esses elementos da música brasileira, não só nos ritmos, mas também nas letras. Falamos muito sobre o Brasil. Tem bastante baião, referências de maracatu, enfim. São coisas que a gente tenta pôr para não ficar um rock muito estadunidense. A gente sempre quis escrever em português e ter essas referências para deixar o negócio mais colorido, mais solar” — Matheus Do Canto
…e nas ruas
Tocar em grandes festivais é uma oportunidade única, mas a verdadeira realização está nas ruas. “A gente se sente muito livre. Às vezes acontece de a galera dançar com a gente, trocar ideia entre uma música e outra. A gente consegue respirar, consegue curtir. Eu sou apaixonado. Tem as dificuldades, mas é a coisa que a gente mais acertou na vida”, justificou Salsa ao explicar porque o grupo continua com essas apresentações.
Na rua você está em contato direto com as pessoas do Brasil. A gente consegue tocar para todo tipo de pessoa. Nós cansamos de ver moradores de rua colocando uma moedinha no nosso chapéu. Ou ver moradores de rua cantando nossas músicas. A rua faz um bem não só musical, mas pessoal. A gente cresce, evolui como ser humano” — Chico Rigo
Os desafios são diversos e vão de tempestades inesperadas a desentendimentos com as autoridades. Em fevereiro, Picanha de Chernobill foi impedida de tocar na Avenida Paulista. Agentes da prefeitura alegaram que são permitidas apenas apresentações sem estruturas como palcos e com instrumentos acústicos.
No entanto, o decreto municipal que regulamenta a arte de rua não estabelece nenhuma proibição sobre o uso de amplificadores e caixas de som. “Tudo que está na lei a gente cumpre há 11 anos. Não é algo novo para nós. Só que, pela primeira vez na Paulista aos domingos, a banda foi proibida de tocar. Não só nós, como todos que se apresentam e vivem disso”, argumentou o guitarrista.
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Rigo reconheceu que alguns artistas extrapolam os limites, mas ressaltou que as apresentações da banda estão amparadas pela legislação. Ele também esteve em reuniões com a prefeitura para resolver o impasse.
Tocar nas ruas é uma realização para o trio, mas também tem um papel importante para a sobrevivência da Picanha de Chernobill. As apresentações nos espaços públicos funcionam como uma vitrine que rendeu convites como o Rock in Rio e uma participação no filmeAinda Estou Aqui, vencedor do Oscar. Além disso, a rua garante a sustentação financeira com doações e principalmente a venda de produtos como CDs, camisetas, pôsteres, botões e adesivos.
“As pessoas levam um souvenir da banda e, ao mesmo tempo, estão contribuindo financeiramente”, disse Chico. “ A rua é nossa maior fonte de renda dentro da banda. Então, ela não é só opcional, é essencial para a gente poder viver do nosso trabalho enquanto artista, algo que a gente sempre sonhou.”
Seja nas ruas ou nos grandes festivais, Picanha de Chernobill é, acima de tudo, viver do que ama. No Lollapalooza, um evento com grandes nomes da cena internacional como Olivia Rodrigo, Shawn Mendes e Justin Timberlake, o trio reafirma a importância de dar espaço aos artistas brasileiros. "Consumam arte nacional porque o Brasil é um país riquíssimo em cultura, um dos mais incríveis do mundo em arte. Às vezes a gente fica olhando muito para fora e esquece de ver coisas daqui de dentro, que são lindas e tocam profundamento nosso coração e nossas vidas", concluiu o guitarrista.
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