Europe: Joey Tempest fala à RS sobre shows no Brasil, novo álbum, filme e mudanças
Vocalista está ansioso para tocar em Brasília (Arena of Rock) e São Paulo (Monsters of Rock) e antecipa próximos planos da banda sueca
Igor Miranda (@igormirandasite)
Publicado em 27/03/2025, às 08h00
O Europe estará em casa nos seus próximos shows no Brasil. Não apenas pela boa relação com o país — que os receberá pela sexta vez —, como, também, por estar conectado a uma parte considerável das atrações junto das quais dividirá o palco.
No dia 19 de abril, a banda sueca sobe ao palco como uma das atrações do Monsters of Rock, no Allianz Parque, em São Paulo. Scorpions, Judas Priest, Savatage, Queensrÿche, Opeth e Stratovarius completam o lineup. Três dias antes, eles tocam no Arena of Rock, na Arena BRB Mané Garrincha, em Brasília, também com Scorpions e Judas Priest, além de Kisser Clan. Há ingressos à venda nos sites Eventim (SP) e Bilheteria Digital (Brasília).
Em entrevista à Rolling Stone Brasil, o vocalista Joey Tempest explica suas ligações com Scorpions, Judas Priest e Opeth, especificamente. Sobre a primeira banda, talvez a maior representante do rock na história da Alemanha, ele afirma:
“Nos encontramos muitas vezes na estrada, nos conhecemos um pouco. Vimos o Scorpions pela primeira vez quando éramos muito jovens, em 1980. Def Leppard foi a banda de abertura, acho que foi a primeira turnê deles. Foi incrível. Já ouvíamos Scorpions ainda antes, na época de Uli Jon Roth [guitarrista]. Crescemos com eles.”
A respeito do Priest, uma das maiores instituições do heavy metal ainda em atividade, Tempest se empolga — mesmo que o Europe seja mais conhecido pelas melodias fortes do que pelo som pesado. Ele disse:
“Também éramos fãs deles desde cedo. São muito enérgicos, havia muito poder e fortes melodias. Amamos um pouco de melodia, solos de guitarra melódicos, junto do peso. Eles tinham isso. Nunca fizemos turnê com eles, apenas os encontramos ocasionalmente, mas será legal dividir o palco com eles.”
Mas, curiosamente, a ligação mais próxima se dá com o Opeth. Joey praticamente não faz participação em músicas e álbuns de banda alguma, porém, aceitou contribuir com uma das faixas de The Last Will and Testament, novo disco do grupo sueco, notório por sua mescla de rock/metal progressivo e, em alguns momentos, death metal.
“Somos grandes amigos de todos do Opeth. Acabei de ir vê-los no Roundhouse, em Londres. Show incrível. Provavelmente conhecemos as outras bandas do lineup na estrada, mas o Opeth é a banda que conhecemos melhor. Fiz uma participação meio improvisada na música ‘§2’. Foi uma honra. Mikael [Åkerfeldt, vocalista e guitarrista] e eu somos grandes amigos há alguns anos, mas ainda assim fiquei chocado quando ele me pediu para cantar no álbum deles. Foi um privilégio.”
Mas chega de falar dos outros, né? Está na hora de Tempest revelar um pouco do que se pode esperar dos shows do Europe. O cantor — que completa a formação ao lado de John Norum (guitarra), John Levén (baixo), Mic Michaeli (teclado) e Ian Haugland (bateria) — destacou não apenas os hits, como também algumas canções menos lembradas que também podem aparecer no repertório.
“Ainda veremos o setlist quando chegarmos no Brasil, mas tivemos um ótimo ano em 2024 e começamos a adicionar algumas músicas do passado, como ‘On Broken Wings’, algumas vezes, e ‘Stormwind’. Às vezes colocamos essas, pois é meio novo para nós. Alguns fãs realmente adoram. Mas também adoramos tocar ‘Last Look at Eden’, ‘Rock the Night’, ‘Superstitious’, ‘The Final Countdown’ e ‘Scream of Anger’.”

Em setlists recentes, chama atenção a presença de uma quantidade razoável de faixas de Out of This World (1988), primeiro dos dois álbuns do grupo sem Norum, à época substituído por Kee Marcello. Joey garante que o guitarrista de longa data do Europe nunca se opôs a executar canções do período em que esteve fora da formação.
“John pensa na música. ‘Eu gosto da música ou não?’. É sobre isso que falamos quando escolhemos o setlist, não sobre performances individuais. John é ótimo nesse sentido. Tocamos ‘Superstitious’, tocamos ‘Ready or Not’ de vez em quando, tocamos ‘Let the Good Times Rock’ de vez em quando. Obviamente, agora temos 11 álbuns, então é difícil encaixar tantas, mas também gostamos de tocar coisas novas que John ama, além de algumas coisas de Wings of Tomorrow (1984), que ele ama tocar também.”

Próximos planos: álbum e documentário
Faz quase uma década que o Europe não lança um novo álbum. Walk the Earth, o mais recente, saiu em 2017. Mas de acordo com Joey Tempest, a espera está prestes a acabar: o vocalista destaca que a pandemia atrapalhou os planos, mas há material inédito sendo trabalhado por ele e pelos colegas.
“Nunca tivemos uma pausa entre álbuns tão longa como esta. Sempre vamos da turnê para o estúdio e vice-versa. Bag of Bones (2012), War of Kings (2015) e Walk the Earth representa um período muito enérgico em nossas vidas, mas estamos em turnê desde então, sem ir ao estúdio. Começou um pouco devido à covid, mas foi bom para compor, pois pude começar do zero. Havia mais tempo, não precisava voltar para a estrada. Isso torna o novo álbum interessante.”

O frontman chega a dizer que o próximo disco do Europe soa como um “álbum de estreia”, devido ao frescor do material. E atualiza: ele e a banda estão na “metade” do processo.
“Estamos na metade. Estamos enviando demos um para o outro, estamos chegando lá. Já temos algumas ótimas ideias. Estamos planejando entrar em estúdio no outono [primavera no hemisfério sul], o que significa que haverá música no ano que vem. Toda a banda está muito animada. As músicas estão chegando, soa fresco. Tem algumas influências do nosso passado também, mas sempre experimentamos. É a aventura do Europe de sempre.”
Para 2025, o quinteto promete lançar de vez um documentário que está sendo antecipado há dois anos. O vocalista detalha o processo:
“Temos uma equipe conosco há quatro ou cinco anos viajando conosco para documentar o novo Europe. Durante a covid, começamos a pensar: talvez seja hora de fazer um documentário. Pessoas nos pedem isso há anos. Encontramos uma caixa com fitas VHS antigas. Nosso primeiro empresário andava por aí com uma câmera quando éramos garotos. Dizíamos: ‘O que você está fazendo? Pare de filmar’. Mas ele continuou a filmar e há vídeos de quartos de hotel, bastidores, de meados dos anos 1980 até 1992. Há coisas inéditas gravadas no mundo todo.”
A ideia é, segundo o cantor, narrar toda a trajetória do Europe “desde os subúrbios de Estocolmo” até a ascensão mundial, passando também “pela chegada do grunge e um pouco da queda no início dos anos 1990”, além de “toda a reconstrução para onde” a banda está hoje.

Olhar para trás, mas mudar sempre que necessário
Das bandas de hard rock que fizeram sucesso na década de 1980, o Europe está entre aquelas que melhor conseguiram se reinventar. O grupo sueco rompeu em 1992 e retornou em 2003 após uma reunião pontual em 1999. Desde então, os álbuns pós-volta pouco refletem a sonoridade praticada anteriormente: o glam metal com forte carga de teclados deu lugar a um blues rock onde a guitarra está na linha de frente, mas sem deixar os demais instrumentos ofuscados.
Joey Tempest se recorda com carinho da conversa que gerou o retorno definitivo do Europe. O vocalista cita até mesmo o local onde o bate-papo ocorreu:
“Nos encontramos no começo de 2000, no apartamento de Mic Michaeli em Estocolmo. John estava de volta. Dissemos: ‘Vamos fazer uma jornada juntos. Vamos ter uma aventura e explorar sons’. Não estávamos tão interessados em nos repetirmos o tempo todo, como algumas bandas fazem, pois elas têm seus fãs. Não acho que isso seja algo ruim; acho legal, pois os fãs se sentem em casa toda vez que há um novo álbum. Mas pensamos um pouco diferente. Queremos nos animar também. Cada novo álbum é uma nova aventura.”
Na visão do cantor, um grupo ainda mais veterano serve de inspiração: o Deep Purple, que, curiosamente, foi uma das atrações do Monsters of Rock em 2023. A respeito dos colegas ingleses, ele diz:
“Há algumas bandas que fazem isso, mas o Deep Purple sempre foi uma inspiração para nós nesse sentido. Eles também têm reviravoltas sonoras, nós gostamos disso. Isso nos mantém animados. Espero que os fãs também gostem. Obviamente, haverá fãs que querem ouvir a mesma coisa que The Final Countdown (1986) o tempo todo, mas é difícil para nós, não ficaríamos felizes em tentar repetir as coisas. Queremos manter as melodias e nos conectar com o público, mas queremos um novo começo a cada álbum — apesar de que neste próximo disco teremos alguma conexão com o passado.”
Não quer dizer, porém, que Tempest e seus colegas deixem de olhar para trás. O quinteto demonstra respeitar muito o legado construído ao longo de 46 anos de estrada — número que deixa o cantor surpreso, visto que, quando mais jovem, não imaginava ter uma carreira tão duradoura.
“Quando se é mais jovem, pensa-se duas semanas à frente. Hoje, planejamos três a cinco anos à frente, pois o tempo se move diferente agora. Quando se está mais velho, tudo passa mais rápido. Quando jovem, você pensa ser imbatível. Você entra na onda, ainda que às vezes caia dela e leve alguns anos para retornar. 2024, quando fizemos 45 anos, foi muito emocionante. É incrível estar com os mesmos caras que conheci quando tinha 15 anos, os mesmos integrantes. É muito especial. Ainda não conseguimos acreditar que seguimos juntos. As brigas são menores hoje em dia: antes, havia egos e você brigava por coisas pequenas que se tornavam grandes. Hoje sabemos que não faz sentido brigar.”
*O Europe é uma das atrações do Monsters of Rock, em São Paulo, e Arena of Rock, em Brasília. Há ingressos à venda nos sites Eventim (SP) e Bilheteria Digital (Brasília).
Rolling Stone Brasil especial: Iron Maiden
Iron Maiden na capa: a Rolling Stone Brasil lançou uma edição de colecionador inédita para os fãs da banda de heavy metal. Os maiores álbuns, a lista dos shows no Brasil, o poder do merchadising do grupo e até um tour pelo avião da banda você confere no especial impresso, à venda na Loja Perfil.

+++ LEIA MAIS: Andreas Kisser fala à RS sobre Sepultura no Lolla, despedida (em estádio?) e legado
+++ LEIA MAIS: Beat no Brasil: Adrian Belew fala à RS sobre show, supergrupo e King Crimson dos anos 80
+++ LEIA MAIS: Steven Wilson fala à RS sobre The Overview, insignificância humana, prog e Brasil
+++ Siga a Rolling Stone Brasil @rollingstonebrasil no Instagram
+++ Siga o jornalista Igor Miranda @igormirandasite no Instagram