ENTREVISTA

Ezra Collective propõe 'jornada na pista de dança' com novo álbum e promete carnaval em 1º show no Brasil: 'Não será a última vez'

A banda fará show pela primeira vez no Brasil neste sábado, 8, apresentando o álbum 'Dance, No One's Watching'

Heloísa Lisboa (@helocoptero)

Publicado em 07/02/2025, às 14h00
Ezra Collective (Foto: YOUT)
Ezra Collective (Foto: YOUT)

Ezra Collective se apresenta pela primeira vez no Brasil neste sábado, 8. A banda britânica — formada por Femi Koleoso (bateria), TJ Koleoso (baixo), Joe Armon-Jones (teclados), Dylan Jones (trompete) e James Mollison (saxofone) — fará show único no Cine Joia, em São Paulo. 

Não será a estreia de Femi no Brasil. O músico cuidou das baquetas do Gorillaz quando o grupo comandado por Damon Albarn compôs o line-up do MITA Festival, em 2022.

"Gorillaz é uma banda na qual posso aprender coisas. O Ezra é onde coloco essa experiência em prática", disse Femi em entrevista à Rolling Stone Brasil quando perguntado sobre seu trânsito entre os dois projetos. "Eu também cresci amando as músicas do Gorillaz. O Ezra é feito com músicas que escrevemos juntos. Então, os dois são muito preciosos."

Ele continuou: "Damon dirá o mesmo: nada mais especial do que tocar a música que você escreveu". E falando nisso, no Brasil, a setlist do Ezra Collective deve contemplar seu álbum mais recente, Dance, No One's Watching (2024). 

"Sinto que fazer músicas sem letras nos permite ter mais liberdade para contar histórias, porque significa que podem ser interpretadas da forma que for melhor para você. Não são minhas palavras que estão dizendo o que você tem que pensar ou sentir, é apenas música", argumentou Femi.

Para a gente, Dance, No One's Watching é sobre não deixar que a opinião das pessoas ao redor te tirem do seu momento. É a jornada de uma dança, de uma noite fora, uma reunião, colocar o casaco no mancebo, aquele momento quando você sente que poderia ir ao espaço, e aí acendem as luzes e você tem que voltar para casa. É uma jornada na pista de dança condensada em um álbum. 

Por isso, o nome do disco não poderia ser outro. A banda contrariou noções estabelecidas sobre como o jazz deve ser apreciado, propondo que mesas sejam afastadas para que os clubes do gênero se tornem verdadeiros salões de festa. 

"[O título] vem do meu jeito preferido de experimentar a música: na pista de dança", confessou Femi. "Jazz era, originalmente, música para dançar. Não sei por que se tornou algo para ouvir sentado, bebendo vinho. Estou muito feliz por fazer parte de uma banda que agita a pista de dança, é um sentimento especial."

Influências ao redor do mundo

Segundo Koleoso, o disco teve influência da "cultura DJ" e foi gravado a partir da reprodução de uma pista de dança. O grupo reuniu amigos e familiares para participarem do processo: "Às vezes, como DJ, você toca uma música que todos conhecem, às vezes é uma música que ninguém conhece, às vezes você toca uma versão de uma música e aí troca para o remix..."

"Queríamos que o momento continuasse por todo o disco. Na verdade, nós o gravamos ao vivo em frente a pessoas dançando, nossos amigos e famílias, então isso tornou tudo ainda mais real", adicionou. 

Ezra Collective (Foto: Divulgação)

A banda também contou com as experiências vividas em diversas partes do mundo para criar o Dance, No One's Watching. "Passamos um tempo na Ásia e no Japão... Estivemos em todo lugar do mundo. O único lugar onde não estivemos ainda é a América do Sul", lembrou Femi. "Quando estivermos na América do Sul, sentiremos que realmente está tudo completo. Não será nossa última vez aí".

Viajar influenciou muito nossa música. Por isso, é algo muito precioso e especial. Sou muito grato.

O single "Ajala" cristaliza memórias dos viajantes do Ezra Collective e a exaltação da pista de dança por meio de um tributo ao jornalista nigeriano Olabisi Ajala. "Seu nome veio de uma gíria para pessoas que não conseguiam ficar no mesmo lugar", explicou Koleoso.

Ele acrescentou: "Para a gente, pessoas que não conseguem ficar no lugar são dançarinos, então queríamos prestar uma homenagem, não apenas a ele, mas também ao modo como o nome dele foi formado na língua Iorubá".

O início da faixa denuncia a presença de várias pessoas na gravação do disco, como o baterista adiantou. 

"Estávamos gravando em um lugar cheio de pessoas, e foi um daqueles momentos em que ninguém estava aplaudindo. Então, eu gritei: 'Parem, parem todos! Quando começarmos essa música, quero que aplaudam'. Aquilo se tornou tão real, o sentimento era tão real, que decidimos manter no álbum", justificou, mencionando ainda a influência de Marvin Gaye sobre sua música. 

Ezra Collective (Foto: TEMI ADEGBAYIBI)

Os amigos não ficaram restritos aos passos de dança. Dance, No One's Watching tem participações das britânicas Yazmin Lacey e Olivia Dean, da sul-africana Moonchild Sanelly e do ganense M.anifest — "amigos da banda", destacou Koleoso.

"Nós vamos aos shows deles, eles vão aos nossos. Às vezes você termina uma música e ela parece perfeita, mas às vezes precisa de algo a mais. Isso acaba se tornando uma parceria, e foi mais ou menos assim que aconteceu', afirmou. 

Linha de chegada ou ponto de partida?

Where I’m Meant To Be (2022) rendeu a Koleoso e companhia o Mercury Prize, prêmio que elege os melhores álbuns do Reino Unido e Irlanda. Dean, inclusive, também esteve entre os vencedores. 

O momento foi descrito pelo baterista como "maravilhoso", mas ele ponderou: "Ao mesmo tempo, não é tudo. Foi um dia incrível, mas o trabalho começou logo em seguida, sabe? Estou muito orgulhoso de todos nós. Mas há mais orgulho em fazer música que significa algo para as pessoas, que é especial". 

A premiação ocorreu depois que Dance, No One's Watching se concretizou. Por isso, "não havia ansiedade", brincou Femi. "Acho que isso teria nos afetado, teria tornado o processo mais difícil, com certeza. Sou muito grato por termos sido eficientes nesse aspecto."

O que esperar do show no Brasil

Femi Koleoso prometeu um carnaval britânico no palco do Cine Joia: "Daremos tudo de nós. O que vocês fazem no carnaval, nós vamos tentar criar no palco. Vamos aproveitar cada minuto que teremos juntos. Será muito especial". A apresentação também terá inspiração na energia de Albarn, ele garantiu.

O músico confessou que ainda não assistiu a um desfile de carnaval no Brasil, mas afirmou que é um de seus "sonhos". "Assisti a ensaios da Vai Vai, então, espero um dia poder ver tudo tomando vida", pontuou.

Gosto muito de Gilberto Gil, Clara Nunes... O Brasil deu tantas músicas boas ao mundo. A energia, o som, a marcha e a dança do carnaval tiveram grande influência sobre o Ezra Collective. Então, sim, o Brasil é uma grande influência para o Ezra Collective.